No capítulo anterior...
- Ronaldo surpreende Joaquim dormindo no
alpendre e o espanca impiedosamente
- Helena tenta intervir, mas é ameaçada pelo
marido, que está fora de controle
- Joaquim é expulso de casa sob os olhares
admirados de vizinhos alcoviteiros
- O vizinho Joanildo oferece o caminhão para
que ele passe o resto da noite
CAP. 85
Ainda em estado de choque,
Joaquim demora em pegar no sono. Ele fica tentando imaginar o que fará de sua
vida agora. Finalmente adormece.
O dia amanhece.
Helena discute com o marido,
enquanto prepara o café da família.
HELENA: Você
não devia ter batido no menino daquele jeito. E muito menos ter posto ele na
rua feito um cachorro.
RONALDO: E
você queria que eu trouxesse ele aqui pra dentro, enfeitadinho daquele jeito,
parecendo uma penteadeira de puta?
HELENA: Mas
é o nosso filho, Ronaldo. É sangue do nosso sangue.
RONALDO: Tem
é que tomar vergonha na cara, arrumar um emprego e ir trabalhar igual aos
outros irmãos, não é ficar aí, de vadiagem, pra cima e pra baixo não.
HELENA: Eu
sempre achei que tinha alguma coisa diferente no Joaquim. Ele não era igual aos
outros. Sempre foi um menino meigo, educado, quieto... Ele não era agitado
igual as outras crianças, entende?
RONALDO: E
se notou alguma coisa errada, porque não falou antes? Esperou a coisa chegar a
esse ponto pra abrir o bico?
HELENA: Ora,
homem, como é que eu ia adivinhar uma coisa dessas? Que ele tinha inclinação
pras coisas de mulher, pra se vestir desse jeito? Nenhuma mãe nunca imagina uma
coisa dessas. Não imagina e nem quer imaginar! Eu achava ele educadinho, às
vezes até delicado, mas pensava que era só gentileza mesmo, que não tinha nada
a ver, que ele ia crescer, arrumar uma namorada, casar, igual todo mundo...
RONALDO: Agora
tá aí, essa vergonha pra família inteira! Já pensou quando a minha família
souber que o meu filho virou boiola? Meu pai vai bater na minha cara! E os
amigos lá da obra, já pensou a zoação que não vai ser com a minha cara? Mas eu
mato esse excomungado! Se ele quer virar viado, que vá viver bem longe da minha
casa. Aqui ele não põe mais os pés!
HELENA: Deus
me livre! Do jeito que você fala nem parece que você é o pai do menino! Que
Deus te perdoe por falar umas barbaridades dessas!
RONALDO: Eu
vou é embora trabalhar. Quem sabe assim eu esqueço dessa desgraceira toda. E
você não me deixa aquele aboiolado entrar aqui. Não quero saber daquele sujeito
aqui em casa! (e sai)
Em Ipatinga, Dadinho entra na
sala com sua mala na mão. É véspera de Natal e ele vai se reunir com sua
família numa cidade vizinha.
DADINHO: Tem
certeza que não quer ir comigo? O Natal lá em casa é legal, família grande,
muita comida, gente animada...
GILBERTO: Não,
prefiro ficar por aqui mesmo. Eu não conheço ninguém lá, vou ficar meio
deslocado... Sua família sabe de você?
DADINHO: Sabe
desde sempre. Eu rasguei o verbo desde pequeno. Lá não tem essa não... Também,
como esse meu jeitinho, né? Ia enganar quem?
GILBERTO: Mesmo?
Você contou assim na lata?
DADINHO: Meu
pai pegou meu tio no flagra fazendo coisas comigo... Na hora foi um escândalo,
mas depois passou. Também, todo mundo já tava careca de saber que eu era do
babado...
GILBERTO: Caramba!
Mesmo?
DADINHO: Hoje
eu sou mais quieto, também já tô na casa dos trinta, né querido, tenho que
tomar um pouco de juízo. Mas quando era novinho eu era do babado! Atendia os
coleguinhas da escola todos!
GILBERTO: Isso
você faz até hoje, né safado? (risos)
DADINHO: Mas
naquela época era bem pior...
GILBERTO: Mas
então, se eu for lá, todo mundo vai ficar pensando que a gente é enrolado, né?
DADINHO: Ah,
isso vai. Pode ter certeza. Mas ninguém esquenta com isso não...
GILBERTO: Ah
nem! Eu tenho vergonha. Fico constrangido com isso. Melhor eu ficar aqui mesmo.
DADINHO: Bom,
já que você não quer ir, eu vou indo, senão perco o ônibus. Então, pra você que
fica, Feliz Natal! (se abraçam)
GILBERTO: Feliz
Natal! E aproveite bastante.
Em Blumenau, Joana observa,
escondida, quando Ricardo e a esposa saem carregando malas, bolsas e as duas
crianças. A família embarca em um táxi, menos Ricardo.
Assim que o carro sai, Joana
vai até o outro lado da rua.
JOANA: Não
quis viajar com a família?
RICARDO: Não
pude. Tenho de trabalhar amanhã.
JOANA: Vai
passar o Natal sozinho?
RICARDO: Vou
ser obrigado.
JOANA: Huuuuummm.
Quem sabe mais tarde eu não venha te fazer uma visitinha?
Ricardo fica intrigado.
Continua amanhã...
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Você sabia?
Nenhuma
organização de profissionais de saúde mental apoia esforços para mudar a
orientação sexual das pessoas e, praticamente todas elas, adotaram declarações
políticas advertindo profissionais e o público sobre os tratamentos que se
propõem a mudar a orientação sexual. Estas incluem a Associação
Americana de Psiquiatria, Associação Americana de Psicologia, Associação
Nacional dos Trabalhadores Sociais dos Estados Unidos, Associação Americana de
Aconselhamento, o Royal College of Psychiatrists, Sociedade Australiana de
Psicologia e o Conselho Federal de
Psicologia do Brasil.
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