No capítulo anterior...
- Célia convida Joana para entrar e a deixa intrigada
com tamanha gentileza
- Romero leva Gilberto para conhecer o Lago Paranoá, deixando-o deslumbrado
- Joana comenta com a irmã a maneira estranha
com que Célia age com ela
- Depois do sexo, Romero convida Gilberto
para ir a uma festa de aniversário no fim de semana
- Bernardo chega em casa e é surpreendido
pelo pai que o chama para uma conversa
CAP. 110
JUAREZ: Você
já soube de tudo que aconteceu naquele colégio hoje de manhã?
BERNARDO: Sim,
eu soube. A gente vai ter de mudar de colégio, né?
JUAREZ: Vai.
Eu fiquei indignado com a postura daquela coordenadora e com a falta de pulso
dela pra peitar aquelas mães preconceituosas. Na hora eu perdi a paciência e
falei que não precisava se preocupar que eu mesmo tiraria meus filhos de lá.
BERNARDO: O
Airton me contou.
JUAREZ: Mas
a pergunta que eu me faço, ou melhor, que eu faço a você é a seguinte: até
quando, Bernardo? Até quando a gente vai ter de passar por esses
constrangimentos? Você consegue imaginar o que é pra mim, como pai, como um
homem da minha idade ter de passar por isso duas, três vezes todos os anos?
BERNARDO: Eu
posso imaginar, pai.
JUAREZ: Não.
Você não pode imaginar. Eu sou um coronel do Exército, um militar. Eu faço
parte de um extrato da sociedade onde a masculinidade é quase uma obrigação,
uma exigência. Não é fácil pra mim ter de ir na escola pra ouvir as pessoas
colocar em cheque e questionar a sua sexualidade. Mais ainda: rejeitar a sua
presença como se você fosse um mal, uma moléstia, um câncer no meio daquele
grupo social.
BERNARDO: Tá
pai, o senhor dá dizendo que eu sou uma vergonha pro senhor, pra minha família.
O senhor quer que eu faça o quê? Que eu suma no mundo, me mude pra Marte, desapareça
do mapa, é isso?
JUAREZ: Eu
quero que você mude de atitude. Eu tô cansando de passar por esses
constrangimentos todos os anos. Eu não aguento mais! Se não é possível pra você
virar um homem de verdade, pelo menos finja que é.
BERNARDO: Como
assim? Eu não tô entendendo aonde o senhor quer chegar...
JUAREZ: Eu
tomei uma decisão. Semana que vem você vai se apresentar no Exército para
prestação do Serviço Militar Inicial, não vai?
BERNARDO: Sim,
vou. E daí?
JUAREZ: Daí
que eu não vou mover uma palha para que você seja dispensado do serviço
militar. Pelo contrário: vou determinar que você seja incorporado. Você vai
cortar esse cabelo feito homem, vai parar de pintar esse cabelo de ruivo. Vai
tirar esse brinco da orelha e vai ficar, pelo menos, parecido com um home
de verdade.
BERNARDO: Pai,
mas não é isso que a gente tinha combinado... Eu preciso estudar, fazer a minha
faculdade... Se eu entrar no Exército isso vai prejudicar os meus estudos.
JUAREZ: Pode
ser que sim. Mas já está decidido. Enquanto você viver debaixo do meu teto, vai
ter de seguir as minhas ordens. É isso ou a rua. Eu não aguento mais passar
constrangimento por sua causa. Quem sabe, com essa nova experiência no
Exército, você não encontre um novo rumo pra sua vida?
BERNARDO: Essa
é a sua palavra final?
JUAREZ: É.
E esteja certo de uma coisa: não pretendo voltar atrás.
Bernardo abaixa a cabeça e se
retira contrariado.
Na varanda do amplo
apartamento, Célia conversa com Jussara enquanto observam o belo por do sol no
Planalto Central.
CÉLIA: Gostei
da sua amiga Joana. Parece ser uma menina legal. Você deveria convidá-la para
vir mais vezes aqui em casa.
JUSSARA: Logo
a Joana? Sabia que tem muita gente na sala que não vai com a cara dela?
CÉLIA: Implicação
boba. Achei uma boa menina. Educada, gentil, moderninha...
JUSSARA: A
senhora dizendo isso, mãe? Até onde eu sei a senhora nunca gostou que meus
colegas frequentassem a nossa casa...
CÉLIA: Impressão
sua. Eu nunca disse isso.
JUSSARA: Não
disse com todas as letras, mas era o que dava a entender.
CÉLIA: Isso
é coisa da sua cabeça. Sempre achei melhor que seus colegas viessem aqui do que
você fosse pra casa deles. Aqui posso controlar melhor as coisas e não preciso
me preocupar com você perdida aí por essa cidade.
JUSSARA: Sei
não, mas a dona Célia está muito mudada. De qualquer forma, qualquer dia desses
convido a Joana pra almoçar aqui.
Bernardo bate na porta do
apartamento de Lorraine.
LORRAINE: Oi
minha deusa ruiva! Entre!
BERNARDO: Amiga,
estou com um baita problema e só você pode me ajudar.
LORRAINE: Se
não for dinheiro, porque dinheiro a tia Lô não tem...
BERNARDO: Antes
fosse. É bem pior que isso...
Continua amanhã...
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Você sabia?
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