No capítulo anterior...
Beija se desculpa com os convidados e se tranca no quarto
Motta se desculpa, cancela o jantar e marca outro em nova data
Padre Melo Franco convence Beija a não desafiar Motta
Beija diz que não abrirá mão de ir para a Corte
CAP. 9
Padre Melo Franco aproveita para tomar o café da manhã com Beija, no quarto, e a conversa se prolonga por quase toda a manhã...
Enquanto isso, numa fazenda nos arredores de São Domingos dos Arachás...
CECI: Damiana acabou de passar um café fresquinho...
SAMPAIO:
Eu aceito... (pausa) Acabei de ouvir uma coisa no arraial que me deixou
preocupado: o Ouvidor está de partida para o Rio de Janeiro...
CECI: E o que nós temos a ver com isso?
SAMPAIO: Oras... Se o Ouvidor voltar para o Rio de Janeiro, Beija pode voltar para o Araxá... Não lhe parece óbvio?
CECI: Deus me livre e guarde! Não diga isso nem de brincadeira...
SAMPAIO: Nós sabemos que Dr. Motta é casado, tem família... Não há de levar uma rameira para viver com ele na Corte...
CECI: Tem razão, meu marido... Mas, ela não poderia continuar em Paracatu?
SAMPAIO: Creio que não... A Ouvidoria será ocupada por um novo Ouvidor, certamente casado. Não haveria espaço para ela...
CECI: Como não tem parentes em Formiga, nem em Paracatu, se não for para o Rio de Janeiro, Beija certamente voltará para Araxá...
Antonio adentra a cozinha e ouve perfeitamente a última fala de sua mãe.
ANTONIO (interessado): Beija está de volta para Araxá?
SAMPAIO: Por enquanto é só uma suposição, meu filho... Mas fique tranqüilo que aquela mulher não há de lhe perturbar mais.
CECI:
Se isso acontecer, você terá de ser forte, Antonio, para resistir
àquela tentação. Você tem 26 anos, uma vida toda pela frente e não pode
se envolver com uma mulher daquele nível. Uma rameira que matou o
próprio avô em troca de dinheiro...
ANTONIO: Fique tranquila, minha mãe, Beija é uma página virada na minha vida. Não quero ver aquela mulher nem pintada de ouro!
SAMPAIO:
Mas não é isso que suas atitudes dizem... Você foi lá atrás dela, que
eu sei... E caso esta mulher volte para São Domingos, você está proibido
de se aproximar dela!
ANTONIO: Já disse: não fui atrás de Beija, fui procurar gado pra comprar...
SAMPAIO: Nós somos seus pais, Antonio. A nós você não engana... Sabemos muito bem que foi atrás dela...
ANTONIO: Está bem, mas isso foi num momento de fraqueza. Já passou e não voltará a se repetir...
Antonio concorda com os pais, mas na primeira oportunidade monta seu cavalo e parte para o arraial em busca de alguma informação sobre o paradeiro da amada...
Em Paracatu do Príncipe, Motta bate à porta do quarto de Beija, insistentemente. Ela se recusa a abrir.
MOTTA: Abra essa porta, Beija, ou vou arrebentá-la. Um... Dois... E...
Continua...
No capítulo anterior...
Sampaio conta a Ceci sobre a partida de Motta
Antonio ouve e o pai o proíbe de se aproximar de Beija
O ouvidor ameaça arrebentar a porta do quarto
CAP. 10
Antes que Motta arrebente a porta, Beija abre. Depois caminha para a janela, dando-lhe as costas.
MOTTA: Precisamos conversar, Dona Beija.
BEIJA (indiferente): Não tenho nada para falar como senhor, Dr. Ouvidor.
MOTTA: Temos sim, e muito. Nós estamos no meio de um processo de separação e muitos detalhes precisam ser resolvidos.
BEIJA:
Decida como quiser. Não é sempre assim? O senhor toma todas as decisões
e aos demais não lhes resta outra alternativa senão acatar a vontade do
senhor Ouvidor?
MOTTA: Pelo visto o que Padre Melo Franco lhe disse entrou num ouvido e saiu no outro...
Beija se lembra da conversa onde o Padre lhe recomendou que não desafiasse o Ouvidor, para que não perdesse as benesses financeiras.
BEIJA: Então o senhor quem mandou o Padre aqui?
MOTTA: Não. Falei com ele na saída, porque realmente estava preocupado com o seu bem estar.
BEIJA: Entendo... (voltando-se para Motta, mudando o tom) Está bem. E o que quer discutir comigo?
MOTTA:
Em primeiro lugar precisamos marcar um novo jantar para nossos amigos e
os funcionários da Ouvidoria. E você há de prometer que não fará nenhum
escândalo. Nós devemos uma satisfação a eles. É o mínimo que podemos
fazer.
BEIJA: Por mim tudo bem. Pode marcar. Prometo me comportar.
MOTTA:
O segundo aspecto é com relação à sua ida para o Rio de Janeiro. Vou
explicar mais uma vez: não posso levá-la comigo porque sou casado, tenho
uma mulher ciumenta, filhos e não posso desfilar pela Corte com uma
amante embaixo do braço. Sou um político, uma autoridade. Tenho uma
reputação a zelar...
BEIJA: Mas Motta...
MOTTA (interrompendo,
ríspido): Não tem mais, nem menos, Beija! Eu volto para o Rio de
Janeiro e você para São Domingos do Araxá. Está decidido e ponto! Não se
fala mais nisso!
Beija ainda pensa em argumentar, mas lembra das palavras de Padre Melo Franco.
MOTTA: O terceiro aspecto é o seguinte: se você se comportar direitinho, até a minha partida e não me criar nenhum problema, lhe darei toda a mobília do palacete. Você não diz que ama esta casa e a sua decoração?
BEIJA: Sim, é verdade...
MOTTA:
Pois bem, você poderá levar para Araxá toda a mobília do palacete e
também os escravos. Mas para isso terá de me prometer não criar
problemas...
BEIJA: Está bem. Negócio fechado.
MOTTA:
E um último pedido: que convivamos harmonicamente até a minha partida.
Quero que passe essas últimas noites comigo. Sei que é difícil para
você, mas gostaria de levar na memória os bons momentos que vivemos
juntos...
Beija fica pensativa e hesita em responder.
Continua amanhã...
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