11 de outubro de 2013

ENCONTRO DO SÉCULO - Cap. 21 e 22


No capítulo anterior...
Antonio chega da casa de Beija e é surpreendido pelo pai
Vado descobre onde ele passou a noite
Antonio e Beija estão em estado de êxtase pela noite de amor
Vado mostra a Antonio sua dura realidade

CAP. 21
VADO: Me diga, Tonho, o quê que ocê vai fazer agora? Vai assumir seu romance com Beija e comprar briga com o resto do mundo?
ANTONIO: É, meu amigo, talvez você tenha razão... A minha situação tá muito mais complicada do que imaginava...
VADO: Eu sei que ocê gosta dela e está deslumbrado com essa noite de amor, mas ocê não pode apagar o passado dela, fingir que nada aconteceu... Beija é mulher dama. Já pensou quando ocê sair pelo arraiá e todo mundo ficar te apontando, comentando? Ocê tá preparado pra isso?
ANTONIO: Sinceramente, acho que não...
VADO: Ocê é um hôme de sangue quente... Vai meter bala na cara do primeiro que fizer gracinha com a sua cara... Eu te conheço...
ANTONIO: E ainda tem o meu pai e a minha mãe... Ela eu ainda levo na conversa, mas o velho Sampaio é um galho que não enverga de jeito nenhum... Aquilo ali, depois de bater o pé... Acabou!
VADO: Então... Pense um pouco, hôme... Isso não pode dar certo. É melhor ocê tomar juízo agora para evitar complicação depois...
ANTONIO: Então você acha que minha melhor alternativa é casar com Aninha e ficar quieto no canto?
VADO: É Tonho... Pode não ser a que ocê quer, mas com certeza é a melhor...
ANTONIO: Mas e Beija, o que eu faço com ela? Não consigo tirar aquela mulher da minha cabeça...

Nos dias seguintes Antonio volta várias vezes à chácara e as noites de amor se sucedem. O clima de paixão e envolvimento é total. Porém Beija desconhece as barreiras que este amor está por enfrentar e Antonio é atormentado por muitos questionamentos.

BEIJA: Estou tão feliz, Antonio... Cheia de planos, de energia... Pensei até em desistir de construir meu palacete na cidade... Acho que podemos ficar por aqui mesmo, na chácara...
ANTONIO: E por que ficar aqui?
BEIJA: Podemos encher essa casa de filhos e será melhor para as crianças uma casa espaçosa, na fazenda, com muito quintal para correr, brincar...
ANTONIO: Realmente você está empolgada mesmo...
BEIJA: Estou tão feliz com nosso reencontro, com tudo que estamos vivendo, que gostaria de sair correndo, gritando para o mundo inteiro, sabe? Espalhar essa felicidade, dividi-la com todos... (percebendo a indiferença dele) Engraçado... Parece que você não está muito empolgado... Aconteceu alguma coisa?
ANTONIO: Ainda não... Mas ando muito preocupado com essa situação toda. Não sei como a minha família vai reagir quando souber que estamos nos encontrando...
BEIJA: Oras, seus pais me adoram... Dona Ceci é minha segunda mãe... Não creio que isso seja o maior dos problemas...
ANTONIO: Não é bem assim, Beija. Tem toda a sua história com o Ouvidor... A morte do seu avô... O povo do arraial lhe acusa de ter matado seu João...
BEIJA: Meu Deus, mas será que as pessoas não vão se esquecer disso? Posso entender que essas acusações partam dos estranhos, mas não creio que venham de pessoas tão íntimas como seus pais...
ANTONIO: Uma coisa é certa, Beija: se quisermos levar em frente nosso relacionamento, vamos ter de enfrentar muitas barreiras... Muitas...

O clima de desilusão toma conta do ambiente... Aquela noite não seria como as outras...

No dia seguinte, inconformada com a situação e contra os conselhos da escrava Severina, Beija resolve visitar Dona Ceci para dissipar todas as dúvidas. Mal pode imaginar o que lhe aguarda...

