No capítulo anterior...
Avenor expulsa Gilberto de casa com grosseria
Catarina tenta intervir mas o marido ameaça
expulsá-la também
Gilberto parte para o Parque da cidade e ali
pernoita
Joana chega em casa de madrugada com hálito
de cerveja
Ela é irônica e por pouco não é agredida por
Tatão
Gilberto é despertado no estábulo por um
estranho
CAP. 5
PEÃO: Vamos,
rapaz, responde! Parece que viu fantasma...
GILBERTO: O
senhor é o dono daqui? Desculpe, eu não queria incomodar. Já estou indo embora.
PEÃO: Não
sou o dono de nada, sou empregado do dono... Você tá muito estranho, o que tá
fazendo com essa trouxa de roupa suja?
GILBERTO: Fui
expulso de casa pelo meu pai. Melhor sumir no mundo porque daqui a pouco a
cidade inteira vai estar sabendo de tudo.
PEÃO: Sabendo
de quê?
GILBERTO: Prefiro
não falar disso... Nem me lembre... (pensativo) Sabe como posso fazer para sair
dessa cidade o mais rápido possível?
PEÃO: Meu
patrão está indo pra Ipatinga daqui a pouco. Posso falar com ele pra ver se
pode te dar uma carona.
GILBERTO: Se
puder fazer isso por mim, eu agradeço muito.
No Recife, Juarez comenta com a
esposa sobre a conversa com a Coordenadora do colégio.
JUAREZ: A
coordenadora me passou o cartão de um psicólogo. Disse que está na hora da
gente procurar ajuda especializada. Do jeito que ela falou, parece até que o
nosso filho tem uma doença. Você acha mesmo que é o caso procurar esse
psicólogo?
LOURDES (servindo
o café): Ela deve ter mais experiência que nós. Se acha que a solução é essa,
quem somos nós para questionar?
JUAREZ: Sabe,
no fundo eu tinha uma esperança que tudo isso fosse passar um dia. Achava que
quando crescesse o Bernardo esqueceria aquelas brincadeiras de boneca, de usar
roupa se mulher, salto alto... Acho que estava errado. Por mais que tente me
enganar, a verdade está aqui, batendo na minha porta, dia após dia.
LOURDES: Também
pensava como você... Não é fácil, não é fácil... Que mãe está preparada para
uma realidade dessas? Me diga...
JUAREZ: Não
entra na minha cabeça essa história de ter filho homossexual. Já imaginou como
é que vai ficar a minha situação no quartel? Toda vez que passar os meus
subordinados ficarem olhando e rindo, comentando que eu tenho um filho gay?
Tenho medo até de perder o respeito da tropa...
LOURDES: Isso
não vai acontecer, Juarez, você é um comandante, é uma autoridade naquele
batalhão. Se comentarem alguma coisa vai ser longe das suas vistas. É aquela
velha história: o que os olhos não veem o coração não sente. Mas também fico
preocupada com isso... Nenhuma família fica feliz ao descobrir que tem um filho
homossexual. Fico pensando no futuro dele, o quanto o coitadinho vai sofrer, vai
ser humilhado. Imagina tudo que já passamos até hoje... E isso não é nada perto
do que está por vir...
JUAREZ: E
se a gente mandasse o Bernardo pra fazer um curso fora, um intercâmbio no
estrangeiro?
LOURDES: Tá
louco? Está querendo se livrar do nosso filho como se fosse um pacote
descartável? De jeito nenhum! Venha o que vier eu quero estar ao lado dele.
Imagine só o coitado passando por todas essas dificuldades, sozinho, lá do
outro lado do mundo... Nem pensar!
JUAREZ: É,
tem razão... Fui infeliz na minha colocação. O jeito é a gente encarar esse
problema de frente. Mas, e o Bernardo, será que vai topar essa tal consulta com
o psicólogo? (se olham apreensivos)
Em Belém, caminhando por entre
as bancas do mercado Ver o Peso, Joaquim encontra Xantara, uma travesti que é
sua amiga. Ele se solta...
JOAQUIM: Mona,
preciso te contar um bafão fortíssimo.
XANTARA: Conta,
viado, que já estou em cólicas aqui. Algum bofe iscândalu na área?
JOAQUIM: Bicha,
aquele bofe meu pai é uóóóóóóó! Imagine que eu achei umas revistas com um monte
de travas, belíssimas, daquelas americanas, todas siliconadas, um luxo sabe?
XANTARA: Conta,
biba, daí seu pai tomou as revistas pra ele? Concorrência com a filhinha?
JOAQUIM: Antes fosse, querida.... Antes fosse. O bofe uó queimou todas as minhas revistas e ainda ameaçou me dar uma curra...
JOAQUIM: Antes fosse, querida.... Antes fosse. O bofe uó queimou todas as minhas revistas e ainda ameaçou me dar uma curra...
XANTARA: Biba,
você tem que dar seu “independence gay”, o seu grito de liberdade. Você já é
maior de idade, tem de ser dona do seu lindo narizinho arrebitado... Enquanto
você viver embaixo das asas do papai, não vai passar disso que você é hoje: uma
bichinha recalcada.
JOAQUIM: Já
pensei nisso mona, mas não é tão simples assim...
XANTARA: Claro
que é, querida. Olha pra mim: sou linda, loira e abusada. Não dependo de
ninguém. Com essa idade que você tem, com esse corpinho que você tem, nêga,
você pode se dar muito bem. Conheço pencas de viadinhos que estão arrasando em
São Paulo...
JOAQUIM: São
Paulo... Ai, meu sonho, bicha! Do jeito que vocês falam, parece que lá é o
paraíso... É o lugar perfeito pra viver feliz, longe daquele brutucu do meu
pai...
XANTARA: Junta
um aqué, bunita. Quando for pra lá, te levo pra passear... A senhora vai
arrasar!
JOAQUIM: Senhora,
não, senhorita, porque ainda estou solteira. (risos debochados)
O peão conversa com o patrão e
este concorda em dar uma carona para Gilberto.
GILBERTO: Então
ele me leva? Que bom! Tudo que eu preciso é sair dessa cidade o mais rápido
possível.
PEÃO: Sim,
vai te dar a carona. É aquela caminhonete vermelha ali (e aponta). Pode ficar
lá do lado que ele não demora partir.
Gilberto fica contente.
Recompõe-se e rapidamente caminha para o veículo.
FAZENDEIRO: Dia, rapaz! Então é você que tá querendo uma
carona pra Ipatinga?
GILBERTO: Eu
mesmo. O senhor pode me dar essa força?
FAZENDEIRO: Posso. Mas primeiro você vai me contar porque
o seu pai te expulsou de casa.
GILBERTO: Sabe
o que é, é que... Eu não queria falar sobre isso, o senhor me entende?
FAZENDEIRO: Não. Não entendo. Ou me conta essa história
ou nada de carona!
Gilberto fica constrangido.
Continua amanhã...
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Você sabia?
Segundo
a Psicologia existem três “orientações sexuais”: heterossexual, bissexual e
homossexual.
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