CAP. 03
De malas nas mãos, um homem com seu chapéu chega a Ouro Preto, avistando
algumas igrejas dali, ele faz o sinal da cruz, é Padre Murilo que chega á
frente de sua igreja e começa a rezar, Virgínia se aproxima:
Virgínia- (mascando chiclete) Que tu tá fazendo aí? Rezando?
Parece mais um bobo que chega com mala e fica na porta da igreja ajoelhado e
rezando, só falta isso agora.
Padre Murilo- Mas eu sou um padre, rezo sim ajoelhando.
Virgínia- (tossindo e acanhada) Padre? Você é padre? (risos) Me
perdoe seu Padre não sei distinguir direito ainda homem que veste de saia.
Padre Murilo- (nervoso) Isso não é saia, é batina, batina é o que
padre veste! Agora deixa ir me instalar na minha paróquia, vê se mais tarde
você menininha vem se confessar! Vejo que tem muitos pecados.
Virgínia- Como é que o senhor adivinhou? Tenho sim muitos
pecados e queria me abrir com alguém, vejo que já encontrei esse alguém, me
chamo Virgínia Fonseca e você?
Padre- Me chamo Murilo Carlos Vereza.
Ambos se entreolham,
já são amigos! Odorico chega molhado em casa, Jerusa desce das escadas saindo
fogo pelas orelhas:
Jerusa- Onde você esteve seu Don Juan de “...”, onde você
esteve durante toda essa tarde? E por que chegou molhado? Odorico Fernandes,
prefeito de Ouro Preto, onde esteve? Com aquela sirigaita da Bert Mendes não
foi? Foi com ela que você esteve, diga anda seu crápula.
Odorico- Claro que não, não tem nada de Bert Mendes no meio
dessa história. O que aconteceu foi que eu estava com muito calor então eu
resolvi tomar banho numa cachoeira perto daqui, se você quiser amanhã te levo
lá.
Jerusa- Odorico, eu amo você com todo o meu coração, mas não
vou aguentar uma traição, não vou principalmente com uma corrimão de escadas
como aquela velha da loja JasJoias.
Odorico- Pra te dar uma prova de amor, eu vou agora mesmo na
loja e te comprar um lindo presente.
Jerusa pisca os
olhos e começa a dançar e abraçar Odorico que pensa alto:
Odorico- É só falar
em joia que ela esquece tudo! (risos)
Rio
de Janeiro
Ana na cama lembra-se de Rafael, Chico entra no quarto com flores para
ela:
Chico- Olha o que eu trouxe pra minha princesinha.
Ana- Chico, que lindas flores, soa tulipas e cheirosas!
Ana- O que aconteceu Aninha, você está com o pescoço
quebrado, mas já está fora de perigo?
Chico- Ainda bem que sim Aninha, ainda bem, mas em que você
estava pensando nessa hora que não viu o carro e foi atropelada?
Ana- Em voltar, voltar para Ouro Preto e acabar com a minha
avó. Pegar o dinheiro que é meu por direito, não é vontade de gastar não, mas
sei que nas mãos da “Bert Mendes” o dinheiro da coitada da minha mãe não é
nada, gasta como se fosse água em uma torneira, mas isso está terminando, não
vai demorar, não vai!
Chico encara Ana que está com um olhar duro. Amadeu busca uma carta no
carteiro, ele entrega para Bert que está com máscara de pepino (verde) sobre o
rosto, ela abre e se desespera:
Amadeu- Alguma coisa grave senhora?
Bert- Meu filho está voltando, ele vai sair da Europa pra
chegar nesse fim do mundo... Ah é só o que me faltava. Imagine agora se a minha
neta voltar pra cá.
Amadeu- A senhora perderá tudo, tudo mesmo.
Bert- Vou ficar sem nenhum tostão, o pai dela vai querer que
eu dê tudo o que eu roubei para ela, eu vou a falência, ora eu vou me acabar!
Bert desce as
escadas ainda com a máscara e chorando frigidamente:
Bert- Se ele voltar
eu estarei perdida, não vou conseguir mais o meu plano de conseguir tudo o que
eu quero. Imagina só, a JasJoias pra Ana, essa mansão pra Ana, as minhas joias
pra Ana, a fortuna no banco pra Ana, ô eu estarei perdida se isso acontecer.
Amadeu abraça Bert que está insegura. Ana e Chico tomam numa lanchonete.
Ana- Ainda bem que não fiquei uma semana no hospital, o
ruim é que eu estou com isso no pescoço, agora eu vou voltar pra Ouro Preto e
concluir a minha vingança contra a minha avó.
Chico- Olha menina, ah se eu pudesse fazer você ficar aqui
comigo e deixasse Ouro Preto de lado, mas eu não posso fazer isso, por que
quando nós temos um copo de sofrimento, temos que engolir ele até a última
gota.
Eles se olham, Chico
sai e Rafael entra, eles se entreolham. Odorico datilografa e Bert Mendes entra
todas desengonçadas e senta no sofá.
Odorico- Bert? O que faz aqui tão cedo?
Bert- Eu vou á falência meu amor, á falência.
Odorico- Explique-se melhor, como assim vai á falência?
Bert- Meu filho, o Navarro está voltando pra acabar comigo,
eu tenho medo dele estar aqui na cidade e minha neta chegar em cima da hora, aí
eu posso dá adeus á caviar, champanhe tudo o que há de bom.
Eles se olham.
Europa
Navarro entra no trem para se dirigir a São Paulo.
Navarro- Não irei
mandar telegrama algum pra minha mãe. Ela poderá armar alguma.
Ouro
Preto
Padre Murilo termina de rezar a missa, as pessoas vão saindo até que
Virgínia adentra igreja parando em sua frente, mascando chiclete.
Virgínia- Olá Padre, como ta?
Murilo- Estou bem menina, e você Virgínia? Como está, ah acho
que sei por que está aqui.
Virgínia- O senhor adivinha as coisas, né! Então adivinha agora.
O que é que eu vim fazer aqui na igreja, mas ô já confesso que não vim á missa!
Fala o que é.
Murilo- Veio se confessar comigo não foi?
Virgínia- Viu, adivinho de novo, como você faz isso cara? Então
vai me deixar plantada aqui ou vai deixar eu contar os pecados que eu fiz?
Murilo- Hum, então você confessa que tem pecados?
Virgínia- Quem não tem que me acerte a primeira pedra Padre.
Murilo e Virgínia
entram na sacristia. Rafael se senta á mesa junto a Ana:
Rafael- Olá, vejo que já ganhou alta, como está?
Ana- Muito bem, só esse troço aqui que me incomoda. E você?
Rafael- Normal. Aquele que estava aqui com você é seu pai?
Ana- Pai? (risos) é apenas um amigo meu. Um amigo de toda
uma vida, tem 12 anos que eu conheço o Chico, eu fugi lá da minha cidade e
cheguei aqui, não tinha nenhum lugar pra ir, nem comida. E esse homem aí me
ofereceu. Hoje ele é um pai pra mim.
Rafael- Entendi. (pausa) Você tem namorado?
Ana- Quê? Namorado? Não, não tenho não, por quê?
Rafael- Vou ser direto, gostaria de jantar comigo amanhã? Irei
te levar em um restaurante chinês, topa?
Ana- (sem graça) Topo sim. É a primeira vez que vou a um
restaurante chique.
Eles sorriem juntos.
Efeito amarelado, livro se fecha.
(continua...)
WEB-NOVELA
DE: Gilberto Nascimento
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