No capítulo anterior...
- O cliente se recusa a pagar o programa para
Bebel e ainda ameaça espancá-la
- Chegando em casa, madame Susette briga com
Bebel e Carlete cobrando resultados
- Algumas semanas depois, todos se mudam para
Brasília e vão morar no mesmo prédio
- Gilberto, Joana e Bernardo trombam no hall
do elevador. Lorraine debocha deles
CAP. 101
JOANA: Agora
a Parada Gay tá completa, porque chegou um travecão!
LORRAINE: Olha
aqui, sua aprendiz de caminhoneira, você me respeita! Travecão não! Eu sou
transexual, é diferente!
JOANA: Se
faz tanta questão assim de respeito, é melhor aprender a respeitar os outros
também.
LORRAINE: Eu
não gosto de botinão por causa disso: elas são todas mal humoradas...
O clima fica meio tenso. Todos
se estranham. Lorraine ajuda Bernardo apanhar suas coisas não chão.
LORRAINE: Como
é o seu nome, gata?
BERNARDO: Meu
nome é Bernardo.
LORRAINE: Hum,
mas você tem cara de Bernadete... (e para Gilberto) Esse daí tem cara de
bofinho, mas não me engana, ele também gosta da fruta de caroço... Você eu já
conheço, é o porteiro novo não é isso?
GILBERTO: Sim
senhora.
LORRAINE: Senhora
tá no céu, garoto. Pode me chamar de Lorraine. Aliás, Tia Lorraine faz parte
uma ONG LGBT. Quando tiverem alguma dúvida, precisarem de uma orientação, é só
me procurar lá no bloco C. Ah, e tem mais: Tia Lorraine também faz deliciosos
bombons para vender, afinal de contas nem todo “travecão”, como diz a nossa
amiga caminhoneira, vive de prostituição. A maioria das transexuais trabalha e
vive honestamente. Quando quiserem experimentar, é só me procurar lá. Esses
daqui (mostra a cesta) não posso oferecer porque já estão vendidos. Beijos,
crianças!
Lorraine coloca seus enormes
óculos de sol e sai e com sua cesta de bombons, deixando todos admirados.
BERNARDO: Hum,
gostei dela. Parece ser uma pessoa legal.
GILBERTO: Um
pouco extrovertida demais pro meu gosto, mas parece ser boa gente.
JOANA: Uma
intrometida, isso sim.
BERNARDO: Relaxa
colega, ela só quis ser simpática com a gente...
Já com seus pertences em mãos,
cada um segue o seu caminho.
Em São Paulo, Bebel e Carlete
se preparam para mais uma noite de trabalho. Elas caminham pela avenida,
atentas ao movimento dos clientes. Nisso três travestis aparecem e partem pra
cima delas.
TRAVESTI 1: Quê que as sonsinhas tão fazendo aqui, invadindo
o ponto dos outros?
BEBEL: Não
estamos invadindo o ponto de ninguém não, querida. Se alguém tá invadindo aqui,
esse alguém é você.
TRAVESTI 2: Não se mete a besta não, travequinha, porque
você não sabe com quem tá se metendo.
BEBEL: Nós
estamos quietas aqui no nosso canto, vocês é que vieram nos perturbar.
TRAVESTI 1: Já falamos que esse ponto aqui é nosso. É
melhor vocês se mandarem daqui.
BEBEL: Ah,
esse ponto aqui é de vocês? (para a amiga) Carlete, liga pra madame Susette e
pergunta pra ela quem manda nesse ponto aqui?
Carlete tira o celular da bolsa
e liga. As travestis se assustam quando ouvem o nome da cafetina.
TRAVESTI 3: Ah, vocês são da casa de madame Susette?
BEBEL: Sim,
somos. Por quê?
TRAVESTI 3 (para
suas amigas): Melhor deixar as meninas trabalhar então, antes que a gente
arrume confusão com o chefe lá.
CARLETE: Melhor
assim.
As três se retiram.
BEBEL: Nossa!
Essa foi por pouco. Pensei que a gente ia levar coió de novo...
Bebel e Carlete continuam sua
ronda em busca de clientes.
Após o expediente, Gilberto
resolve dar uma volta no Parque da Cidade,
tradicional ponto de paquera gay da capital federal.
Numa área rodeada de muitas
árvores, um pouco escura, ele percebe o movimento de vários homens circulando,
de um lado para outro. No meio desses, um em especial, que não tira os olhos
dele. É ROMERO, um rapaz branco, alto, malhado, de 30 anos. Depois de um tempo
ele não resiste, se aproxima e puxa papo.
ROMERO: E
aí, dando uma volta?
GILBERTO: É,
apreciando a noite, conhecendo o lugar...
ROMERO: Eu
tô de carro aqui. Tá a fim de dar uma volta, conversar um pouco pra gente se
conhecer melhor?
Continua amanhã...
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Você sabia?
As travestis
do sexo masculino (homens que se vestem de mulher) preferem que se refiram a
elas como sendo do sexo feminino. Normalmente elas usam um “nome social”, que é
o nome pelo qual preferem ser chamadas. Evite
falar “o travesti”, ou chamá-las de “ele”. Caso fique em dúvida, pergunte à
pessoa qual o seu “nome social” e como gostaria de ser chamada. Esse
procedimento simples evita constrangimentos para ambas as partes.
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