No capítulo anterior...
Beija comunica num jantar que vai embora de Araxá
Padre Aranha, Fortunato e Belegarde ficam inconsoláveis
Fortunato comenta a novidade perto de Vado
Antonio fica sabendo e procura a amada
CAP. 27
BEIJA: Como ousas invadir a minha casa assim?
ANTONIO: Não podes fazer isto comigo. Não podes partir desse arraial...
BEIJA: E como soube disso?
ANTONIO: Não importa como... O importante é que não quero que parta. Preciso de você aqui...
BEIJA (indiferente):
Antonio, tudo na vida é uma questão de escolhas. Ora escolhemos uma
coisa, ora escolhemos outra. Porém a cada escolha corresponde uma
conseqüência. E você fez a sua: me abandonar para casar com Aninha
Felizardo.
ANTONIO: Sabes muito bem que não fiz escolha. O destino está me empurrando pra isso...
BEIJA
(irônica): Ah.... O destino... Engraçado... Quando fui desonrada, meu
avô assassinado e raptada para viver com o Ouvidor em Paracatu, ninguém
se socorreu desse argumento para me defender... Todos me condenaram sem
dó nem piedade...
ANTONIO (tentando argumentar): São coisas diferentes...
BEIJA:
Ora, faça-me o favor, senhor Antonio Sampaio... Diga-me: o que é
diferente? O Senhor não está sendo obrigado a uma situação? Eu também
fui... A diferença é que o senhor é homem e eu sou mulher. Os homens
podem tudo e as mulheres, nada! Estou certa?
ANTONIO: Beija, fique, por favor... Em algum momento vou contornar essa situação e ficaremos livres para viver o nosso amor...
BEIJA:
Você nunca lutou por mim, Antonio, você foi incapaz de lutar por nosso
amor. Em Paracatu você se acovardou e não teve coragem de me procurar.
Aqui você foi incapaz de falar qualquer coisa contra o seu pai e a sua
mãe para defender. É isso que você chama de amor?
ANTONIO: Não seja injusta comigo. Tentei todos os argumentos, mas meu pai continua irredutível e minha mãe o apóia...
BEIJA:
Aceitou o casamento com Aninha passivamente, sem tomar nenhuma
atitude... Esse casamento foi resolvido em dois tempos, sem
questionamentos, sem nada... Difícil acreditar em você...
ANTONIO: Você não me ama? Então acredite em mim...
BEIJA:
Já te dei a prova. Não voltei de Paracatu pra cá? Não enfrentei toda
essa gente de cabeça erguida, mesmo sofrendo o diabo, com as beatas
batendo a porta na minha cara ou se retirando da missa só porque entrei
na igreja?
ANTONIO
(exaltado, cortando): Mentira, Beija! Mentira! Você voltou para São
Domingos porque o Ouvidor não quis lhe levar para a Corte. Pensa que
todos aqui não sabem disso?
BEIJA:
Está vendo como o que digo é verdade? Você prefere acreditar no
primeiro cachorro que abane o rabo ao seu lado a acreditar na mulher que
você diz que ama... Está vendo como tenho razão?
ANTONIO (desanimado): Ai, Beija, como você é difícil... Como é cabeça dura! Como faço para colocar um pouquinho de juízo nessa cabeça?
BEIJA:
Muito fácil. Siga o seu caminho e deixe-me seguir o meu. Vá se casar
com Aninha Felizardo, ter um monte de filhos e uma mulher gorda e
submissa zanzando pela casa. Pelo visto é isto que te faz feliz...
ANTONIO (segurando-a nos ombros): Não amo Aninha. É a você que eu quero. É a você que eu amo!
BEIJA (decidida): Está bem. Desisto de ir embora e fico em Araxá. Você desiste de casar-se com Aninha e assume um compromisso comigo?
Continua...
No capítulo anterior...
Antonio fica sabendo da partida de Beija
Ele procura a amada para convencê-la a ficar
Os dois discutem e cada um fala de seus motivos
Beija aceita ficar desde que Antonio desista de se casar com Aninha Felizardo
CAP. 28
BEIJA: Desista de casar-se com Aninha e assuma um compromisso comigo.
ANTONIO: Não posso fazer isso, Beija. Sabes que meu pai não permitiria. Já assumiu compromisso com o Coronel Felizardo.
BEIJA
(fria): Então está decidido: vou-me embora de Araxá. E o senhor, por
gentileza retire-se de minha casa e não volte mais, amenos que seja
convidado.
ANTONIO: Beija, não acredito que esteja radicalizando a esse ponto!
BEIJA
(nervosa): Antonio, não insulte o meu bom senso! Não me faça perder as
estribeiras! Você se abala da sua casa aqui para me impedir de ir
embora, e propõe que me torne a sua amante enquanto você vai satisfazer
os caprichos de seus pais e se casar com aquela sonsa lá? Oras! Faça-me o
favor! Não seja ridículo!
ANTONIO: Mas... Beija...
BEIJA (cortando): Sem perder o pouquinho de dignidade que resta, retire-se daqui!
Contrariado, Antonio sai. Faltam-lhe palavras para argumentar. Logo em seguida Severina adentra a sala com um copo de água para a patroa.
SEVERINA: A Sinhá fez bem. Ele não deu provas de que lhe ame de verdade. Mostrou-se um verdadeiro covarde.
BEIJA:
Você tem razão, mas no fundo só Deus sabe o quanto me custa botar esse
homem porta afora... Eu o amo e você sabe disso melhor do que ninguém...
Melhor do que ele mesmo...
SEVERINA: Sei, Sinhá. E é por isso que apóio sua decisão de ser dura com ele. Se quiser realmente lhe merecer, tem de fazer por onde...
Horas mais tarde, já refeita, Beija e Severina continuam arrumando as tralhas para a mudança.
BEIJA: Estava enganada quando pensei que pudesse reconstruir minha vida em Araxá. Sabe como é, no fundo a gente sempre tem uma esperança de que tudo vai mudar, de que tudo vai conspirar a nosso favor. Mas bem sabemos que a realidade nunca é como queremos...
SEVERINA: A Sinhá é uma mulher muito bonita, inteligente, pode ter o destino que quiser...
BEIJA: Não, Severina, é um engano pensar isso... Não vês aqui em São Domingos? O nome, o dinheiro, a fama não me impediram de ser rejeitada pelo povo, de ser acusada de coisas horríveis...
SEVERINA: Não digo aqui, Sinhá, falo de qualquer outro lugar do mundo... Do Rio de Janeiro...
BEIJA:
Preciso acreditar que no Rio de Janeiro as coisas serão diferentes...
Senão passarei minha vida inteira fugindo, vagando de vila em vila... Acredito
que lá será diferente, porque que é um lugar grande, com muitas
pessoas. E o que é melhor: ninguém conhece a mim, nem ao meu passado.
SEVERINA: E o Ouvidor, não ficará aborrecido com a presença da Sinhá?
BEIJA:
Motta nem precisará saber de minha presença. Talvez nem esteja mais no
Rio de Janeiro. De qualquer forma não poderá expulsar-me de lá...
Antonio chega em casa altas horas, decepcionado, depois de embebedar-se na hospedaria e na casa de Candinha da Serra. Sampaio o aguarda sentado em sua velha poltrona de couro no canto da sala.
SAMPAIO: Por onde andou senhor Antonio? Eu posso saber?
Continua amanhã...
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