No capítulo anterior...
- Susette pressiona Bebel. Ela reclama com Carlete,
que lhe diz palavras de ânimo
- Lorraine leva Bernardo para conhecer a ONG
da qual ela participa
- A psicóloga Cacilda tem uma longa conversa
com Bernardo sobre sua infância e adolescência
- Gilberto está no Parque da Cidade com Joel quando Romero sai da mata e os vê
CAP. 106
ROMERO: Eu
é que te pergunto o que você tá fazendo aqui? Estou te procurando, oras! A
gente não tinha combinado de se encontrar?
GILBERTO: Tinha.
Mas combinamos de nos encontrar lá na avenida, e não aqui. E também o encontro
estava marcado pra uma hora atrás, não agora...
ROMERO
(convicto): Não. Você tá enganado. A gente tinha combinado aqui. E não tinha
hora certa. Falamos que era mais ou menos nesse horário.
JOEL
(intervendo): Hum... Já vi tudo! Bom, mas já que você apareceu agora, senta aí
e toma uma cerveja com a gente.
ROMERO: Quem
é esse cara?
GILBERTO: É
um amigo.
ROMERO: Ah,
pensei que você já tava me traindo...
JOEL: Traindo
é? Será preciso dizer quem tava traindo quem aqui?
ROMERO
(nervoso): Como assim? O que você tá querendo dizer com isso?
JOEL
(cínico): Eu? Nada, oras! Eu não tava querendo dizer nada.
Romero não simpatiza com Joel,
mas, mesmo assim, senta-se à mesa e continuam a conversa. Gilberto fica
perturbado, mas tenta contornar a situação.
Uma hora após, Joel vai embora.
Romero leva Gilberto para sua casa.
Três semanas depois...
Joana chega ao colégio para seu
primeiro dia de aula. Ao entrar na classe, uma pessoa lhe chama a atenção.
JOANA
(para si mesma): Caramba! É a garota do supermercado! Justamente na mesma sala
que eu? Essa menina é tão linda... Não sei por que me chama tanto a atenção...
Joana senta perto de Jussara e
mal espera a hora do recreio para puxar papo.
JOANA: Prazer!
Eu sou Joana e você?
JUSSARA: Prazer.
Eu sou Jussara. (apertam as mãos)
JOANA: Parece
que a gente já se viu antes...
JUSSARA: Eu
não me lembro... Você mora aqui na Asa Sul mesmo, costuma ir a alguma balada,
academia de ginástica?
JOANA: Não,
nada disso. Acho que a gente se viu foi no supermercado. Você estava junto com
a sua mãe, uma senhora jovem, muito elegante, bem vestida...
JUSSARA: Ah,
deve ser mesmo. Às vezes vou com ela ao supermercado, senão ela não compra nada
do que eu gosto...
JOANA: Eu
sou nova aqui na cidade. Conheço pouco ou nada. Depois, se você puder, poderia
me dar umas dicas de baladas, lugares interessantes pra sair?
JUSSARA: Sim,
claro.
JOANA: Puxa!
Eu agradeço muito.
Em São Paulo, Bebel chega da
rua e madame Susette a aguarda na sala, andando de um lado pra outro.
BEBEL: Ainda
acordada, madame Susette?
SUSETTE
(fria): Esperando pela senhora. Trouxe alguma merreca?
BEBEL: Trouxe,
mas não o tanto que a senhora esperava. (e lhe entrega algumas notas)
SUSETTE: Olha,
a minha paciência chegou ao limite com você. Ou me paga tudo que me deve até
amanhã à noite, ou então não haverá mais lugar pra você nessa casa!
BEBEL: Mas
madame... Eu não tenho pra onde ir...
SUSETTE: Se
vira! Vai pra casa de alguma amiga, dorme embaixo do viaduto, vai pra
cracolândia, dá o seu jeito! Eu cansei de você! Não vou ficar sustentando gente
folgada!
BEBEL: Mas
eu não sou folgada. Eu tenho pago a senhora parte dos atrasados, faço faxina,
lavo roupas, faço comida pra pagar o que não consigo pagar em dinheiro...
SUSETTE: Querida,
chega de ladainhas! Já te disse: meu negócio aqui é dinheiro, money! Meta isso na sua cabeça. Limpeza,
faxina, todas podem fazer. O que eu quero é dinheiro. Lembre-se: até amanhã a
noite, ou então a senhora vai pra rua!
BEBEL: Entendi.
Vou tentar arrumar algum dinheiro, nem que seja emprestado. Com licença (e sobe
as escadas apressada)
Na manhã seguinte, em Brasília...
Em um colégio particular e
requintado, a coordenadora caminha pelo corredor e percebe um tumulto formado
por oito ou dez mães na porta de sua sala. As mulheres falam alto e esbravejam.
A coordenadora apressa o passo para tentar entender o que está acontecendo.
COORDENADORA: Bom dia, senhoras! Algum problema? Em que posso
ajudá-las?
MÃE 1: Nós
nos reunimos aqui porque tomamos conhecimento de um fato absurdo que está
acontecendo nesse colégio.
MÃE 2: E
nós, como mães zelosas que somos, não podemos deixar que um absurdo desses
prejudique o convívio e a vida escolar dos nossos filhos.
MÃE 3: Nós
pagamos uma fortuna para manter nossos filhos aqui e o mínimo que exigimos é um
ambiente sadio, livre de más influências para nossas crianças.
COORDENADORA: Senhoras, por favor, uma de cada vez, senão
não consigo compreender. Mas, afinal de contas, do que é que as senhoras estão
falando?
MÃE 1: Nós
ficamos sabendo que tem um travesti estudando na sala junto com os nossos
filhos. Um tal de Bernardo, Bernadete, ou coisa parecida!
Continua amanhã...
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Você sabia?
Heterossexuais
homens, escrevem os sexólogos, muitas vezes não permitem que suas parceiras
sexuais mulheres estimulem ou mesmo penetrem seu ânus porque isso lhes
conferiria uma "feminilidade" ou conotação homossexual, embora os
autores confirmem em pesquisas que os passivos homossexuais nem sempre são
afeminados. De fato, sexólogos têm escrito que tais noções são estereótipos
ligados ao machismo que incide nas relações heterossexuais; e que muitas vezes
o passivo "pode ser o mais 'másculo' dos dois, em aparência física,
maneiras e personalidade."
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