O homem de R$ 3 milhões
No recente troca-troca de profissionais que envolveu as emissoras Record e SBT, Augusto Liberato, o Gugu, foi o nome mais disputado. Depois de 35 anos trabalhando com Silvio Santos, e de ser apontado inúmeras vezes como sucessor do chefe, o apresentador trocou a casa pela sua principal concorrente na briga pelo segundo lugar da audiência. A mudança veio junto com o salário de R$ 3 milhões, um dos maiores da TV brasileira, e um contrato de oito anos. Sem maquiagem, Gugu recebeu a equipe do Meio & Mensagem no camarim recém-reformado especialmente para ele na Record. Durante a entrevista, falou sobre o rompimento com o ex-patrão, os novos programas – o de auditório e o de entrevistas -; os planos que traça para o futuro e a eterna rivalidade com o apresentador Fausto Silva, da Rede Globo. Sem se esquivar de responder a nenhuma pergunta, o fã de Oprah Winfrey comentou ainda os erros do passado (como a entrevista com falsos integrantes da facção criminosa PCC) e explicou o cunho assistencialista que prevalece no Programa do Gugu. “É uma tendência mundial”, garante.
Meio & Mensagem O que o atraiu no projeto da Record, além do salário de R$ 3 milhões?
Augusto Liberato – Nunca tive um contrato de oito anos. Um contrato dessa duração é raríssimo em qualquer segmento, ainda mais em televisão. Esse plano de carreira, para mim, foi fundamental. Saber que, além do meu programa de televisão de quatro horas aos domingos, posso ter um programa na Record News, de entrevistas, e fazer algo que na TV aberta ficaria mais difícil, porque é outro público, isso me atraiu.
M&M – Como será o programa de entrevistas?
Liberato – Estamos formatando. Contratamos o (jornalista) Daniel Castro, que era da Folha de S. Paulo, e ele já passou um projeto de formato para ser submetido à direção da Record. A proposta é bem interessante porque mescla entrevistas com a parte de humor, com stand ups durante a entrevista. O stand up fazendo graça em cima daquilo que foi falado. Não é nada definitivo. Assim que o pessoal liberar, fazemos o cenário.
M&M – Já tem previsão de estréia?
Liberato – Eu queria estrear o programa ontem. Mas dependo dos trâmites normais aqui da casa. A estreia pode ser ainda este ano. Podemos até estrear em novembro.
M&M – Voltando ao Programa do Gugu, quais são os diferenciais? Há quadros muito parecidos com o do Domingo Legal (que o apresentador comandava no SBT).
Liberato – Na verdade, eu trouxe aquilo que criei. Não é que estamos parecidos com o Domingo Legal. É que aquilo que criei junto com a minha equipe eu trouxe para cá. O quadro forte, Sonhar Mais um Sonho, um quadro de reformas de casas, que realmente construiu sonhos. Outro caso é o De volta pro meu Aconchego, que lá era o De Volta para a Minha Terra, que eu criei também. Então, trouxe aquilo que era criação minha e que dava certo lá e está dando certo aqui. Na verdade, o Programa do Gugu nunca vai ser um programa igual sempre. Ele pode ter uma espinha dorsal, com alguns quadros fixos, mas o público pede mudanças. E essas mudanças vão acontecer. Temos seis programas até agora, é pouco tempo para fazer uma pesquisa e saber a opinião das pessoas. É muito cedo para isso. Mas o programa vai sofrer modificações com o desgaste dos quadros, o que é natural. Isso aconteceu nesses 20 e poucos anos de SBT – acho que o Domingo Legal tem no ar mais de 15 anos. Ele mudou muito do começo até quando o deixei. E acho que vai mudar.
M&M – O Programa do Gugu na Record já teve ajustes?
Liberato – Sempre tem.
M&M – Você foi visto durante anos como o sucessor natural do Silvio Santos. Como foi romper esse laço?
Liberato – Nunca houve da minha parte interesse ou desejo de sucessão. Quem criou essa história de sucessão foi a imprensa. Até porque, sinceramente, uma pessoa do calibre e do talento do Silvio Santos não tem sucessor. Ele é, se existe este termo, “insucedível”. Se não existe, acabei de criar (risos).
M&M – De toda forma, foram 35 anos com o Sílvio. Era uma relação muito intensa.
