No capítulo anterior...
Joaquim tenta se esquivar, mas o vizinho o
reconhece mesmo travestido
Bernardo conversa com os irmãos e revela sua
apreensão com a ida ao psicólogo
O caminhoneiro propõe a Joaquim um programa
em troca do seu silêncio
CAP. 11
CAMINHONEIRO: Sabe como é, né Belscate Mader, eu conheço
muita gente aqui... Metade desses caminhoneiros são conhecidos meus. Posso
fazer uma propaganda dos seus serviços, te recomendar, se é que você me
entende...
JOAQUIM: Deixa
eu pensar um pouco. Estou confusa. Isso foi bafão demais pra minha cabeça. Vou
ali conversar com a minha amiga e já volto para te dar uma resposta.
CAMINHONEIRO: E nem pense em me dar o cano, viu, gracinha?
Não esquece que eu conheço seu pai muito bem. Já bebemos muita cachaça lá
naquele boteco da esquina. Vê bem o que você vai aprontar... Tô te esperando
ali ó, na boleia daquele caminhão azul (e aponta).
Joaquim sai apressado e tenso.
Logo à frente se encontra com Xantara.
JOAQUIM: E
agora, amiga, o que eu faço? O bofe quer um atendimento de graça pra ficar
calado. Você acha que eu devia dar no pé e desaparecer do mapa?
XANTARA: Claro
que não. Vai botar tudo a perder? Vai correr o risco de tomar uma curra do seu
pai, querida? (e antes da resposta) Nada disso! Vai lá e atende o bofe, linda,
lindíssima! Uma a mais ou a menos não vai fazer diferença... Ele não tem nada a
perder, você tem, tolinha!
Alguns minutos depois, Joaquim
se dirige ao caminhão indicado e ali cumpre o acordo que fizera. Ele faz um
programa gratuito com o caminhoneiro em troca do seu silêncio.
CAMINHONEIRO (satisfeito): Olha, sabe que pra sua idade você é muito
bom de serviço? Eu gostei. Quando tiver oportunidade vou te recomendar aí pros
meus chegados. E olha que tem muito camarada aí que gosta de um lesco-lesco
desse... Sabe como é: os caras estão longe de casa, sem mulher... Precisa dar
um jeito de aliviar a tensão...
JOAQUIM: Gostou
mesmo?
CAMINHONEIRO: Ó, mas tem um detalhe: sempre que eu tiver
aqui, vou querer um atendimento vip, igual esse de hoje, e de graça, é claro.
Se você cumprir a sua parte, eu cumpro a minha: seu pai não vai saber de nada
pela minha boca, minha Belscate Mader... (riso irônico pegando no queixo de
Joaquim)
JOAQUIM
(meio irritado): Para de me chamar de Belscate! Meu nome de guerra é Bebel!
CAMINHONEIRO: Mas pra mim é Belscate Mader e pronto! Vai
querer contrariar o seu macho?
Joaquim nada responde e desce
da boleia do caminhão.
Em Joanésia, desapontado,
Gilberto volta para o Parque e pernoita no estábulo. O dia começa a clarear.
Com fome, junta as últimas moedas que lhe restam no bolso e toma um café na
padaria do centro da pequena cidade. Pensativo, caminha sem rumo pelas ruas até
que tem uma ideia. Caminha algumas quadras, bate à porta, Boneca abre.
BONECA: Bom
dia, moço! Visita tão cedo assim? Eu já tava saindo pra lavoura...
GILBERTO: Pensei
melhor... Aquela proposta de passar uns dias aqui ainda tá de pé?
BONECA: Sim,
claro. Pode ficar aqui o tempo que precisar.
GILBERTO: Não
vai ser muito tempo. Só o suficiente pra eu receber o meu mês de serviço lá na
lavoura e achar um rumo pra minha vida.
BONECA: Vamos,
entre. Você tá meio amarrotado, parece cansado. Toma um banho, tem café na
garrafa, pão no armário. Fique à vontade aí que já tá em cima da hora do
caminhão passar.
GILBERTO: Eu
lhe agradeço muito. Você é mesmo um cara bacana.
BONECA: Tem
uma chave reserva na estante. Lá na cozinha tem comida no armário. Se vira aí,
tá certo? Até mais. (pega a mochila, a chave na porta e sai)
Gilberto deita no sofá, respira
aliviado e fica pensando no que fará de sua vida.
Joaquim passa na casa de
Xantara, retira as roupas femininas, limpa a maquiagem que insiste em não sair
de seu rosto, veste as roupas masculinas, tudo à toque de caixa.
JOAQUIM: Vamos,
mona, rápido! O dia tá pra clarear! Preciso chegar lá em casa antes do povo
acordar.
Xantara deixa Joaquim na porta
de casa. O dia está prestes a clarear, quase seis da manhã. O rapaz entra pé
por pé, pensado que todos ainda dormem, mas é surpreendido pela mãe.
HELENA
(falando baixo): De onde você tá chegando, moleque?
Continua amanhã...
>>>>>>>>>>>>>>>>
Você sabia?
IDENTIDADE
DE GÊNERO TRAVESTI – são aquelas pessoas que aceitam seu órgão genital de
nascimento, mas se vestem e se comportam como se fossem do sexo oposto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário