9 de outubro de 2013

ENCONTRO DO SÉCULO - Cap. 17 e 18


No capítulo anterior...
Beija é insultada na missa pela beata Idalina
A fanática convence os presentes a se retirarem da igreja
O Padre e as prostitutas consolam Beija
Ela chora e se arrepende de ter voltado a Araxá
O ex-noivo, Antonio, adentra a sacristia e se depara com Beija.

CAP. 17

ANTONIO (sem tirar os olhos de Beija): Me desculpe, Padre. Eu não sabia que o senhor estava acompanhado.
BEIJA (esboçando um sorriso, depois de tantas lágrimas): Antônio, como vai?
ANTONIO (tentando parecer indiferente): Como Deus quer. E você?
BEIJA: Também, como Deus quer.
PADRE: Antonio, se o que você tem pra conversar comigo não for realmente importante, peço que volte outra hora...
ANTONIO: Entendo, Padre. Já soube do que houve aqui mais cedo... Posso voltar outra hora...
BEIJA: É verdade, Antonio, que você... (mudando de idéia - Ela pretendia falar da ida dele a Paracatu) Nada, deixa pra lá... Melhor esquecer.
ANTONIO: Eu volto depois para falar com o senhor, Padre. Até mais ver (vira as costas e sai).

Beija caminha até a janela e fica observando o ex-noivo até que ele monte o cavalo e parta.

PADRE: Beija, minha filha, vejo que aqueles sentimentos continuam os mesmos de dois anos atrás... Por todo este tempo só estiveram adormecidos...
BEIJA: Do que o senhor está falando, vigário?
PADRE: Do seu amor por Antonio Sampaio...
BEIJA: Nossa, está tão na cara assim?
PADRE: Seus olhos brilharam quando ele entrou na sacristia. Onde está aquela mulher que estava aos prantos? Tudo passou com a presença dele... Seus olhos o seguiram até desaparecer no horizonte...
BEIJA: Para o senhor eu não preciso mentir. Na verdade nunca o esqueci. Apesar de tudo o que me aconteceu, acho que só vivi por esse dia: reencontrá-lo e dizer-lhe o quanto o amo...
PADRE: Mas não se iluda. A situação agora é outra... Acho que dificilmente a tradicional família Sampaio permitiria sua união com Antonio...
BEIJA: Eu sei disso. Mas não tenho pressa. Quem sabe daqui a algum tempo, levando uma vida digna e honesta aqui no arraial, como antigamente, não volte a ser merecedora da confiança de todos, inclusive da família Sampaio?
PADRE: Para Deus nada é impossível, basta ter fé, minha filha...

Mais tarde, Fortunato e o delegado Belegarde visitam a amiga. Tomam um chá na varanda.

BELEGARDE: Ainda bem que não fui à missa hoje. Levantei com muita dor nas costas e resolvi ficar em casa.
FORTUNATO: Felizmente nem em missa eu vou. Sou ateu confesso! Religião nada mais é que uma ferramenta de dominação das mentes fracas!
BEIJA: Vocês não perderam nada... Me arrependi amargamente de ter pisado lá...
BELEGARDE: Não se importe com isso, Beija, essas beatas não têm o que fazer...
FORTUNATO: (cheio de malícia) É um bando de solteironas que nunca provaram os prazeres da vida (risos)...
BELEGARDE: De prazeres você entende, não é, amigo Fortunato? Também, não sai da Rua da Lama... (risos)
BEIJA (se divertindo): Ah, meus amigos... Só vocês mesmo para me fazer sorrir depois de um dia de tanto desgosto... Obrigado por serem meus amigos.
FORTUNATO: É um prazer termos Beija como nossa amiga, e saiba que sempre estaremos do seu lado, para o que der e vier...
BELEGARDE (atacando mais um brioche): Ainda mais com uns biscoitinhos gostosos como esses, estaremos sempre por perto (risos)...

Enquanto isso, no curral da fazenda, durante a ordenha da tarde...

