No capítulo anterior...
- O tenente se irrita com o fato de Bernardo
estar usando calcinha, mas o superior intervém
- Vanilda suspeita da amizade de Joana com
Jussara e sua mãe Célia
- O caminhoneiro faz perguntas a Bebel sobre
sua infância e sua iniciação sexual
- Bernardo é chamado para uma entrevista e o tenente
pergunta se ele quer servir ao Exército
CAP. 124
TENENTE: Vamos,
seu Bernardo! Eu fiz uma pergunta e tô esperando a sua resposta. Eu não tenho o
dia todo aqui por sua conta não. O senhor quer ou não quer servir?
BERNARDO: O
senhor não disse que aí na minha ficha tem uma ordem superior para me
incorporar?
TENENTE: Tem
uma observação aqui. Mas é de praxe saber a sua opinião. Eu preciso anotar
aqui.
BERNARDO: Eu
não tô aqui por vontade própria. Tô aqui por causa da ordem dessa autoridade
aí, o coronel Juarez, o meu pai.
TENENTE
(admirado): Você é filho é do coronel Juarez?
BERNARDO: Sim,
eu sou. Por que a surpresa?
TENENTE: Não,
nada não... Olha, me dá um minutinho que eu preciso ver uma coisa com o meu superior
ali. (e se retira)
O tenente se dirige ao capitão,
conversa, mostra a ficha de Bernardo. Enquanto isso, ele fica apreensivo. O
tenente volta meio constrangido.
TENENTE: Bem
então a sua resposta é essa? O senhor não
quer servir?
BERNARDO
(convicto): Eu não quero e não vou servir. Eu não tenho nada contra o Exército.
Pelo contrário, tenho tudo a favor. Mas eu não quero servir porque isso vai
prejudicar a minha entrada na faculdade.
TENENTE: Tudo
bem. Eu vou escrever aqui na sua ficha que você não quer servir. Mas depois
dessa observação aqui, e sendo o coronel o seu pai, posso te dizer que vai ser
muito difícil você escapar.
BERNARDO: Olha,
o senhor pode até me incorporar, mas vocês vão se arrepender! Depois só vão ter
trabalho pra se livrar de mim.
TENENTE: Como
assim meu jovem? Ficou maluco?
BERNARDO
(perdendo a compostura): O senhor tá vendo? Eu sou gay! Eu sou pintoso! Eu vou
ser uma vergonha pra esse batalhão! Eu vou desmunhecar, eu vou dar pinta
horrores! O Exército nunca teve um soldado tão escrachado quanto eu vou ser!
Caxias vai se revirar no túmulo! Deodoro vai ressuscitar! Eu vou aprontar
horrores aqui dentro! O senhor sabe que viado gosta é de homem, não sabe? Pois
é! Eu vou seduzir esses rapazes todos! (e mostra) Vou fazer putaria horrores
aqui dentro! Vou me tornar uma verdadeira “maria batalhão”. Esse quartel vai
virar uma filial de Sodoma e Gomorra!
O entrevistador fica estático,
sem saber como reagir. Os rapazes começam a rir descontroladamente. O capitão
tem trabalho para impor a ordem e o silêncio.
CAPITÃO
(ríspido, para Bernardo): Meu rapaz, se acalme! Isso aqui não é a sua casa não!
Se contenha! Ninguém aqui tá interessado na sua vida sexual não!
Nisso, o coronel Juarez, pai de
Bernardo, se aproxima e intervém.
JUAREZ: Capitão,
leve o rapaz até a minha sala. Quero ter uma conversa com ele.
CAPITÃO: Sim
senhor, coronel. (para Bernardo) Rapaz, me acompanhe.
Bernardo o acompanha, sempre
olhando atravessado para o pai.
Na estrada, o caminhoneiro
continua interrogando Bebel.
CAMINHONEIRO: Me conta uma coisa: todo cara assim , que se
veste mulher, tem vontade de cortar os “documentos” pra virar mulher de
verdade. Você tem vontade de cortar os seus?
BEBEL: Eu
não! Deus me livre! Sem os meus “documentos” eu não sou nada!
CAMINHONEIRO: Uai, não entendi...
BEBEL: A
maioria dos meus clientes gosta de sair comigo por causa dos meus “documentos”.
Se eu cortar eles eu tô perdida! Eu não ganho mais nem um centavo! Quem pensa
em cortar os “documentos” é transexual. Eu sou travesti.
CAMINHONEIRO: Eu não entendi... Como assim? Não é tudo a
mesma coisa?
BEBEL: Travesti
é uma coisa e transexual é outra. Pra você entender, transexual é uma mulher
que nasceu num corpo de homem, então ela faz a operação pra virar mulher de
verdade. Já o travesti é um homem que gosta de vestir de mulher. Mas na hora do
sexo, ele se satisfaz com os “documentos” que tem. Entendeu?
CAMINHONEIRO: Entendi... Mas, e porque um homem, macho de
verdade, vai querer sair com outro, que tem os mesmos “documentos” que ele?
Isso é que eu não entendo.
BEBEL: Pra
não chamar a atenção, oras. Imagina o cara entrando no motel. Se entrar dois
homens, todo mundo vai pensar que eles são viados. Agora, se o cara entra com
uma travesti, quem ver de longe vai pensar que ele tá entrando com uma mulher.
Não levanta suspeita...
CAMINHONEIRO: Eu nunca tinha pensado nisso... Mas continua
sendo dois homens...
BEBEL: Aí
é que tá! A maioria dos caras que saem com travestis são gays, gostam é de
homem mesmo. Na maioria das vezes a travesti faz o papel do homem na transa. E
os caras, que gostam de parecer machos, viram verdadeiras donzelas na cama...
CAMINHONEIRO: Mesmo? Tô besta com isso...
BEBEL: É
a mais pura verdade... Pode perguntar pra qualquer travesti que você encontrar.
Aposto que elas vão te dizer a mesma coisa...
O caminhoneiro fica admirado.
De volta ao quartel, Bernardo e
o capitão aguardam no gabinete do comandante. Logo em seguida o coronel entra,
visivelmente irritado.
JUAREZ: Capitão,
pode ir. A minha conversa agora é com esse rapaz.
Continua amanhã...
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Você sabia?
Em
pesquisa realizada no Brasil em 2008 os dados indicam que 10% dos homens e 5,2%
das mulheres com idade entre 15 e 64 anos já tiveram uma relação homossexual na
vida, totalizando uma média geral de 7,6%. No mesmo estudo, entre a população
mais jovem, com idade entre 15 e 24 anos a média encontrada foi de 8,7%
enquanto entre a população mais idosa, com idade de 50 a 64 anos, a média
obtida foi de 5,6%. Apesar desse item específico da pesquisa ser bastante
genérico, questionando apenas se o entrevistado teve ao menos uma "Relação
sexual com pessoa do mesmo sexo na vida", o contraste entre as médias
obtidas por faixa etária mostram que os brasileiros mais jovens estão se
relacionando mais de forma homossexual e criando novos grupos LGBT do que no
passado.
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