No capítulo anterior...
- Gilberto chega em casa eufórico. Ele
questiona seu sentimento por Romero, sua falta de desejo por mulheres, etc.
- Por fim conclui que não está preocupado com
isso, que vai deixar acontecer
- Bernardo procura Lorraine. Após ouvir suas
histórias, esta promete lhe indicar um psicólogo
- Na fila do supermercado o olhar de Joana se
cruza com o de duas mulheres: Célia e Jussara, mãe e filha
CAP. 104
Por alguns instantes as três se
olham fixamente. Joana fica deslumbrada com a beleza de Jussara, enquanto Célia
tem sua atenção despertada por Joana.
ATENDENTE (para
Célia): Moça, o sistema voltou a funcionar. Aqui o seu troco.
Por mais alguns instantes Joana
sente o ímpeto de fixar os olhos em Jussara. Mãe e filha pegam suas compras e
saem. A atendente volta sua atenção para Joana.
Tarde da noite, em São Paulo, Bebel
chega da rua e encontra Susette sentada no sofá.
SUSETTE: Até
que enfiam apareceu a Margarida... E aí? Faturou algum?
BEBEL: Um
pouco mais que ontem. (tira algumas notas da bolsa e entrega à cafetina)
SUSETTE: Só
isso? Essa merreca não dá pra pagar nem a metade da primeira semana que você
ficou aqui...
BEBEL: Eu
sei, madame Susette, mas estou me esforçando. Aos poucos está entrando algum
dinheiro...
SUSETTE: E
você acha que eu tenho vida inteira pra ficar esperando entrar dinheiro?
Queridinha, aqui a gente tem conta pra pagar! É aluguel, é água, é energia, é a
comida que as senhoras comem... Não dá pra ficar de braço cruzado e de barriga
pra cima esperando não!
BEBEL: Vou
me esforçar mais. Vou tomar um banho e vou voltar pra avenida pra ver se faturo
mais algum.
SUSETTE: Faça
isso, queridinha, faça isso. Mas, independente de qualquer coisa, a faxina da
casa nos próximos dias é por sua conta. Se não paga com dinheiro, vai ter de
pagar com trabalho!
BEBEL: Sim
senhora. (e sobre a escada)
No quarto...
BEBEL: Nossa!
Essa madame Susette é carne de pescoço mesmo, hein?
CARLETE: Não
te falei pra você não se deslumbrar que a vida aqui não era moleza? Você achou
que aqui era o paraíso... Bem que eu te alertei...
BEBEL: É
verdade. A vantagem que aqui a gente é o que é, não precisa ficar se
escondendo, como medo das pessoas. Se leva bordoada pelo menos é de estranhos,
não é de pessoas da própria família.
CARLETE: Hoje
eu me dei bem. Fiz o suficiente para pagar duas diárias. Se continuar assim, em
breve não estarei devendo mais nenhuma...
BEBEL: Sorte
sua. Eu ainda continuo faturando pouco e a megera tá de cima de mim. Vou tomar
um banho e sair de novo pra ver se arrumo mais algum cliente.
CARLETE: Eu
quero cair na cama e dormir o sono das justas, porque estou um verdadeiro
bagaço...
Três dias depois...
Gilberto vai ao Parque da Cidade para encontrar Romero.
Ele anda de um lado pro outro, olha as horas no celular, anda mais um pouco e
nada.
Nisso aproxima um rapaz de seus
30 anos, branco, baixinho, malhado. Seu nome é JOEL. Ele se aproxima de
Gilberto para perguntar as horas.
JOEL: Você
parece ansioso. Algum problema?
GILBERTO: Eu
marquei com um amigo aqui, mas ele já está bem atrasado e até agora nada.
JOEL: Seu
namorado?
GILBERTO: Por
que a pergunta? Por acaso tenho cara de gay?
JOEL: Não
é isso, é só uma pergunta mesmo. Não se ofenda.
GILBERTO: Tranquilo,
só achei estranha a sua pergunta...
JOEL: Então,
também marquei com um cara aqui, um “amigo” também, e ele não apareceu. A gente
ia ali tomar uma cerveja. Você não tá a fim de ir lá comigo? A gente vai
conversando e depois se nossos amigos aparecerem a gente sai. Se não, a gente
pelo menos não perde a noite. O que você acha?
GILBERTO: É,
pode ser. Vamos lá então.
Os dois saem caminhando.
Bebel termina a faxina da casa
e está esbaforida de tão cansada, descabelada, etc. Nisso Susette se aproxima,
observando a limpeza dos móveis e do chão.
SUSETTE: Sua
faxina ficou até boa. Mas não se iluda! O que eu quero aqui é dindin, money,
dinheiro! Só te botei pra faxinar aqui pra não ter que te dar hospedagem de
graça. Mas que fique bem claro: na próxima semana quero pagamento em dinheiro.
Ou a senhorita me paga, ou rua! Entendeu?
Bebel fica apreensiva.
Continua amanhã...
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Você sabia?
Embora a
associação ativo = macho e passivo = fêmea se preserve na mentalidade popular,
não é mais usada na psicologia. Os estudiosos modernos entendem que, em âmbito
de complexidade, muitas vezes um parceiro homossexual pode desempenhar
sexualmente ambos os "papéis", sendo ativo e passivo, e que numa
relação sexual que se estende a nível amoroso e afetivo, muitas vezes o passivo
também pode dominar e liderar o outro como qualquer outra relação humana. Em
estudos da década de 1980 constatou-se que haveria mais ativos que passivos.
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