No capítulo anterior...
Sampaio surpreende Antonio e Vado falando de Beija
Ele reprova a atitude do filho mas fica aliviado com a partida dela
Perto de Vila Rica, Beija ordena que a comitiva pare para dormir
Um cavalheiro elegante se aproxima do grupo
CAP. 33
LOURENÇO: Perdoe-me, Senhorita, mas não pude deixar de notar sua comitiva e movido por imensa curiosidade resolvi tomar a iniciativa de travar um contato.
BEIJA: Está perdoado, desde que o senhor nos diga se estamos no caminho certo para o Rio de Janeiro.
LOURENÇO:
Sim. Este caminho leva ao Rio de Janeiro, mas algumas léguas adiante a
senhorita passará por Vila Rica, a maior de todas as vilas das Minas
Gerais.
BEIJA: Já ouvi falar muito de Vila Rica. Tenho curiosidade em conhecer.
LOURENÇO: E não se decepcionará. É um lugar encantador, movimentado, cheio de vida.
BEIJA: O cavalheiro não quer se sentar? (e para a escrava) Severina, prepare um café para o nosso visitante.
LOURENÇO: Agradecido.
O convidado se acomoda na rústica sala de jantar improvisada sob uma das tendas. A conversa flui de forma agradável, até que um detalhe lhe aguça a curiosidade.
LOURENÇO: E onde estão seus pais? A Senhorita me parece tão jovem, certamente viaja em companhia de outros familiares...
BEIJA: Não tenho familiares. Meus pais e meu avô já são falecidos. Agora sou eu quem guio o meu destino.
LOURENÇO: Entendo... (pausa) Permita-me a indiscrição, mas a senhorita já me disse que está a caminho do Rio de Janeiro... E de onde vem?
BEIJA: De Araxá. São Domingos dos Arachás...
LOURENÇO:
Sei, a terra das águas... Tenho um compadre que comprou terras por lá.
Dizem que a água é salgada e o gado nem precisa comer sal comprado...
BEIJA: É verdade. Esta característica da água tem atraído muitos fazendeiros para a região...
LOURENÇO:
Dizem por aqui que as coisas melhoram muito depois que os julgados de
Araxá e Desemboque foram incorporados à Capitania de Minas Gerais.
BEIJA: Sim, é verdade. O governo de Goiás não se fazia muito presente naquela região. Aquilo parecia mais a terra de ninguém...
LOURENÇO: Percebo que a senhorita é profunda conhecedora dos assuntos da política, o que é muito raro para uma donzela...
BEIJA:
Gosto muito de política. É um assunto que me apraz. Por outro lado,
durante dois anos foi só o que respirei nos salões de Paracatu do
Príncipe...
LOURENÇO (admirado):
Paracatu do Príncipe? Então a senhorita deve conhecer a famosa Dona
Beija, a mulher que mudou o mapa das Minas Gerais...
BEIJA (disfarçando o sorriso): Sim, conheço muito bem... Desde que nasci...
LOURENÇO (boquiaberto): A senhorita, quer dizer... Senhora... É Dona Beija?
Continua...
No capítulo anterior
O cavalheiro se aproxima da comitiva
Beija o convida para tomar um café
A conversa flui de forma agradável
Lourenço fica extasiado ao descobrir que se trata de Dona Beija
CAP. 34
LOURENÇO: Não me diga que estou diante de Dona Beija!
BEIJA: Eu mesma, em carne e osso. (instante) Decepcionado?
LOURENÇO: De forma alguma! A senhora é muito mais do que ouvia dizer...
BEIJA: Quer dizer que essa história dos julgados chegou à Vila Rica?
LOURENÇO: Esta e muitas outras. Muita gente aqui morre de curiosidade em conhecer Dona Beija. (pensativo por instantes) Aliás, se permite, gostaria de oferecer uma festa em sua homenagem.
BEIJA: Mas estou apenas de passagem...
LOURENÇO: Em uma semana organizo tudo. Enquanto isso a senhora será minha hóspede, juntamente com toda a sua comitiva.
BEIJA: Como posso aceitar um convite se sequer sei o seu nome?
LOURENÇO:
Perdoe-me. Fiquei tão encantado desde o primeiro instante em que a vi
que até esqueci de apresentar-me. Sou o coronel Lourenço Tavares de
Carvalho (e beija-lhe a mão novamente)
BEIJA: Seu nome não me é estranho... Já havia ouvido falar do senhor em Paracatu. Fazendeiro, político e influente líder da região, certo?
LOURENÇO (em tom de modéstia): Em partes...
BEIJA: Está bem, coronel Lourenço, convite aceito.
Como o acampamento já estava todo armado, Beija resolve permanecer e só na manhã seguinte a comitiva se dirige para a fazenda do coronel Lourenço, algumas léguas adiante, já bem próximo de Vila Rica.
Severina e Beija cavalgam pela propriedade para conhecer, seguidas à distância por Moisés, que faz a segurança.
SEVERINA: Sinhá, o coronel Lourenço é um verdadeiro cavalheiro. Está cercando a Sinhá de mimos...
BEIJA: Conheço muito bem os homens, Severina, sei muito bem onde isso vai dar...
SEVERINA: A Sinhá acha que ele...
BEIJA:
Sim, como todos os outros, o que quer é uma noite de amor... Quando
disse que sabia de muitas histórias de Paracatu, ao quê você acha que
estava se referindo?
SEVERINA: É, muito provavelmente alguém tenha comentado alguma coisa aqui...
BEIJA: Os homens adoram alardear as suas conquistas... Isso é assim desde que o mundo é mundo...
SEVERINA: E a Sinhá pretende ceder aos caprichos dele?
Continua amanhã...
Nenhum comentário:
Postar um comentário