1 de outubro de 2013

ENCONTRO DO SÉCULO - Cap. 3 e 4


No capítulo anterior...
- Beija acredita que Motta a levará para a Corte
- Padre Melo Franco tenta convencê-la a voltar para Araxá
- Beija ordena ao padre que venda suas propriedades

CAP. 3

O Ouvidor promove um grande jantar de despedida no palacete. Beija se apronta no quarto.

SEVERINA: A sinhá está linda como nunca, parece uma daquelas damas das figuras francesas...
BEIJA: Quero estar linda mesmo, Severina, porque nesse jantar certamente o Motta comunicará a nossa ida para o Rio de Janeiro.
SEVERINA: Fico alegre pela Sinhá, mas triste porque não poderei ir junto...
BEIJA (interrompendo a colocação da tiara de diamantes): Como assim, Severina? É claro que você irá também! Eu jamais partiria para qualquer lugar que fosse sem levar minha fiel escrava... Aliás, você é muito mais amiga que escrava... Você e como se fosse os meus olhos, afinal sou analfabeta e é você que lê tudo para mim...

Severina se emociona, Beija a abraça.

SEVERINA: Só de pensar que a Sinhá poderia partir, me dá um aperto no coração.
BEIJA: Fique tranquila, sua boba. Não irei a lugar nenhum sem você. E agora me ajude a terminar porque os convidados já devem estar chegando...

No escritório, a portas fechadas...

MOTTA: E então, padre Melo Franco, como foi a conversa com Beija?
PADRE: Ela está deslumbrada com a possibilidade de conhecer a Corte. Fala muito em conhecer o mar, nos bailes da Corte, enfim, está mais sonhadora que alerta para a dura realidade que poderá enfrentar lá...
MOTTA: Eu sei, também tive várias conversas com ela e tive a mesma impressão...
PADRE: Não é porque o Senhor Ouvidor me pediu, mas é porque realmente acredito que o melhor para Beija seja voltar para Araxá...
MOTTA: Também estou certo disso, mas ela insiste no contrário...
PADRE: Com a fama de “Moça do Ouvidor” se tornou uma mulher respeitada e depois, todos creditam a ela a reintegração do Triângulo Mineiro à capitania de Minas Gerais... É uma mulher poderosa, influente... Não terá problemas para se fazer respeitar em Araxá...
MOTTA: Verdade. Embora não tenha sido por atitude direta dela, mas foi por causa de Beija. Eu fui acusado pela morte de seu avô e se fosse julgado pelo governador de Goiás, certamente seria condenado, porque aquele homem me detesta. Por isso intercedi a D. João VI para que passasse o Triângulo para Minas, porque o governador é meu amigo de infância e nunca me condenaria a nada, como de fato aconteceu. Sequer fui acusado...
PADRE: Eu fiz o que pude, Dr. Motta, mas Beija não é fácil... Tem opinião própria e quando quer, sabe ser tinhosa.
MOTTA (em tom de ameaça): Sei da influência que o senhor exerce junto a ela. Sei inclusive de suas visitas ao palacete nas altas madrugadas durante as minhas viagens... Por isso, continue tentando...
PADRE (apurado): Oras, Sr. Ouvidor, isso é coisa do passado... Não vem ao caso agora...
MOTTA (fitando-o nos olhos): O Padre entendeu... Melhor nos apressarmos, porque pelo barulho, imagino que o salão esteja cheio...

Beija surge no alto da escada, com um belo vestido verde, uma tiara de diamantes no cabelo, tão belos quantos seus lindos olhos azuis. Um “oooohhhh” ecoa pelo ambiente.

Continua...



No capítulo anterior...
- Beija está feliz com a realização do jantar
- A escrava Severina se emociona com a consideração da patroa
- Motta cobra de Padre Melo atitudes para convencer Beija a voltar para Araxá

CAP. 4

Beija está radiante, feliz como nunca. Depois de descer garbosamente as escadas, cumprimenta os convidados com largo sorriso, um a um. Motta e Padre Melo Franco também adentram o salão e cumprimentam os presentes.

Pouco depois Severina se aproxima da patroa, meio sem jeito e fala ao seu ouvido.

SEVERINA: Sinhá, tem um negro nos fundos do palacete que insiste para falar com Dona Beija.
BEIJA: E o que quer este infeliz, não disse?
SEVERINA: Disse que só fala se for para a Sinhá e que é assunto de seu interesse.
BEIJA: Peça-lhe para voltar outro dia. Hoje estou ocupada. Preciso dar atenção aos convidados.
SEVERINA: Ele disse que veio de longe e que não poderá voltar outro dia.
BEIJA: Está bem. Você acha que alguém confiável?
SEVERINA: Negro a gente nunca sabe, né, Sinhá...

Elas voltam para o salão e pouco depois Beija discretamente se afasta e caminha para os fundos do palacete em companhia do escravo Moisés, que carrega a lamparina.

BEIJA: O que quer comigo, escravo?
BASTIÃO: Eu tenho uma informação que pode interessá a Dona Beija...
BEIJA: E o que é, diga logo. Espero que seja algo realmente importante.
BASTIÃO: Tinha um hôme rondando o arraiá nos úrtimos dia. Esse hôme era lá de São Domingus do Araxá...
BEIJA: E o que ele queria aqui? Ainda não estou entendendo...
BASTIÃO: Ouvi ele dizendo pro coroné Feliciano que veio à procura de Dona Beija...
BEIJA: Sim, mas muitos homens vêm aqui à minha procura... Você sabe pelo menos o nome desse homem?
BASTIÃO: o nome eu num sei, Sinhá, mas escutei ele falando o nome do pai: coroné Sampaio...
BEIJA (mudando de expressão): Antonio... Antonio Sampaio! Meu Deus! Meu ex-noivo veio à minha procura... Então ainda me ama!
BASTIÃO: Ele teve nas cavalhadas e ficou o tempo todo escondido. Disse que num quiria sê visto por ninguém...
BEIJA: Muito obrigado, escravo. Realmente esta informação me interessa muito. Aguarde aqui que Moisés lhe trará uma recompensa por sua dedicação.

Eufórica, não se contém e acaba dividindo com o serviçal a sua emoção.

BEIJA: Moisés, então Antonio ainda me ama! Se ele veio de Araxá até aqui é porque ainda me ama... Meu Deus! Como é bom saber disso...

Motta corre o olho por todo o salão e não vê Beija. Severina percebe a situação e hesita em ir atrás da patroa.

MOTTA (se aproximando da escrava): Severina, onde está Dona Beija?

Continua amanhã...


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