14 de outubro de 2013

ENCONTRO DO SÉCULO - Cap. 25 e 26



No capitulo anterior...
Antonio comunica seu casamento com Aninha Felizardo
Beija fica decepcionada
Antonio fala das dificuldades que o relacionamento deles enfrentaria
Diz que o pai o deserdaria e o expulsaria de casa
Beija propõe mudar de Araxá e sustentar Antonio

CAP. 25

BEIJA: Vamos embora daqui, de uma vez por todas, viver o nosso amor?
ANTONIO: E ser um homem sustentado pela mulher? Isso nunca!
BEIJA: Está vendo? Você não faz nenhuma concessão para ficar comigo, não abre mão de nada! Nem da sua família, do casamento com aquela infeliz, nem do seu orgulho besta, nada!
ANTONIO: Isso não é verdade. Fiz muito para ficar com você. Até a Paracatu eu fui...
BEIJA: E porque não me procurou? Teria abandonado tudo e fugido com você...
ANTONIO: A Beija que eu vi em Paracatu não era a Beija que conhecia. Você estava tão feliz e sorridente nos braços do Ouvidor que sequer me atrevi a interromper sua felicidade...
BEIJA: Fingimento! Tudo fingimento! Nunca fui feliz ali. Me comportava daquele jeito tentando enganar a mim mesma e aos outros... Por que não me procurou, Antonio?

(Pausa) Beija chora enquanto Antonio tem uma certa dificuldade para lidar com a situação.

ANTONIO: É melhor deixarmos que as coisas sigam seu caminho natural. Cada um segue o seu caminho. Quem sabe daqui a algum tempo as coisas mudam?
BEIJA (irônica): Mudam... Depois que estiver casado, cheio de filhos... Muda o quê? Vou ter que me contentar com as sobras de Aninha Felizardo? Agora sou eu quem digo: isso nunca! (decidida) Aliás, Antonio, sua escolha já foi feita e veio aqui apenas me comunicar sua decisão. Pois bem, o comunicado foi feito e você já pode se retirar.
ANTONIO: Calma, Beija, não é bem assim... Calma...
BEIJA (empurrando-o até a porta): Vá embora, Antonio e não volte nunca mais! Passar bem, senhor Antonio Sampaio, passar bem (e bate a porta).

Ela escora na porta e chora amargamente. Pouco depois Severina corre em socorro da patroa.

SEVERINA (levantando-a): Não fique assim... A Sinhá não pode sofrer desse jeito... Ele não merece.
BEIJA (chorosa): Você ouviu, Severina? Ele não abre mão de nada para ficar comigo... Nada...
SEVERINA: Vamos para o quarto. A Sinhá precisa descansar um pouco. Vou lhe preparar uma sopinha de legumes bem gostosa...

Na manhã seguinte, no pasto da fazenda dos Sampaio...

VADO: E como ficou a sua situação com Beija?
ANTONIO: Acho que rompemos de vez...
VADO: Ocê fez o que devia fazer. Esse caso d’oceis não tinha futuro mesmo. Ainda mais contra a vontade do seu Sampaio e da dona Ceci... Ocê fez a coisa certa.
ANTONIO: Fiz, Vado, mas meu coração está partido em pedaços. Eu amo Beija e nunca deixei de sonhar com o dia que voltasse para São Domingos. Pensava que bastava ela pisar aqui pra gente reatar e viver nossa história... E agora as coisas acontecem dessa maneira...
VADO: Seu relacionamento com Beija nunca daria certo... Imagina, com quantos hôme ela num deve ter se deitado em Paracatu... Cada vez que ocê fosse num lugar ficaria morrendo de medo que algum lhe apontasse o dedo, debochasse da sua cara... Já pensou nisso?
ANTONIO: Já, já pensei sim. E meteria bala na cara do primeiro engraçadinho que se atrevesse a tanto... (pausa) Pensando bem, você tem razão: foi melhor assim... Melhor cortar o mal pela raiz. Agora eu preciso é sufocar esse sentimento dentro de mim... Preciso matar esse amor que sinto no meu peito...

