No capítulo anterior...
- Gilberto estranha a presença de Wellington
no motel, mas depois acaba se acostumando com a ideia
- O médico constata que o problema de Bebel é
mesmo um mal súbito causado pelo uso de anticoncepcionais
- O médico e Lorraine aconselham Bebel a não
fazer uso indiscriminado de tais medicamentos
- Gilberto, Reynaldo e Wellington resolvem
esticar a noite na boate
- Joselito vê Joana entrando no carro de sua
mãe na porta do colégio e fica intrigado
CAP. 178
No carro...
CÉLIA: Como
a minha gata passou daquele dia?
JOANA: Bem,
mas seu Tatão tá na minha cola. Tive que falar que você era a mulher do dono da
loja.
CÉLIA: Sua
patroa do shopping?
JOANA: Sim.
Das próximas vezes vamos ter de ficar mais atentas ao relógio.
CÉLIA: Verdade.
Aquele dia a gente passou da conta. Lá em casa também teve o maior
arranca-rabo.
JOANA: Mesmo?
O que houve?
CÉLIA: O
Diógenes veio tirar satisfação comigo e acabamos discutindo. Falei pra ele que
tô cansada desse casamento e que só não pulei fora ainda porque ele insiste em
manter esse casamento de fachada.
JOANA: Nossa!
Então o bicho pegou geral mesmo?
CÉLIA: Se
pegou! Quer saber de uma coisa? Eu tô de saco cheio de tudo isso. Não vejo a
hora de me livrar dessa situação. Nosso casamento acabou faz tempo, mas ele
insiste que temos de ficar juntos por causa das crianças. Crianças... Nossos
filhos são quase adultos já... Só a Janistélia que é adolescente. O Joselito e
a Jussara já são adultos, são perfeitamente capazes de entender que nosso
casamento já acabou há muito tempo.
JOANA: Complicada
essa situação...
CÉLIA: Na
verdade eu já entendi: ele fica usando os filhos para me prender, entende? Mas
eu vou te dizer uma coisa: a hora que eu perder a paciência, eu chuto o balde
de uma vez.
Nisso Joselito se aproxima do
carro.
JOSELITO: Mãe,
que bom que a senhora ainda tá aqui. Esqueci meu livro de Biologia no banco de
trás.
JOANA
(sem graça): Melhor eu ir andando. Minha aula já deve ter começado. Até mais
dona Célia.
CÉLIA: Até
mais Joana. Recomendações à sua mãe.
Joana se retira.
JOSELITO: Mãe,
essa não é aquela menina que a Jussara detesta? O que ela tá fazendo aqui no
carro?
CÉLIA: A
gente tava conversando. Eu e a mãe dela somos muito amigas. Tava apenas
perguntando por ela...
JOSELITO: Ah
sim. Fui! (pega o livro e sai)
ALGUNS DIAS DEPOIS...
Reynaldo e Gilberto se dirigem
para a Parada Gay na Avenida Paulista. Na altura da Avenida da Consolação Reynaldo guarda o carro em um
estacionamento e dali seguem à pé.
Na esquina da Consolação com a Paulista, Reynaldo faz questão de mostrar um prédio para Gilberto.
REYNALDO: Tá
vendo aquele prédio ali? É a boate Nostro
Mondo (Nosso Mundo). É a boate gay mais antiga do Brasil. Existe desde os
anos setenta. Ali tem ótimos shows de drag
queen. Qualquer dia desses vamos lá pra você conhecer.
GILBERTO: Um
dia eu fui no show da Lorraine, uma transexual que mora naquele prédio que eu
trabalhava em Brasília. Eu achei muito engraçado.
REYNALDO: É,
mas ali na Nostro não é aquele
showzinho que a drag dubla duas ou
três músicas e vai embora não. Os shows ali duram uma hora e meia, duas
horas... Apresentam oito ou dez drags
em um único show. Tem muitos heteros, muitos casais que nem são gays, mas vão
ali somente pra assistir aos shows...
GILBERTO: Puxa!
Deve ser muito interessante mesmo
REYNALDO: Eu
fiz questão de chegar cedo, caminharmos pela avenida, porque quero te mostrar
alguns prédios, te contar algumas histórias da cidade. Porque a hora que isso
aqui encher de gente, daí não dá pra ver mais nada...
GILBERTO: Você
gosta muito dessa cidade. Parece que sabe tudo daqui, da história...
REYNALDO: Ah
sim. Eu sou apaixonado por São Paulo. Amo essa cidade coração. Se quiser brigar
comigo é só falar mal da minha cidade.
A movimentação de pessoas já é
intensa na Avenida, principalmente em volta dos trios elétricos que fazem o
ajuste dos equipamentos de som. Gilberto se deslumbra com os altos edifícios.
Diante de um deles, Reynaldo para e explica:
REYNALDO: Esse
prédio serviu de cenário para a novela “Rainha da Sucata”. Lembra quando a
personagem de Aracy Balabanian, a dona Armênia, dizia que ia “jogar a predinho
na chom”? Era esse prédio aí.
GILBERTO: Sim,
eu lembro. Eu não era nem nascido quando passou essa novela, mas já vi a dona
Armênia no “Vídeo Show”...
REYNALDO: Foi
dá também que no final da novela a vilã Laurinha Figueiroa, que era
interpretada por Glória Menezes, se jogou e se matou.
GILBERTO: Nossa!
Mas ela se jogou mesmo?
REYNALDO (aos
risos): Não, claro que não! Aquilo era um efeito especial e foi feito por uma
dublê. Olhe a altura desse prédio. Mesmo um profissional morreria se pulasse lá
de cima...
GILBERTO: Entendi...
Ainda bem que você tem paciência de me explicar todas essas coisas. Se fosse
outro já tava de saco cheio de um bobão feito eu...
REYNALDO: É
por isso que você me encanta. Sua simplicidade, seu deslumbramento diante do
novo, diante do mundo, é algo encantador. Você não imagina o prazer que me dá
te mostrar todas essas coisas. Se eu fosse mostrar pra outro, ele já estaria
careca de saber, então não teria a menor graça... Mas ver esses seus olhinhos
brilhando diante de cada novidade só faz com que eu goste cada vez mais de
você. E só me dá mais vontade de te dar um beijo gay, no meio de toda essa
multidão! (e o beija com paixão)
Continua amanhã...
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Você sabia?
Ainda em
2006, a Associação Americana de Psicologia, Associação Americana de Psiquiatria e a Associação Nacional de Assistentes Sociais
concluíram: "Não há base científica para a distinção entre casais do mesmo
sexo e casais heterossexuais no que diz respeito aos direitos legais,
obrigações, vantagens e encargos conferidos pelo casamento civil."
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