No capítulo anterior...
- Bebel (Joaquim) e Carlete são expulsos da
avenida por travestis donas do ponto
- Bernardo conta a Pâmela sobre a mudança da
família do Recife
- Tatão comunica a família sobre a mudança para
Brasília
- Bernardo pergunta a Pâmela como se tornar
uma mulher de verdade
CAP. 99
PÂMELA: Bernardo,
meu querido, essa é uma pergunta difícil de responder. Se tornar uma mulher de
verdade não é um processo tão fácil assim. Leva tempo e exige que você
administre muitos conflitos internos. Primeiro você precisa estar muito seguro
do que quer...
BERNARDO:
Mas eu estou. Eu sei que nunca fui um homem de verdade e nem gostaria de ser.
Sempre tive vontade de ser mulher.
PÂMELA: Tem
certeza disso? Tem certeza que não gostaria de ser como as travestis, que se
vestem de mulher, mas se satisfazem com um membro masculino?
BERNARDO: Tenho.
Eu não te disse que não me satisfaço com o sexo anal? Que me senti incompleto
nas vezes que fui pra cama com alguém? Eu gostaria de ser uma mulher de
verdade, pra poder satisfazer o meu parceiro. Sempre me senti uma mulher
aprisionada num corpo de homem...
PÂMELA: Bom,
nesse caso, você tem um longo caminho a trilhar. Você terá de ser acompanhando
por psicólogos, por um longo período, pra que eles tenham certeza de que isso
que você tá falando corresponde à sua realidade. Você sabe que uma cirurgia
desse tipo não tem reversão. Depois que você cortar o negócio, não tem jeito de
implantá-lo de novo... Quer dizer, em casos extremos, jeito até que tem, mas
ele nunca será como antes. Você precisa estar muito consciente disso.
BERNARDO: Sei.
E quem faz esse acompanhamento?
PÂMELA: São
psicólogos, pessoas que estão acostumadas a lidar com esse tipo de problema.
Atualmente o SUS até faz a cirurgia de mudança de sexo, mas a burocracia é
grande. Você é jovem, ainda tem um longo caminho a trilhar... Terá muito tempo
para refletir sobre as suas escolhas, se é isso mesmo que você quer pra sua
vida. Não sei, mas acho que no momento o melhor que você faz é deixar tudo como
está. Dê tempo ao tempo, vá amadurecendo essa ideia aos poucos, vá conversando
com outras pessoas. Daqui a algum tempo, quando você tiver realmente seguro do
que quer, você procura um auxílio médico.
BERNARDO: Pena
que logo agora eu tenha de me mudar. Se continuasse aqui, com você ao meu lado,
seria muito mais fácil passar por esse processo todo... Ah nem! Que droga!
PÂMELA: Calma,
querido... Não sei se isso te serve de consolo, mas eu tenho amigas em
Brasília, transexuais como eu. Posso te recomendar a algumas delas.
BERNARDO: Nossa!
Você faria isso por mim?
PÂMELA: Claro,
meu querido, com todo prazer.
BERNARDO: Eu
nem sei com te agradecer! Você é quase uma mãe pra mim...
PÂMELA: Ai,
não fala assim, senão vou me emocionar... (e se abraçam)
Em Ipatinga, Gilberto arruma
suas coisas no quarto, em companhia de Adriano.
GILBERTO
(fechando a mochila): Está tudo pronto. Agora é só esperar.
ADRIANO: Você
viajam amanhã?
GILBERTO: Isso
mesmo. Amanhã de madrugadinha. O cara disse que amanhã mesmo a gente chega lá.
ADRIANO: Por
um lado eu fico triste de perder um colega como você. É um cara muito legal,
sincero, honesto. Por outro lado fico feliz que você esteja indo pra um lugar
melhor.
GILBERTO: Eu
tô dando um tiro no escuro, sem saber onde vou acertar. Mas, sabe como é: se
não tentar a gente nunca vai acertar... Também, seu eu não gostar de lá, eu
volto oras. Do mesmo jeito que tô indo, posso voltar. Ninguém vai me amarrar lá
mesmo...
ADRIANO: Isso
é verdade. Eu até admiro essa sua coragem de enfrentar o desconhecido. Sempre
tive vontade de morar em São Paulo, no Rio de Janeiro, mas nunca tive
coragem...
GILBERTO: Tem
de arriscar. Eu quero crescer na vida, quero estudar, quero conhecer outros
lugares... Mesmo quando morava em Joanésia, eu sempre pensava isso: eu não
quero passar a minha vida toda aqui. O mundo é muito maior que isso. Quero
conhecer outros lugares, outras pessoas...
ADRIANO: Eu
te desejo muita sorte. Vou ficar aqui torcendo por você. E quando puder, me
escreva contando as novidades. Você tem o endereço lá da escola, não tem?
Então, é só colocar no meu nome que a mocreia da dona Selma me entrega.
GILBERTO: Ah,
por falar em dona Selma, diga que deixei um grande abraço e um muito obrigado
pra ela.
ADRIANO: Eu
dou o recado, pode deixar.
Bebel e Carlete caminham por
uma rua quando um sujeito passa de carro e faz sinal pra elas.
BEBEL: Tá
me chamando, amiga. Vou lá. (e vai até o carro)
CLIENTE: Oi
gatinha! Dando uma volta pela city?
BEBEL: É.
E você?
CLIENTE: Também.
Não quer dar um passeio comigo, tomar alguma coisa, dar uma relaxada?
Ela sorri, entra no carro e
seguem para o motel.
Continua amanhã...
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Você sabia?
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