Beija reúne para um jantar especial o Padre Aranha, Fortunato, Belegarde. Os escravos Moisés, Josué, Flaviana e Severina se postam na entrada da sala.

BEIJA: Meus amigos, meus empregados, diante dos últimos acontecimentos, diante do meu desentendimento com Dona Ceci e meu rompimento com Antonio Sampaio, resolvi convocá-los porque tomei uma importante decisão, talvez a mais importante da minha vida.

Continua ...



No capítulo anterior...
Beija propõe a Antonio que se mudem de Araxá
Ele recusa, pois não admite ser sustentado por mulher
Após muitas cobranças acabam rompendo
Vado convence o amigo de que fez a coisa certa
Beija reúne os amigos e os escravos para um importante comunicado

CAP. 26

FORTUNATO: E que decisão tão importante é essa?
PADRE ARANHA: Por que tanta formalidade, filha?
BEIJA: Vou-me embora de Araxá. (diante do espanto de todos) Não façam essas caras, senhores, não morri, apenas vou me mudar deste lugar.
BELEGARDE: Mas, Beija, você mal chegou ao nosso arraial...
FORTUNATO: E já vai embora? Por quê?
BEIJA: Já disse, senhores, um dos motivos da minha volta era Antonio Sampaio e agora que rompemos, não vou ficar aqui para assistir seu casamento com Aninha Felizardo.
PADRE: Filha, mas a solução dos problemas está dentro de você. Não adianta mudar de lugar que eles lhe seguirão do mesmo jeito...
BEIJA: Pode ser, Padre, pode ser. Mas acredito que morando em um outro lugar, onde ninguém me conheça, possa apagar de vez todo esse pesadelo que vivi e recomeçar tudo de novo.
FORTUNATO: E você já decidiu para onde vai?
BEIJA: Para a Corte, aliás era para lá que deveria ter ido desde o início. Meu retorno a Araxá só me trouxe problemas e desgosto.
BELEGARDE: Não diga isso. Sua chegada nos encheu de felicidade, trouxe a luz para esse arraial...
BEIJA: Obrigado meu amigos. Obrigado pelo carinho, pela sinceridade. Sentirei muito a falta de vocês.
PADRE: Essa decisão é definitiva, ou podemos tentar demovê-la da idéia ainda?
BEIJA: É definitiva. Estou segura disso. (Mudando de assunto) E agora vamos comer. Pedi a Severina que preparasse um prato especial, para essa ocasião tão especial. (e para a escrava) Pode servir a mesa...

Horas mais tarde no arraial, na escadaria da igreja...

FORTUNATO: E se Antonio pedisse a Beija que ficasse? Será que não atenderia a um pedido dele?
BELEGARDE: Mas não estão rompidos?
PADRE ARANHA: Conhecendo Beija como conheço, posso apostar que não voltaria atrás. Aquela ali sabe ser tinhosa. E digo mais aos senhores: ela pode ficar irritada caso um de vocês comente algo com Antonio...
FORTUNATO: Bem, já que não podemos agir, sei muito bem como fazer essa notícia chegar aos ouvidos de Antonio... Deixe comigo...
PADRE (reprovando): Fortunato, Fortunato... Você e seus “jeitinhos”... Cuidado...

Naquela mesma noite Fortunato se dirige à hospedaria, onde os homens do arraial costumam se encontrar para beber, jogar cartas e conversar. O boticário, de propósito, faz questão de comentar sobre a partida de Beija bem ao lado de Vado, pois sendo este o melhor amigo de Antonio fará o papel de pombo-correio.

No dia seguinte Beija e Severina acomodam algumas tralhas nas bruacas quando alguém bate insistente à porta. A escrava abre e antes que diga qualquer palavra Antonio adentra a sala apressado.

BEIJA (assustada): O que o senhor quer aqui?

Continua amanhã...





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