No capítulo anterior...
- Juarez discute com Bernardo e o proíbe de
se encontrar com Pâmela
- D. Almenara obriga Joana a ir até a igreja.
Joana fica irritada
- Colegas criticam a proximidade de Gilberto
com Dadinho e acreditam num romance
- Joaquim chega ao posto para fazer programas
e é surpreendido por sua mãe
CAP. 63
JOAQUIM: Mãe,
o que a senhora tá fazendo aqui?
HELENA: Eu
te vim te procurar meu filho. Como você sumiu de casa e nunca mais deu
satisfação, o único jeito foi vir atrás pra saber como você tá.
Helena fica olhando para
Joaquim com ar de admiração e reprovação, afinal de contas nunca o tinha visto
travestido de mulher.
HELENA: Que
roupas são essas, filho? Você tá com a cara toda pintada parecendo uma mulher
de zona. Eu tive um filho homem... O que aconteceu pra você ficar desse jeito?
JOAQUIM: Mãe,
se a senhora veio aqui pra me acusar, pra me criticar, pra ficar me olhando
como se eu fosse um bicho numa jaula, é melhor a senhora ir embora. Já basta o
que aquele brutucu do meu pai fez comigo.
HELENA: Ele
te bateu, não foi?
JOAQUIM: Bateu?
Ele quase me matou! Se não fosse um carro da polícia que passou e ele ficou com
medo, o covarde tava me batendo até agora...
HELENA: Seu
pai é muito explosivo mesmo, ele não tem cabeça pra essas coisas. Mas eu sou
diferente, meu filho, eu só quero o seu bem. Eu vim aqui pra levar pra casa,
pra você deixar essa vida de lado.
JOAQUIM: Tá
maluca, mãe? A senhora acha que eu vou voltar pra lá pra ele me espancar de
novo? Nem morta!
HELENA: Onde
você tá vivendo, meu filho? Não vai me dizer que você tá vivendo na rua, como
se fosse um indigente.
JOAQUIM: Não
mãe. Eu tô morando na casa de uma amiga. Tô muito bem lá.
HELENA: Uma
amiga, assim, que veste essas roupas?
JOAQUIM: É,
uma travesti mesmo.
HELENA: E
foi essa amiga que trouxe pra essa vida? Te obrigou a fazer essas coisas?
JOAQUIM: Não,
dona Helena, ninguém me obrigou a nada. Eu fiz tudo que fiz porque eu quis,
porque eu sempre tive vontade.
Helena não resiste e as
lágrimas começam a escorrer do seu rosto.
HELENA: Eu
não entendo isso... Você nasceu homem, eu te criei como um rapazinho. Como você
virou a cabeça desse jeito?
JOAQUIM: Desde
pequeno, mãe. Desde pequeno eu já gostava de boneca, já gostava de salto. Eu
queria sair com aquele brucutu do meu pai e ele não deixava, a senhora lembra?
Ele sempre levava os meus irmãos e me deixava em casa. A senhora lembra que ele
sempre mandava eu ficar com a senhora?
HELENA: Eu
lembro. Mas, só por isso você resolveu gostar dessas coisas, se vestir desse
jeito?
JOAQUIM: Eu
não sei explicar, mãe, isso é uma vontade que vem de dentro. Eu não sei
explicar.
HELENA: É
muito triste essa vida desse jeito. Se fosse só vestir desse jeito, tava bom,
mas seu pai me falou que você vende o corpo, que se deita com os homens daqui
em troca de dinheiro. Você não precisa disso, meu filho, nós somos pobres mas
sempre criamos você e seus irmãos com dignidade.
JOAQUIM: Mãe,
por favor, é melhor a senhora ir embora. Não sei nem o que senhora veio fazer
aqui.
HELENA: Eu
quero te levar pra casa, meu filho, te tirar dessa vida. Isso aqui não foi
feito pra você não.
JOAQUIM: Pra
casa eu não volto. A senhora quer que aquele bruto me mate? Eu tô bem aqui.
Volta pra casa. De vez em quando, quando ele não tiver lá, eu passo lá pra ver
a senhora. Por favor, mãe, vai, volta pra casa.
HELENA: Então
tá bom, eu volto. Mas não some não. Dá notícias porque a mãe fica muito
preocupada com você. Essa não é a vida que eu queria pra você e nem pra
ninguém, mas você é meu filho e eu sempre vou gostar de você, seja do jeito que
for.
JOAQUIM: Tá
bom, mãe, mas agora vai.
HELENA: Fique
com Deus, meu filho. A mãe te ama.
Helena se afasta, enxugando as
lágrimas. Joaquim fica comovido com o encontro.
No Recife, Bernardo ouve música
com um fone de ouvido, distante, como se ignorasse a presença dos irmãos no
quarto.
GERSON: Que
bicho mordeu ele?
AIRTON: Tá
assim faz dias... Não fala com ninguém, não ri, não conversa... Só estudando,
ouvindo música, estudando... Tá trancado dentro de si feito um caracol.
SIMONE: Será
que ainda é por causa daquela discussão com o papai?
GERSON: Certamente.
Acho que o coroa pagou o maior sapão pra ele...
AIRTON: Ah,
mas será só isso? Tem tantos dias aquilo... Acho que tem mais alguma coisa
atrás disso.
SIMONE: Eu
já tentei puxar papo, mas ele não fala um “a”. Acho que grilou geral comigo...
AIRTON: Também,
né? Você dedurou ele geral...
SIMONE: Eu
só tentei ajudar. E faria a mesma coisa se fosse com um de vocês.
GERSON: É,
mas da próxima vez, seja mais discreta. Você sabe que o coroa pega pesado...
Bernardo continua lá, alheio à
tudo.
Amanhece o dia.
Tatão chega em casa para almoçar
e se depara com Joana almoçando na mesa da cozinha.
JOANA: Pai?
TATÃO: Você
não tava morando lá na casa da sua avó?
Joana fica apreensiva.
Continua amanhã...
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Você sabia?
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