5 de outubro de 2013

ENCONTRO DO SÉCULO - Cap. 11 e 12


No capitulo anterior...
Antes que Motta arrebente a porta, Beija abre
Motta propõe marcar um novo jantar para os amigos
Ele explica mais uma vez os motivos de não levá-la consigo
Doa à amante todo o mobiliário e os escravos do palacete
Pede que ela volte a dormir com ele

CAP. 11

Beija caminha pelo quarto, pensa por alguns instantes.

BEIJA (voltando-se para ele): Está bem, Motta. Voltarei a fazer o papel de esposa nesses últimos dias. Afinal de contas, não há nenhum sacrifício nisso.
MOTTA: Ótimo. Fico satisfeito com a sua decisão. Será bem melhor para nós dois que o clima nesta casa seja de paz e tranqüilidade.

Mota segura e beija suas mãos. Em seguida se retira. Beija se dirige à janela e fica observando a praça de frente ao palacete, com o olhar distante.

Horas mais tarde, na sacristia da Paróquia...

BEIJA: Alguma novidade nos negócios, Padre?
PADRE: Sim, minha filha. Já negociei suas terras e também as minas de diamante. Ainda nesta semana o comprador irá lhe procurar no palacete para pagar e assinar as escrituras.
BEIJA: Melhor assim. Não quero negócios pendentes. Aqui nessa terra só tive desgosto. Não pretendo voltar nunca mais.
PADRE: Não diga isso, Beija. Aqui você aprendeu muitas coisas, cresceu como pessoa, fez muitos amigos...
BEIJA: Perdão, Padre. O senhor tem razão: fiz muitos amigos verdadeiros aqui. E o senhor é o principal deles. Perdoe-me.

Padre Melo Franco sorri, pois sabe que Beija fala da boca para fora...

Nos dias seguintes tudo transcorre na mais perfeita harmonia. Beija se comporta como uma esposa dedicada e se esmera para agradar Motta. O novo jantar é um sucesso e o casal tem muitas noites ardentes de sexo. Nesta arte a jovem é maestrina. Sabe como ninguém levar um homem ao delírio. Enfim, chega o dia da partida.

Do lado de fora do palacete, cinco mulas estão perfiladas, com suas bruacas carregadas com a bagagem pessoal do Ouvidor. Beija e as escravas ficam na porta principal, aguardando a partida da comitiva.

MOTTA (se aproximando): Beija, é chegada a hora do adeus. Mais uma vez quero lhe pedir desculpas por todo mal que lhe causei. Sei que não há perdão pelo que fiz, mas quero que saiba que fiz por amor, por paixão. Desde o primeiro momento em que meus olhos pousaram sobre você, perdi totalmente a razão. (sem graça) Já lhe disse isso tantas vezes...
BEIJA (segurando suas mãos): Dizem que cada um nasce com um destino. E se o meu era ser a “Moça do Ouvidor”, me conformo com ele, está cumprido. Vá em paz, Motta. Seja muito feliz.

Motta beija sua testa carinhosamente, monta no cavalo e a comitiva parte. Beija e as escravas ficam olhando até que somem no horizonte.

BEIJA (fitando a escrava): E agora, Severina, o que será de mim sem a proteção do Ouvidor?

Continua...



No capítulo anterior...
Beija aceita as condições do Ouvidor e se torna “esposa” dedicada
O casal vive dias de harmonia e o jantar de despedida é um sucesso
Padre Melo Franco comunica que já vendeu as terras de Beija
O Ouvidor parte com sua comitiva
Beija teme por seu futuro sem a proteção do Ouvidor

CAP. 12

Severina abraça a patroa e a consola.

SEVERINA: A Sinhá não tem o que temer. Hoje é uma mulher rica e todo mundo respeita o dinheiro, a posição social.
BEIJA: Tomara que você esteja certa, Severina, tomara. Motta também me disse a mesma coisa, mas tem horas que fico tão insegura...
SEVERINA: Eu estarei sempre do seu lado, Sinhá e não deixarei que ninguém lhe faça mal... E agora vamos, que precisamos arrumar nossa mudança também...

UMA SEMANA DEPOIS...

A mudança está toda acomodada nos carros de boi. Apenas alguns objetos de uso necessário ainda estão dispersos. Uma pequena fila de pessoas necessitadas se forma na porta do palacete. Beija e Severina comandam a distribuição das trouxas de roupa, de gêneros alimentícios e também de alguns objetos do palacete.

CLARA: Eu não tenho palavras para agradecer a Dona Beija. Nunca tive em toda a minha vida roupas tão belas quanto estas... Dona Beija é uma santa...
BEIJA: Não diga bobagens, dona Clara... O que Deus nos deu é para distribuir com OS irmãos...
SEU JOSÉ: Não sei o que seria da minha família se não fosse Dona Beija...
BEIJA: Agradeça a Deus, seu José, sou apenas um instrumento nas mãos dele...

Beija é extremamente caridosa e não abre mão de ajudar aos necessitados. Por isso toda esta comoção na despedida. Mas antes de partir, ainda faz questão de ir às escadarias da matriz, se despedir dos cegos, coxos e aleijados da Paróquia.

BEIJA (aproximando-se de um aleijado): Eu não poderia partir sem antes me despedir dos meus grandes amigos.
TIÃO: Quanta honra, Dona Beija, quanta honra...
BEIJA: Honra deve ser dada a Deus e à Sant’Anna, Tião. Reze muito para eles...

Mais adiante...

SEVERINA: A Sinhá não vai se despedir do Cego Jó?
BEIJA (olhando à volta): Ele não está por aqui... Onde se meteu?
SEVERINA (olhando ao longe): Lá está ele, Sinhá, lá na frente, embaixo da gameleira.
BEIJA: Vamos até lá...

Ao se aproximar, se surpreendem com a atitude do velho homem.

(com voz embargada): Eu num quiria vê a partida de Dona Beija... Nossa vida nunca mais será a mesma sem a Sinhá... E agora, quem vai dá esmola?
BEIJA (sem conseguir conter as lágrimas): Jô, lhe agradeço muito pela consideração. Que Deus o abençoe e envie outras almas bondosas para cuidar de vocês.

Beija deixa uma pequena fortuna com Padre Melo Franco e ordena que distribua entre os deficientes da paróquia, dividindo tudo em pequenas parcelas semanais.

Na madrugada seguinte a comitiva parte. Depois de cinco dias de viagem o comboio chega a uma encruzilhada.

MOISÉS: Sinhá, seguindo em frente vamo pra São Domingo dos Arachá. Pegando a estrada da esquerda vamo para o Rio de Janeiro. Pra onde a Sinhá qué ir?

É chegada a hora da decisão. Beija fita Severina, sem responder...
Continua segunda-feira...


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