No capítulo anterior...
- Juarez alega que se confundiu porque
Bernardo está vestido de mulher
- O coronel exige que os filhos defendam a
filha e o filho homossexual, demonstrando certa aceitação
- Bebel conta a Lorraine a sorte grande que
tirou com o idoso na noite anterior
- Na tarde do dia seguinte, a família sai
para se divertir e Bernardo fica assistindo TV no hotel
- Assistindo a um filme, o nome da mocinha
chama a sua atenção: Betina
CAP. 170
BERNARDO: Betina...
É isso! É o nome perfeito! Betina é muito mais bonito que Bernadete! É assim
que um dia eu quero ser chamada: Betina! Doutora Betina, psicóloga. (ele imagina
a secretária no seu consultório) “Doutora Betina, seu cliente já chegou”. “Doutora
Betina, é o seu marido na linha A, posso passar a ligação?” “Doutora Betina, o
seu cafezinho”. Ai que chique! Betina é um luxo! Amei esse nome!
Ele continua assistindo ao
filme empolgadíssimo e cada vez que o mocinho chama a mocinha, se derrete todo.
BERNARDO: Será
que o Ramon iria gostar desse nome? Será que ele me chamaria assim? Aliás, por
falar em Ramon, por onde será que anda aquele danadinho? Será que ainda joga futebol?
Será que ainda tem aquelas pernas lindas que tinha? (pausa) Ai, deixa de ser
sonhadora Betina! Você nunca mais vai encontrar o Ramon... Ele tá muito longe,
já deve até ter arrumado uma namorada, uma baranga dessas qualquer, ou então
uma maria-chuteira, se ainda tiver jogando futebol... Mas que eu gostaria muito
de revê-lo, isso eu gostaria...
Nisso entra o intervalo
comercial.
BERNARDO (pensativo):
Aliás, eu podia procurar o Ramon nas redes sociais... Quem sabe eu não consigo
retomar o contato com ele? Essa é a primeira coisa que vou fazer quando chegar a
Brasília. Estou louca pra rever o meu amor...
Em Brasília, Bebel sai do
quarto e se depara com Lorraine na sala.
LORRAINE: Bebel,
senta aqui. Tô precisando levar um papo sério com você.
BEBEL: O
que foi? Aconteceu alguma coisa?
LORRAINE: Eu
não sei se você tem noção do risco que tá correndo, mas é uma coisa muito
séria.
Bebel Senta.
LORRAINE: Qual
a sua ligação com a Pandora Bombadeira?
BEBEL: Pandora
Bombadeira? Quem é essa? Eu não sei... Nunca/
LORRAINE
(cortando): Não mente pra mim!
BEBEL: Eu...
Eu já... Eu.../
LORRAINE
(cortando): Você foi na casa dele fazer aplicação de silicone, não foi isso?
BEBEL: Não
exatamente... Quer dizer... Eu pensei que.../
LORRAINE: Não
mente pra mim! Eu já tô sabendo de tudo. Ela ligou aqui te procurando...
BEBEL: Ela
ligou? Mas eu falei pra ela não ligar...
LORRAINE: Escuta
aqui, mona, você tem noção do risco que você tá correndo aplicando essas porcarias?
BEBEL: Não.
Mas eu queria ficar mais peituda, mais popozuda, queria ficar turbinada pra
faturar mais. Só isso.
LORRAINE: Você
sabia que a Pandora Bombadeira aplica é silicone industrial? Sabia que isso
pode te matar ou te deixar toda deformada?
BEBEL: Eu
não! Deus me livre! Mas todo mundo falou que era a mesma coisa do que é
aplicado nas clínicas particulares...
LORRAINE: Você
tá sendo enganada por essa gangue de bandidos, criatura! Você não lê jornais,
não acessa internet? Nunca ouviu falar de travestis que morrem injetando
silicone industrial?
BEBEL: Já
ouvi assim, só por ouvir falar...
Lorraine fica admirada com a
desinformação da amiga.
LORRAINE: Pois
é. É melhor você se informar, abrir o seu olho antes que você morra sem saber
por quê. Ou o que é pior: que você fique toda troncha e deformada.
BEBEL: Nossa!
Mas é tão perigoso assim?
LORRAINE: Esse
silicone que a Pandora aplica não é de uso médico, pra ser aplicado em gente. Ele
não tem o invólucro que impede o líquido de escorrer pelo corpo. Silicone
industrial é feito pra ser usado em carros.
BEBEL: Carros?
LORRAINE: É
isso mesmo. Além do mais, ela aplica isso com uma agulha de aplicar remédio em
cavalo. Tem trava que morre na hora. Você não tem noção do perigo que tá
correndo... Eu vou te falar uma coisa: se você continuar a usar esses venenos,
eu não quero saber de você morando aqui na minha casa. A hora que der uma merda
com você, eu não quero ser responsabilizada! Você mora debaixo do meu teto. Se
alguma coisa de errado te acontecer, é pra cima de mim que polícia virá. Você
entende a minha preocupação?
BEBEL: Puxa!
Lorraine, me desculpe. Eu não sabia que a parada era tão complicada assim...
Todo mundo fala que o silicone da Pandora é mais barato e que dá o mesmo
resultado... Por isso eu fui lá...
LORRAINE: Vem
cá, eu vou te mostrar umas fotinhas aqui no computador...
Lorraine leva Bebel até em
frente ao computador, abre uma pasta e lhe mostra uma dezena de travestis, com
seus corpos todos deformados, vítimas das “bombadeiras”, as aplicadoras
clandestinas de silicone.
BEBEL
(incrédula): Minha Nossa! Que coisa horrível! Que fotos feias!
LORRAINE: É
assim que você corre risco de ficar se continuar frequentando a casa da Pandora
Bombadeira.
BEBEL: Deus
me livre! Não ponho meus pés lá nunca mais.
LORRAINE: Então
tá bom. Fico mais aliviada assim.
Terminado o feriado de
carnaval, a quarta-feria de cinzas amanhece preguiçosa. Juarez, a esposa e os
filhos retornam a Brasília, assim como Célia e sua família.
Tenso, Gilberto aguarda o
síndico em sua sala.
SÍNDICO: Querendo
falar comigo tão cedo Gilberto? O que houve?
GILBERTO: Então,
seu Lalo, eu quero pedir a minha demissão.
SÍNDICO: Demissão?
Como assim?
Continua amanhã...
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Você sabia?
Desde
1960, muitas pessoas LGBT no Ocidente, particularmente aquelas em áreas
metropolitanas, desenvolveram a chamada "cultura gay". Essa cultura é
exemplificada pelo movimento do orgulho gay, com desfiles anuais e exibições de
bandeiras arco-íris. No entanto, nem todas as pessoas LGBT optam por participar
da "cultura gay", sendo que muitos homens e mulheres gays se recusam
a fazê-lo. Para alguns, esse tipo de movimento perpetua estereótipos gays. Para
outros, a cultura gay representa a heterofobia e é desprezada por alargar o
fosso entre pessoas gays e não-gays.
Para ler os capítulos anteriores, acesse:
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