4 de outubro de 2013

ENCONTRO DO SÉCULO - Cap. 9 e 10


No capítulo anterior...
Beija se desculpa com os convidados e se tranca no quarto
Motta se desculpa, cancela o jantar e marca outro em nova data
Padre Melo Franco convence Beija a não desafiar Motta
Beija diz que não abrirá mão de ir para a Corte

CAP. 9

Padre Melo Franco aproveita para tomar o café da manhã com Beija, no quarto, e a conversa se prolonga por quase toda a manhã...

Enquanto isso, numa fazenda nos arredores de São Domingos dos Arachás...

CECI: Damiana acabou de passar um café fresquinho...
SAMPAIO: Eu aceito... (pausa) Acabei de ouvir uma coisa no arraial que me deixou preocupado: o Ouvidor está de partida para o Rio de Janeiro...
CECI: E o que nós temos a ver com isso?
SAMPAIO: Oras... Se o Ouvidor voltar para o Rio de Janeiro, Beija pode voltar para o Araxá... Não lhe parece óbvio?
CECI: Deus me livre e guarde! Não diga isso nem de brincadeira...
SAMPAIO: Nós sabemos que Dr. Motta é casado, tem família... Não há de levar uma rameira para viver com ele na Corte...
CECI: Tem razão, meu marido... Mas, ela não poderia continuar em Paracatu?
SAMPAIO: Creio que não... A Ouvidoria será ocupada por um novo Ouvidor, certamente casado. Não haveria espaço para ela...
CECI: Como não tem parentes em Formiga, nem em Paracatu, se não for para o Rio de Janeiro, Beija certamente voltará para Araxá...

Antonio adentra a cozinha e ouve perfeitamente a última fala de sua mãe.

ANTONIO (interessado): Beija está de volta para Araxá?
SAMPAIO: Por enquanto é só uma suposição, meu filho... Mas fique tranqüilo que aquela mulher não há de lhe perturbar mais.
CECI: Se isso acontecer, você terá de ser forte, Antonio, para resistir àquela tentação. Você tem 26 anos, uma vida toda pela frente e não pode se envolver com uma mulher daquele nível. Uma rameira que matou o próprio avô em troca de dinheiro...
ANTONIO: Fique tranquila, minha mãe, Beija é uma página virada na minha vida. Não quero ver aquela mulher nem pintada de ouro!
SAMPAIO: Mas não é isso que suas atitudes dizem... Você foi lá atrás dela, que eu sei... E caso esta mulher volte para São Domingos, você está proibido de se aproximar dela!
ANTONIO: Já disse: não fui atrás de Beija, fui procurar gado pra comprar...
SAMPAIO: Nós somos seus pais, Antonio. A nós você não engana... Sabemos muito bem que foi atrás dela...
ANTONIO: Está bem, mas isso foi num momento de fraqueza. Já passou e não voltará a se repetir...

Antonio concorda com os pais, mas na primeira oportunidade monta seu cavalo e parte para o arraial em busca de alguma informação sobre o paradeiro da amada...

Em Paracatu do Príncipe, Motta bate à porta do quarto de Beija, insistentemente. Ela se recusa a abrir.

MOTTA: Abra essa porta, Beija, ou vou arrebentá-la. Um... Dois... E...

Continua...



No capítulo anterior...
Sampaio conta a Ceci sobre a partida de Motta
Antonio ouve e o pai o proíbe de se aproximar de Beija
O ouvidor ameaça arrebentar a porta do quarto

CAP. 10

Antes que Motta arrebente a porta, Beija abre. Depois caminha para a janela, dando-lhe as costas.

MOTTA: Precisamos conversar, Dona Beija.
BEIJA (indiferente): Não tenho nada para falar como senhor, Dr. Ouvidor.
MOTTA: Temos sim, e muito. Nós estamos no meio de um processo de separação e muitos detalhes precisam ser resolvidos.
BEIJA: Decida como quiser. Não é sempre assim? O senhor toma todas as decisões e aos demais não lhes resta outra alternativa senão acatar a vontade do senhor Ouvidor?
MOTTA: Pelo visto o que Padre Melo Franco lhe disse entrou num ouvido e saiu no outro...

Beija se lembra da conversa onde o Padre lhe recomendou que não desafiasse o Ouvidor, para que não perdesse as benesses financeiras.

BEIJA: Então o senhor quem mandou o Padre aqui?
MOTTA: Não. Falei com ele na saída, porque realmente estava preocupado com o seu bem estar.
BEIJA: Entendo... (voltando-se para Motta, mudando o tom) Está bem. E o que quer discutir comigo?
MOTTA: Em primeiro lugar precisamos marcar um novo jantar para nossos amigos e os funcionários da Ouvidoria. E você há de prometer que não fará nenhum escândalo. Nós devemos uma satisfação a eles. É o mínimo que podemos fazer.
BEIJA: Por mim tudo bem. Pode marcar. Prometo me comportar.
MOTTA: O segundo aspecto é com relação à sua ida para o Rio de Janeiro. Vou explicar mais uma vez: não posso levá-la comigo porque sou casado, tenho uma mulher ciumenta, filhos e não posso desfilar pela Corte com uma amante embaixo do braço. Sou um político, uma autoridade. Tenho uma reputação a zelar...
BEIJA: Mas Motta...
MOTTA (interrompendo, ríspido): Não tem mais, nem menos, Beija! Eu volto para o Rio de Janeiro e você para São Domingos do Araxá. Está decidido e ponto! Não se fala mais nisso!

Beija ainda pensa em argumentar, mas lembra das palavras de Padre Melo Franco.

MOTTA: O terceiro aspecto é o seguinte: se você se comportar direitinho, até a minha partida e não me criar nenhum problema, lhe darei toda a mobília do palacete. Você não diz que ama esta casa e a sua decoração?
BEIJA: Sim, é verdade...
MOTTA: Pois bem, você poderá levar para Araxá toda a mobília do palacete e também os escravos. Mas para isso terá de me prometer não criar problemas...
BEIJA: Está bem. Negócio fechado.
MOTTA: E um último pedido: que convivamos harmonicamente até a minha partida. Quero que passe essas últimas noites comigo. Sei que é difícil para você, mas gostaria de levar na memória os bons momentos que vivemos juntos...

Beija fica pensativa e hesita em responder.

Continua amanhã...



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