No capítulo anterior...
- Lorraine insiste com Bebel para passar uma
temporada em Brasília
- Bebel hesita, mas acaba aceitando o convite
para morar na casa de Lorraine
- O proprietário da lanchonete obriga o
funcionário a pedir desculpas a Bebel
- Lorraine agradece ao homem e orienta Bebel
a sempre exigir respeito
- Célia aborda Joana em frente ao condomínio
e a convida para sair e conversar
CAP. 140
JOANA: Estranho...
Você por aqui?
CÉLIA: Eu
não moro tão longe daqui. Esqueceu?
JOANA: Não,
claro que não... Mas é que você sempre aparece no colégio...
CÉLIA: Mas
o assunto que quero conversar hoje só diz respeito a nós duas e não poderia ser
tratado na frente do colégio, principalmente com a possibilidade da minha filha
aparecer por lá.
JOANA: Nossa!
Que coisa séria é essa? Fiquei curiosa agora.
CÉLIA: Você
saberá na hora certa. Mas, e aí? Vamos?
JOANA: Vamos
nessa (e entra no carro)
Joel aparece na porta do
condomínio para saber notícias de Gilberto.
JOEL: Saí
pra dar uma volta no Parque agora e
resolvi passar aqui pra saber como você tá.
GILBERTO: Tudo
tranquilo e você?
JOEL: E
a mão, como tá?
GILBERTO: Cicatrizando.
Quase não dói mais. Semana que vem vou lá tirar os pontos.
JOEL: E
o safado do Romero, veio aqui pra te enrolar mais uma vez?
GILBERTO: Veio...
JOEL: Aposto
que contou uma historinha da carochinha e você, todo lerdinho, caiu feito um
patinho... Aposto que foi isso, não foi?
GILBERTO: Dessa
vez você errou feio...
JOEL: Mesmo?
O que foi dessa vez, ele contou uma verdade?
GILBERTO: Não.
Continuou contando mentiras e mais mentiras.
JOEL: Isso
eu já sabia. Mas e você, como reagiu?
GILBERTO: Eu
despejei o balaio de mentiras todo na cara dele e desmontei as historinhas
dele, uma por uma.
JOEL
(incrédulo) Mentira! Não acredito que você fez isso...
GILBERTO: Fiz.
Fui encurralando o safado de uma tal maneira que ele foi ficando sem graça, sem
graça até que não resistiu e apelou.
JOEL: Apelou
como assim? Tentou te bater?
GILBERTO: Não.
Falou que não ira ficar aqui ouvindo as minhas acusações absurdas e se mandou.
JOEL: Eu
não acredito. Você teve mesmo coragem de botar o safado pra correr?
GILBERTO: Tive.
Tô te falando... De bobo eu só tenho a cara e o andado. Peão pode até me fazer
de besta, mas depois que eu descobrir, é uma vez só.
JOEL: Nem
tanto, Gilbertina... Nem tanto... O caro fez gato e sapato de você. A Gildete
estava toda melosinha, apaixonada, e a biba deitando e rolando...
GILBERTO: Pois
é, mas é porque eu não tinha certeza e não queria ser injusto com ele. Mas a
partir do momento que tive certeza das cachorradas que ele andava aprontando,
não pensei duas vezes em soltar a peia dele.
JOEL: Agora
você me dá razão? Agora você acredita nas coisas que eu te falei?
GILBERTO: Sim,
eu sou obrigado a reconhecer que você tá coberto de razão.
JOEL: Então,
de agora em diante, abre o teu olho. Nesse meio nosso tem muita gente que só
quer usar o seu corpinho, só quer tirar proveito. Aprenda essa lição: as
pessoas são capazes de tudo, de qualquer coisa, por sexo, dinheiro e poder.
GILBERTO: É,
infelizmente acabei descobrindo da pior maneira possível... Tá aqui a minha mão
que não me deixa mentir...
JOEL: Pois
é... quando a Juju falar alguma coisa, ao invés de dizer que eu sou venenosa,
maldosa, confia na Juju, porque o que você tem de idade, eu tenho de carreira
no meio dessa bicharada...
GILBERTO: Carreira?
Como assim?
JOEL: Modo
de dizer. É que o pessoal diz que bicha não vive, faz carreira. Então, quando
você nasceu eu já tinha estreado na carreira de biba...
GILBERTO: Ai,
como você é bobo...
Célia leva Joana a um
restaurante discreto e pacato, onde podem conversar isoladas sem se
preocuparem.
CÉLIA: Joana,
você deve ter percebido que eu sempre tive um carinho muito grande por você.
JOANA: Sim,
disso eu tenho certeza.
CÉLIA: Também
sempre fiz muito gosto da sua amizade com a minha filha Jussara.
JOANA: Sim,
você me disse isso várias vezes.
CÉLIA: Então,
é uma pena que aquela cabecinha de vento não tenha dado valor a isso e tenha se
deixado levar pelas opiniões infantis das amigas dela. Eu realmente fazia muito
gosto nessa amizade...
JOANA: Eu
não tô entendendo... Todas essas coisas que você tá dizendo eu já sei, aliás,
tô careca de saber... Você tá querendo me dizer alguma outra coisa que eu não
tô captando?
CÉLIA: Então,
é complicado pra mim te dizer isso... Eu não sei com você vai receber... Mas eu
fazia muito gosto na sua amizade com a Jussara porque era uma maneira da gente
conversar mais, se conhecer melhor... Pena que a coisa não saiu como eu
esperava...
JOANA: Eu
continuo não entendendo nada... Dá pra você ser mais direta?
CÉLIA: Não
sei, você é uma menina nova. Mas ao mesmo tempo me passa uma certa segurança,
uma confiança. Por outro lado, posso esta dando um tiro no pé...
JOANA: Eu
não aguento mais esse joguinho de palavras. Dá pra você dizer de uma vez por todas
o que quer dizer? Seja lá o que for, não deve ser tão absurdo assim que eu não
possa compreender...
CÉLIA
(sem cerimônia): Eu sempre fui apaixonada por você, desde o primeiro instante
em que te vi.
Joana fica pasma.
Continua amanhã...
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Você sabia?
No
Brasil, em 1985, o Conselho Federal de Psicologia deixa de considerar a
homossexualidade como um desvio sexual e, em 1999, estabelece regras para a
atuação dos psicólogos em relação à questões de orientação sexual, declarando
que "a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem
perversão" e que os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que
proponham tratamento e cura da homossexualidade.
Para ler os capítulos anteriores, acesse:
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