5 de abril de 2012

GLS TEEN - CAP. 124



No capítulo anterior...
- O tenente se irrita com o fato de Bernardo estar usando calcinha, mas o superior intervém
- Vanilda suspeita da amizade de Joana com Jussara e sua mãe Célia
- O caminhoneiro faz perguntas a Bebel sobre sua infância e sua iniciação sexual
- Bernardo é chamado para uma entrevista e o tenente pergunta se ele quer servir ao Exército

CAP. 124

TENENTE: Vamos, seu Bernardo! Eu fiz uma pergunta e tô esperando a sua resposta. Eu não tenho o dia todo aqui por sua conta não. O senhor quer ou não quer servir?
BERNARDO: O senhor não disse que aí na minha ficha tem uma ordem superior para me incorporar?
TENENTE: Tem uma observação aqui. Mas é de praxe saber a sua opinião. Eu preciso anotar aqui.
BERNARDO: Eu não tô aqui por vontade própria. Tô aqui por causa da ordem dessa autoridade aí, o coronel Juarez, o meu pai.
TENENTE (admirado): Você é filho é do coronel Juarez?
BERNARDO: Sim, eu sou. Por que a surpresa?
TENENTE: Não, nada não... Olha, me dá um minutinho que eu preciso ver uma coisa com o meu superior ali. (e se retira)

O tenente se dirige ao capitão, conversa, mostra a ficha de Bernardo. Enquanto isso, ele fica apreensivo. O tenente volta meio constrangido.

TENENTE: Bem então a sua resposta é essa?  O senhor não quer servir?
BERNARDO (convicto): Eu não quero e não vou servir. Eu não tenho nada contra o Exército. Pelo contrário, tenho tudo a favor. Mas eu não quero servir porque isso vai prejudicar a minha entrada na faculdade.
TENENTE: Tudo bem. Eu vou escrever aqui na sua ficha que você não quer servir. Mas depois dessa observação aqui, e sendo o coronel o seu pai, posso te dizer que vai ser muito difícil você escapar.
BERNARDO: Olha, o senhor pode até me incorporar, mas vocês vão se arrepender! Depois só vão ter trabalho pra se livrar de mim.
TENENTE: Como assim meu jovem? Ficou maluco?
BERNARDO (perdendo a compostura): O senhor tá vendo? Eu sou gay! Eu sou pintoso! Eu vou ser uma vergonha pra esse batalhão! Eu vou desmunhecar, eu vou dar pinta horrores! O Exército nunca teve um soldado tão escrachado quanto eu vou ser! Caxias vai se revirar no túmulo! Deodoro vai ressuscitar! Eu vou aprontar horrores aqui dentro! O senhor sabe que viado gosta é de homem, não sabe? Pois é! Eu vou seduzir esses rapazes todos! (e mostra) Vou fazer putaria horrores aqui dentro! Vou me tornar uma verdadeira “maria batalhão”. Esse quartel vai virar uma filial de Sodoma e Gomorra!

O entrevistador fica estático, sem saber como reagir. Os rapazes começam a rir descontroladamente. O capitão tem trabalho para impor a ordem e o silêncio.

CAPITÃO (ríspido, para Bernardo): Meu rapaz, se acalme! Isso aqui não é a sua casa não! Se contenha! Ninguém aqui tá interessado na sua vida sexual não!

Nisso, o coronel Juarez, pai de Bernardo, se aproxima e intervém.

JUAREZ: Capitão, leve o rapaz até a minha sala. Quero ter uma conversa com ele.
CAPITÃO: Sim senhor, coronel. (para Bernardo) Rapaz, me acompanhe.

Bernardo o acompanha, sempre olhando atravessado para o pai.

Na estrada, o caminhoneiro continua interrogando Bebel.

CAMINHONEIRO: Me conta uma coisa: todo cara assim , que se veste mulher, tem vontade de cortar os “documentos” pra virar mulher de verdade. Você tem vontade de cortar os seus?
BEBEL: Eu não! Deus me livre! Sem os meus “documentos” eu não sou nada!
CAMINHONEIRO: Uai, não entendi...
BEBEL: A maioria dos meus clientes gosta de sair comigo por causa dos meus “documentos”. Se eu cortar eles eu tô perdida! Eu não ganho mais nem um centavo! Quem pensa em cortar os “documentos” é transexual. Eu sou travesti.
CAMINHONEIRO: Eu não entendi... Como assim? Não é tudo a mesma coisa?
BEBEL: Travesti é uma coisa e transexual é outra. Pra você entender, transexual é uma mulher que nasceu num corpo de homem, então ela faz a operação pra virar mulher de verdade. Já o travesti é um homem que gosta de vestir de mulher. Mas na hora do sexo, ele se satisfaz com os “documentos” que tem. Entendeu?
CAMINHONEIRO: Entendi... Mas, e porque um homem, macho de verdade, vai querer sair com outro, que tem os mesmos “documentos” que ele? Isso é que eu não entendo.
BEBEL: Pra não chamar a atenção, oras. Imagina o cara entrando no motel. Se entrar dois homens, todo mundo vai pensar que eles são viados. Agora, se o cara entra com uma travesti, quem ver de longe vai pensar que ele tá entrando com uma mulher. Não levanta suspeita...
CAMINHONEIRO: Eu nunca tinha pensado nisso... Mas continua sendo dois homens...
BEBEL: Aí é que tá! A maioria dos caras que saem com travestis são gays, gostam é de homem mesmo. Na maioria das vezes a travesti faz o papel do homem na transa. E os caras, que gostam de parecer machos, viram verdadeiras donzelas na cama...
CAMINHONEIRO: Mesmo? Tô besta com isso...
BEBEL: É a mais pura verdade... Pode perguntar pra qualquer travesti que você encontrar. Aposto que elas vão te dizer a mesma coisa...

O caminhoneiro fica admirado.

De volta ao quartel, Bernardo e o capitão aguardam no gabinete do comandante. Logo em seguida o coronel entra, visivelmente irritado.

JUAREZ: Capitão, pode ir. A minha conversa agora é com esse rapaz.

Continua amanhã...


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Você sabia?

Em pesquisa realizada no Brasil em 2008 os dados indicam que 10% dos homens e 5,2% das mulheres com idade entre 15 e 64 anos já tiveram uma relação homossexual na vida, totalizando uma média geral de 7,6%. No mesmo estudo, entre a população mais jovem, com idade entre 15 e 24 anos a média encontrada foi de 8,7% enquanto entre a população mais idosa, com idade de 50 a 64 anos, a média obtida foi de 5,6%. Apesar desse item específico da pesquisa ser bastante genérico, questionando apenas se o entrevistado teve ao menos uma "Relação sexual com pessoa do mesmo sexo na vida", o contraste entre as médias obtidas por faixa etária mostram que os brasileiros mais jovens estão se relacionando mais de forma homossexual e criando novos grupos LGBT do que no passado.

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