No capítulo anterior...
- Gilberto e Romero vão a um bar para se
conhecerem melhor.
- Depois de uma conversa, Romero convida
Gilberto para ir ao seu apartamento
- Bernardo conversa com Pâmela e descobre que
Lorraine é a amiga de quem tanto falavam
- Romero deixa Gilberto na porta de casa. Ele
está empolgado com o que acabara de acontecer
CAP. 103
Gilberto entra no seu
quartinho, no último andar do prédio, ao lado da casa de máquinas do elevador,
sorrindo sozinho, tamanha sua empolgação.
GILBERTO
(para si mesmo): Nossa! Que cara maravilhoso! Eu nunca sentido isso antes por
ninguém! Que cara bacana, gentil, educado... Bom de cama... (se interrompe)
Nossa! Tem muito tempo que eu não pego uma mulher... Será que eu deixei de
gostar de mulher? Será que o Dadinho e o Adriano estavam certos? Eu tô virando
gay? (respondendo) Não, não é possível! Eu só não tô pegando mulher porque não
tá aparecendo nenhuma... Agora, ganhando um pouco melhor, nessa cidade grande,
logo logo vou estar cheio de gatinhas... (na dúvida) Mas e se eu brochar de
novo, como aconteceu com a Nilva? Ai meu Deus! Que vergonha! Não, eu não posso
falhar de novo... (convicto) Ah, quer saber? Tô nem aí! Ninguém me conhece
mesmo nessa cidade... Vou deixar rolar. Vou fazer tudo que tiver vontade! (e se
joga na cama)
Alguns andares abaixo, Bernardo
toca a campainha.
LORRAINE: Boa
noite, Bernadete!
BERNARDO: Bernadete?
Como lembra meu nome?
LORRAINE: Isso
não importa. O importante é que apesar de o bico de um pelicano ser uma lâmina
afiada, ele só captura um peixe de cada vez. Bobagem, brincadeirinha. Vamos!
Entre.
Bernardo entra e senta no sofá.
BERNARDO: Eu
estive falando com a Pâmela agora a pouco e descobri que você era a amiga de
quem ela tanto falava...
LORRAINE: Pra
você ver, querida, como esse mundo é pequeno... Ela me falou de uma amiga que
tinha mudado pra Brasília e quando ela falou que era ruiva e tinha cabelos
longos, eu falei na hora: é a Bernadete! Só pode ser!
BERNARDO: Bernadete...
Você é muito engraçado...
LORRAINE: Engraçada,
querida, porque eu não sou sapatão. Eu sofri muito pra virar mulher e não quero
voltar a ser homem de jeito nenhum! Até mesmo porque eu não tenho um pingo de
masculinidade pra isso...
BERNARDO: Ah,
desculpe, não quis ofender.
LORRAINE: Bobagem
menina! Quem já passou pelo que eu passei na vida não se ofende com qualquer
coisa não... Mas fico muito feliz em te conhecer. Se é amiga da Pâmela, é minha
amiga também.
BERNARDO: Então...
Eu conheci a Pâmela num momento muito difícil da minha vida e ela estava me
mostrando um monte de coisas, me explicando um monte de coisas que não conheço,
que não entendo... E na hora que as coisas estavam caminhando a mil maravilhas,
tivemos que vir morar aqui... É uma pena.
LORRAINE: Fique
tranquila, no que eu puder ajudar, pode contar comigo. Você já faz
acompanhamento com psicólogos, a família já sabe de você?
BERNARDO: Nunca
fui a psicólogos. Uma vez meu pai tentou me levar, mas eu não quis de jeito
nenhum!
LORRAINE: Mas
precisa ir. São eles que vão interpretar o seu caso e te orientar, te mostrar
que caminho deve seguir.
BERNARDO: Verdade?
Já ouvi dizer que os psicólogos tentam fazer a gente virar homem na marra, por
isso não quis ir de jeito nenhum...
LORRAINE: Esses
são charlatães, normalmente ligados a seitas religiosas, gente que não merece nenhuma
credibilidade. Os verdadeiros profissionais vão te ouvir e te aconselhar, só
isso. Não vão te obrigar a nada. Você precisa se consultar com aqueles, até
porque, na hora da cirurgia de mudança de sexo – Você quer cortar o seu negócio
e jogar pro gato, não quer? – São os psicólogos que vão dar o aval pro SUS
aprovar a sua cirurgia.
BERNARDO: Entendi.
Bom, se é do jeito que você tá falando, eu vou procurar um sim.
LORRAINE: Se
quiser eu posso até te indicar algum. Eu faço parte uma ONG LGBT e lá tem
psicólogo. Qualquer dia desses te levo lá e te apresento.
BERNARDO: Nossa...
Eu agradeceria muito.
Joana vai a um supermercado, na
vizinhança, comprar sucrilhos para o café da manhã. Na fila do caixa, está logo
atrás de duas mulheres, mãe e filha. Célia é uma mulher de 40 anos, branca,
baixa, elegante, de classe média. Jussara tem 19 anos, baixa, cabelos
compridos, olhos verdes. É uma garota muito bonita.
Por algum motivo o computador
do caixa trava e a atendente aciona a luz vermelha para chamar a chefe de
caixa. Alguns instantes se passam. Célia se incomoda e comenta com a filha o
constrangimento que sente por estar emperrando a fila.
As duas se viram para trás e
seus olhares se cruzam com o de Joana. As três ficam se olhando estáticas.
Continua amanhã...
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Você sabia?
Na
terminologia de práticas homossexuais masculinas, também são comuns os termos
ativo e passivo - o primeiro correspondente ao homem que realiza a penetração e
o segundo correspondente ao homem que é penetrado. No início dos estudos de
sexologia, ambos os termos deram margem a muitas confusões entre autores;
porque passou-se em princípio a chamar-se ativo o homem que faria o
"papel" de homem numa relação homossexual, enquanto passivo seria
aquele que faria o papel de "mulher".
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