23 de outubro de 2013

ENCONTRO DO SÉCULO - Cap. 41 e 42



No capítulo anterior...
O Visconde de Perdizes ignora os escravos
Mas muda completamente de atitude com a presença de Beija
Ela adquire um belo sobrado na Rua do Ouvidor
Chega o Natal e Beija não conhece praticamente ninguém na cidade
Para não ficar sozinha, convida as escravas para cear com ela

CAP. 41

BEIJA: Como dizia meu avô, Natal é uma noite muito especial. Vamos celebrar o nascimento de Jesus. Noite de muita paz, amor e harmonia...
FLAVIANA: A Sinhá se pensa muito do Sinhô João, num é?
BEIJA (relembrando): Sim. Ele me levava à Missa do Galo, mesmo sabendo que dormiria a missa toda, mas dizia que eu precisava crescer nos bons costumes... Depois minha mãe servia a ceia e comíamos só nós três, felizes... Muito felizes...
SEVERINA: Pena que aqui a gente não conheça ninguém...
BEIJA: É normal que ainda não tenhamos grandes amigos aqui, afinal de contas acabamos de chegar. Mas estejam certas de uma coisa: um dia ainda vou ter essa cidade aos meus pés...

As três ceiam e conversam num clima bastante amistoso. Falam de suas famílias, dos Natais passados, dos sonhos de paz, saúde e prosperidade. Beija faz questão de dar a maior atenção às escravas e as trata como se fossem convidadas ilustres, deixando-as pouco à vontade no papel de visitas.

No dia seguinte, durante o café da manhã...

SEVERINA: Sinhá, o que faremos com aquele tanto de comida que sobrou da ceia de ontem?
BEIJA: Bem lembrado. Me chame Moisés e Josué que tenho um servicinho pra eles.

Pouco depois os escravos adentram o recinto.

BEIJA: Quero que dêem uma volta aí pela cidade e procurem por pessoas pobres, aleijados, mendigos, negros, brancos e os convidem para vir aqui em casa na hora do almoço.
JOSUÉ: Mais o que essa gente vem fazê aqui, Sinhá?
BEIJA: Quero servir um almoço de Natal para todos eles. E vocês não me apareçam aqui com menos de vinte ou trinta pessoas, certo?
MOISÉS: Nhá sim.

Por volta das doze horas Moisés e Josué retornam com mais de duas dezenas de pessoas humildes e maltrapilhas. Beija os recebe, com atenção, nos jardins do sobrado. Severina e Flaviana começam a fazer os pratos e a distribuir para os convidados, que vão se acomodando como podem.

Em pleno almoço o Visconde de Perdizes se posta no portão, tão admirado que pergunta para si mesmo.

PERDIZES: Meu Deus! O quê está acontecendo aqui?

Continua...



No capítulo anterior...
Sem companhia para a ceia de Natal a patroa convida as escravas
Elas falam do finado Sr. João, avô de Beija
A patroa manda que os escravos convidem os mendigos
Beija serve um almoço de Natal para os pobres e necessitados
O Visconde de Perdizes chega e se assusta com a movimentação

CAP. 42

Moisés percebe a presença do Visconde e seu desconforto diante da situação e avisa a patroa.

MOISÉS: Sinhá, o Visconde de Perdizes tá no portão e parece bastante embaraçado com esse tanto de gente aqui no Jardim...
BEIJA: Pode deixar, Moisés, vou recebê-lo.

Ela vai ao encontro do cavalheiro e o conduz para a sala de visitas do sobrado.

PERDIZES: Perdão, Beija, não sabia que você estava ocupada.
BEIJA: Não tanto que não possa lhe dedicar alguns minutos.
PERDIZES: Permita-me a intromissão, mas... (meio embaraçado) Porque recebe essas pessoas na sua casa?
BEIJA: Para praticar o bom hábito da caridade... Sou uma pessoa muito grata a Deus pelo muito que me deu. Sinto-me na obrigação de dividir com os menos favorecidos...
PERDIZES: Entendo. Mas não seria mais prático que distribuísse a comida lá pelas ruas mesmo?
BEIJA: Prático seria, mas não daria a elas o prazer de serem bem tratadas, bem recebidas, acolhidas...
PERDIZES: Você me surpreende a cada dia... É uma mulher de sentimentos muito nobres...
BEIJA: Mas não foi para falar da nobreza dos meus sentimentos que o senhor veio aqui...
PERDIZES: Certamente que não, embora eles sejam um aperitivo para a nossa conversa. Vim para lhe fazer um convite.
BEIJA (empolgada): Convite?
PERDIZES: Sim, para um baile em homenagem ao Visconde de Andaluz, que está de partida para Portugal. E o principal: com a presença do Príncipe Regente.
BEIJA: Muito gentil de sua parte. Convite aceito.
PERDIZES: Agora volte para seus convidados, não quero lhe atrapalhar...

Beija volta para o jardim ainda mais animada. A idéia de conhecer o Príncipe Regente lhe enche de alegria.

Chega o dia do Baile. O salão está lotado de nobres.

PERDIZES (ao ouvido de Beija): Na medida do possível vou lhe apresentar à nobreza brasileira. Muitos estão curiosos em saber quem é esta estranha... (risos)
BEIJA: Huuummm, isso é bom... (pausa) Mas e o Príncipe, já não deveria ter chegado?

Continua amanhã...


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