VADO, o capataz: Fale a verdade, Antonio, ocê foi até aquela sacristia somente para ver Beija, não foi?
ANTONIO (evasivo): Não... Fui falar do meu casamento com Aninha Felizardo...
VADO: Olhe aqui nos meus olhos e me responda uma coisa: Você ainda ama Beija, não ama?

Antonio hesita em responder.

Continua...



No capítulo anterior...
Antonio tenta ser indiferente ao reencontrar Beija
O padre a adverte sobre a família do ex-noivo
Os amigos consolam Beija depois do escândalo na igreja
Vado pressiona Antonio e tenta descobrir seus verdadeiros sentimentos

CAP. 18

VADO: Me responda, Antonio, você ama ou não ama Beija?
ANTONIO (pensando entre uma frase e outra): Isso é uma coisa muito difícil de responder... A situação agora é outra... Beija é uma mulher dama... Eu estou noivo de Aninha Felizardo... Acho que cada um de nós vai ter de seguir o seu caminho...
VADO: Não foi essa a pergunta que eu te fiz...
ANTONIO (taxativo): Com amor ou sem amor, agora é tarde... (mudando o tom) E agora vamo continuar tirando o leite que o sol tá quase abaixando...

A poucos metros dali, na varanda da casa grande, tomando um saboroso café quente...

CECI: Acho que a solução agora é apressar o casamento com Aninha... Antonio sempre foi um homem de responsabilidade. Não há de voltar atrás no compromisso assumido.
SAMPAIO: Não sei não... Tenho cá as minhas dúvidas... Pra mim Antonio ainda sente alguma coisa por Beija...
CECI: Você acha mesmo?
SAMPAIO: Quase certeza. Teve aquela ida dele em Paracatu, que embora negue seguidas vezes, não me convence... Hoje já arrumou desculpa para ir conversar com o vigário. Depois eu soube que ela estava lá...
CECI: Essa mulher só pode ter feito algum feitiço para deixar nosso filho assim. Já não é o bastante o posto de “moça do ouvidor” e todo o dinheiro que ganhou lá? Tinha que voltar para nos infernizar? Porque não ficou por lá mesmo?
SAMPAIO: Oras, certamente o Ouvidor não quis levá-la... É casado, tem mulher e filhos na Corte...
CECI: Não tenho liberdade para falar desses assuntos com Antonio, mas você poderia ter uma conversa franca com ele... Sondar seus planos... E não deixe por menos, imponha sua vontade.

Na manhã seguinte, enquanto verificam os chiqueiros...

SAMPAIO: Filho, me diga uma coisa. Você e Aninha Felizardo, como estão?
ANTONIO (fingindo não entender): Estamos bem, meu pai.
SAMPAIO: Eu sei, mas estou perguntando do casamento...
ANTONIO: (sem saber o que responder) Ah... Casamento... Uai... O senhor não acha que tá um pouco cedo pra falar disso? Começamos a nos conhecer melhor há pouco mais de seis meses...
SAMPAIO: Com seis meses sua mãe e eu já estávamos casados e ela esperando você...
ANTONIO: Ah, pai, mas os tempos eram outros...
SAMPAIO: Os tempos são os mesmos, meu filho, o que muda é o seu interesse em constituir ou não a sua família...
ANTONIO: Interesse eu tenho, pai...
SAMPAIO (conclusivo): Você já respondeu o que eu queria saber.

Três dias depois, à noite. Antonio caminha de um lado para outro do estábulo enquanto Vado observa e tenta adivinhar o motivo de sua ansiedade.

VADO: O que você tem, hôme, que não para de andar de um lado pro outro?
ANTONIO (impaciente): nada, Vado. Não tenho nada. Me deixe!

Momentos depois...

ANTONIO: Quer saber de uma coisa? Eu vou lá. E vai ser agora!

Ele monta no cavalo e sai galopando. Vado fica sem entender...

Continua amanhã...


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