BEIJA: Dona Ceci! Quanto tempo! Que saudades da minha segunda mãe!

Continua...



No capítulo anterior...
Antonio se convence de que sua situação é bastante complicada
Ao contrário, Beija sonha e faz muitos planos
Antonio tenta esclarecer alguns pontos, mas ela ignora
Beija resolve procurar Dona Ceci

CAP. 22

Beija está feliz por rever uma pessoa tão querida. Mas Dona Ceci não é a mesma de dois anos atrás...

CECI (fria): Como ousas, Beija, botar os seus pés na minha casa?
BEIJA (estranhando): Não entendo porque me tratas assim, tenho tanta consideração pela senhora...
CECI: E você por acaso tem consideração por alguém? Se não teve nem para com o seu próprio avô, porque teria comigo?
BEIJA: Me recuso a acreditar que a senhora também acredite num absurdo desses! Eu fui tão vítima quanto ele. Os homens do Ouvidor mataram o meu avô...
CECI: Não é isso que dizem por aí...
BEIJA: Por que faria uma crueldade dessas com meu próprio avô, a pessoa que mais amava no mundo?
CECI: Todos sabem, Beija... Todos sabem: para fugir com o Ouvidor e se tornar uma mulher rica... Todos comentam os olhares libidinosos que você lançava para Dr. Motta no baile do arraial...
BEIJA: Calúnias! Infâmias, inverdades, só isso! Fui tão vítima quanto o meu avô! (chorando) Fui arrancada da minha família, desonrada e obrigada a viver como esposa daquele canalha! Todos ficaram com pena do meu avô, mas em nenhum instante pensaram em mim!
CECI (debochando): Ora, Beija, não se faça de vítima. Guarde suas lágrimas para quem não lhe conhece de verdade e possa acreditar nas suas lamentações... De santa você não tem nada...
BEIJA (incrédula): A senhora parece outra pessoa... Nem parece aquela mulher que me amava, que tinha carinho por mim... Que dizia que me considerava como sua filha...
CECI (seca): Não tenho filhos assassinos! Porque é isso que você é: uma assassina!
BEIJA: A senhora não é a dona Ceci que eu conhecia...
CECI: Você também não... Hoje é uma mulher dama, uma rameira, uma frega. Rica e poderosa, mas é isso que você é: uma mulher de vida fácil! Aliás, o que veio fazer em São Domingos? Por que não ficou por lá mesmo, exercendo o ofício da libertinagem?
BEIJA: Motta era casado. Não poderia chegar acompanhado à Corte.
CECI: E por isso você voltou, para nos atormentar, para envergonhar nosso arraial e perturbar as famílias de bem desse lugar?
BEIJA: Voltei para tocar a minha vida, do lugar onde parei. Tomar posse das terras do meu avô, que por direito me pertencem...
CECI (irônica): Só falta dizer que ainda quer seu lugar ao lado de Antonio, casar, ter filhos do meu filho...
BEIJA (altiva): Isso também está nos meus planos, afinal de contas nos amamos desde crianças...
CECI (gritando): Só passando por cima do meu cadáver! (pausa) Além do mais, passa pela sua cabeça que Antonio a tomará por esposa? Uma mulher desonrada, falada até pelos cachorros do sertão das Gerais, que se enriqueceu deitando com uns e outros? Só se ele tivesse louco!
BEIJA (desafiando): Pois fique sabendo que Antonio está louco sim. Louco de amor por mim! E não é nada dessas sandices que ele diz quando está na minha cama! Ele só me diz palavras de amor, de carinho...
CECI (transtornada): Quer dizer que Antonio anda freqüentando a sua casa? Não posso acreditar!
BEIJA (zombando): Pelo visto seu filho é bem mais sensato que a senhora!
CECI (descontrolada, aos gritos): Fora daqui, Beija! Fora, rameira dos infernos! Mensageira de satanás! Você voltou para nos infernizar! Fora da minha casa, antes que eu a expulse daqui a pauladas! Fora Beija! Encarnação do demônio! Fora!

Continua amanhã...


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