17 de outubro de 2013

ENCONTRO DO SÉCULO - Cap. 31 e 32



No capítulo anterior...
Felizardo procura Sampaio para tirar satisfações
Sampaio mente que mandou Antonio procurar Beija
Garante ainda que o casamento está confirmado
Beija relembra o avô e chora na partida da fazenda

CAP. 31

Severina e Beija embarcam na charrete e seguem. Na passagem pelo arraial muitos se aglomeram na porta da hospedaria para ver sua partida.

FORTUNATO (se aproximando do veículo): Tem certeza que vai mesmo nos deixar, minha querida?
BEIJA: Não vou lhes deixar... Meus verdadeiros amigos estarão sempre aqui (apertando a mão contra o peito) no fundo do meu coração...
PADRE ARANHA: Você está mesmo segura do que está fazendo, minha filha?
BEIJA: Estou, vigário. Não poderia viver aqui da forma que estava...
PADRE: Mas você mal chegou, não deu tempo ao tempo...
BEIJA: Parece que tem feridas que não cicatrizam nunca, Padre. Tanto tempo se passou e tudo continua como se tivesse sido ontem.
PADRE: Você me parece tão convicta que não me resta outra alternativa senão lhe desejar sorte na sua nova vida.
BEIJA: Isso, Padre, me deseje sorte, muita sorte!

Ela acena para todos e a comitiva parte rumo ao Rio de Janeiro. À distância Antonio observa tudo. Pouco depois, quando as coisas se acalmam, ele procura o vigário na sacristia.

ANTONIO (com voz embargada): Padre... Ela se foi...
PADRE: Sim, filho, foi tentar a vida no Rio de Janeiro.
ANTONIO: Mais uma vez eu fui fraco! Não fui capaz de lutar pelo nosso amor.
PADRE: Não se culpe por isso, tem coisas que não são pra ser...
ANTONIO: Beija tinha razão, eu não fui capaz de lutar por ela!
PADRE: Não dependia apenas de você. Já é um homem noivo, compromissado com outra. Não vale a pena ficar lutando contra o destino.
ANTONIO: Mesmo quando a gente quer muito esse outro destino?
PADRE: Mesmo assim... Você sofrerá um pouco agora, mas no futuro entenderá que tudo aconteceu para o seu bem.
ANTONIO (mais confortado): Será mesmo, vigário?
PADRE: Filho, Deus escreve certo por linhas tortas. Se Ele quis assim, é porque assim será melhor para todos.

Mais tarde, Antonio e Vado conversam na varanda da fazenda.

VADO: Foi bom ter acontecido assim, porque agora ocê tira essa mulher da cabeça de uma vez por todas.
ANTONIO: Não sei... Ela ficou em Paracatu dois anos e não passei um único dia sem pensar nela.
VADO: Deixa de ser besta, hôme, ocê agora vai casar com outra. Vai ter mulher a hora que quiser... Daqui uns dia nem vai mais lembrar de Beija...
ANTONIO: Sei não, Vado, sei não... Depois de tudo que a gente viveu nesses últimos dias, tantas noites de amor, de paixão, acho muito difícil esquecer Beija.

O coronel os surpreende.

SAMPAIO: Do quê mesmo que os senhores estão falando?

Continua...



No capítulo anterior...
Beija chora na despedida da fazenda
No arraial Padre Aranha e Fortunato tentam evitar, mas ela parte
Antonio vai se consolar com o vigário
Depois conversa com Vado, mas são surpreendidos por Sampaio

CAP. 32

SAMPAIO: Posso saber qual é o assunto? (e antes da resposta) Aliás, nem precisam me responder. Sei que falavam de Beija.
ANTONIO (tentando desconversar): Esse assunto é página virada, meu pai...
SAMPAIO: Não parece... Se fosse mesmo o senhor não teria ido ao arraial pra acompanhar a partida daquela lá...
VADO (tentando contornar): Não, seu Sampaio, Antonio foi ao arraial pra/
SAMPAIO (cortando): Ver a partida de Beija. Deixe de ser capacho de Antonio, Vado! Não precisa tentar me enganar que não sou trouxa! Conheço muito bem o filho que tenho. (pausa) O que me serve de consolo é que aquela lá se foi. E se Deus quiser, pra nunca mais voltar!

QUINZE DIAS DEPOIS...

A comitiva de Beija se aproxima de Vila Rica, a capital das Minas Gerais.

BEIJA: Moisés, pare no primeiro riacho que encontrar, para descansarmos um pouco. Estou exausta e creio que os animais também.

Logo adiante a estrada desemboca nas margens de um caudaloso riacho. A ordem da patroa é atendida.

BEIJA: Vamos fincar acampamento e dormir aqui. Mas primeiro tomem um banho, descansem um pouco. Façam o de sempre: homens abaixo e só voltem quando eu chamar.
JOSUÉ: Preferimo tomá banho depois, Sinhá. Depois de armá o acampamento...
BEIJA: Vocês quem sabem. Mas pelo menos descansem um pouco. Estamos na estrada desde a madrugada.
JOSUÉ: Nhá sim.

Em seguida os escravos armam três barracas: uma para a patroa, uma para os homens e outra para as mulheres, espalham alguns tamboretes e alguns colchões de palha.

BEIJA: Flaviana, prepare um jantar dos bons. Estou faminta e com vontade de comer carne de porco. Separe para mim um doce de figo e um de leite, para a sobremesa. E antes de tudo, me prepare um cafezinho fresco.

Os homens acendem o fogo enquanto as escravas preparam a comida. As carnes, os doces e o café, além de outros preparados foram trazidos de Araxá e viajam acondicionados em latas. As pousadas eram escassas e cada comitiva se via obrigada a transportar a maioria dos gêneros de que precisasse para toda a viagem.

Minutos depois um elegante e bem vestido cavalheiro se aproxima, montando seu cavalo baio. Sob o olhar de curiosidade de todos. Ele apeia e se aproxima de Beija.

LOURENÇO (beijando-lhe a mão): Encantado, Senhorita.

Continua amanhã...

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