Liberato – Entrei em abril de 1974, como office-boy. Tenho a carteira de trabalho assinada até hoje. Depois fui assistente de produção, produtor, diretor de programa, aí me formei em jornalismo pela Cásper Líbero (faculdade de São Paulo) e fui aos poucos galgando o meu lugar na emissora. É claro que, depois de 35 anos, é muito difícil sair de uma empresa. Mas, ao mesmo tempo, talvez isso tenha contribuído para eu sair. Porque depois de 35 anos, acho que os laços afetivos são muito fortes. É verdade. Mas o SBT hoje passa por uma transformação. Foi difícil de romper? Foi. Mas depois de 35 anos você quer novos desafios.
M&M – O Programa do Gugu na Record vai ao ar mais tarde do que o horário que você está acostumado a trabalhar. Por quê?
Liberato – É uma estratégia da emissora.
M&M – Mas isso ameniza a rivalidade clássica com o Fausto Silva, apresentador do Domingão do Faustão (da rede Globo). É parte da estratégia?
Liberato – Não sei se isso faz parte. Acho que, estrategicamente, optou-se pelo horário de 20h. Essa rivalidade que se criou com o Faustão… Eu fiz questão de mostrar para as pessoas que já comer a pizza do Faustão. É uma pessoa que eu respeito demais. Não freqüento a casa dele, mas admiro demais. Quando houve uma campanha da Nestlé, a campanha Junta Brasil, eu disse ao presidente da Nestlé, o (Ivan) Zurita: “O que você acha de chamar o Faustão e fazer uma rede nacional para o lançamento da campanha?”. Eu ao vivo no SBT, o Faustão na Globo, dividimos a tela ao meio. Você pode perguntar isso para o Zurita. A Globo concordou e fizemos juntos a campanha da Nestlé, que foi um case na época. Essa rivalidade é muito alimentada pela mídia. Faz parte.
M&M – Essa rivalidade despertou questionamentos sobre até que ponto se deveria ir pela disputa da audiência. Vimos algumas atrações de gosto muito duvidoso na televisão. Essa fase está ultrapassada? A propagação da internet e da TV paga tornou o consumidor mais consciente e tem contribuído para a qualidade da TV aberta?
Liberato – Erros, todos nós cometemos. Não só eu, como a concorrência. O que você não pode é insistir no erro. Errou, ok. Não erre mais. Estou lendo o livro do William Bonner (Jornal Nacional: Modo de Fazer) e em um determinado momento ele diz assim: “Nesses 40 anos de Jornal Nacional, erramos muito”. Isso aconteceu conosco, claro. Mas tentamos fazer aquilo que o público deseja sempre com a preocupação de não escorregar.
M&M – Já que falamos nos erros, o mais evidente da história do seu programa foi o da entrevista com os supostos integrantes do PCC. Isso respingou na sua imagem junto aos anunciantes. O episódio já está superado?
Liberato – Acho que sim. Quando fui à delegacia prestar o meu depoimento, o único que foi dirigindo o próprio automóvel fui eu. Os outros envolvidos foram todos escoltados porque estavam presos. Ora, estavam presos por crimes cometidos. Então, eu pergunto: todo mundo diz que eram supostos. Como você prova que eram supostos ou que eram realmente integrantes? Tem uma carteirinha? Eu sou de tal facção?
M&M – Você realmente não sabia que eles não faziam parte do PCC?
Liberato – Cheguei dirigindo o meu carro. Eles estavam todos presos. Por outros crimes. Disseram que não eram. Será que não eram mesmo? Eu disse isso para a juíza. Excelência eu queria que constasse que eu cheguei aqui dirigindo o meu carro e que os demais nunca vão dizer “eu sou da facção”. Como é que você prova. Naturalmente havia outros interesses, havia interesse de prejudicar o Gugu, de prejudicar a emissora. A concorrência se valeu disso de uma forma absurda, foram dois meses de críticas, enfim, batendo. Outro dia um jornalista me disse que dois daquele caso já morreram. A minha produção garantiu para mim que eram (membros do PCC). Se eles mentiram – podem até ter mentido. Agora, estranho estarem presos…
M&M – Mas está superado?
Liberato – O principal ponto é que neste ano de 2009, ano de crise global, tivemos um ótimo desempenho e crescimento, que veio das novas mídias, como internet – até nos surpreendeu. A Copa do Brasil, que foi fator fundamental, trouxe uma receita importante. Esses fatores nos levaram a números superiores.
M&M – No SBT, a sua empresa GGP (Gugu Produções) negociava o merchandising do programa. Na Record, como está essa relação?
Liberato – Sou contratado e o departamento comercial da Record tem total controle sobre merchandising, break, tudo. No SBT, o que acontecia nesse último contrato – porque antes os merchandisings eram da GGP- era uma sociedade nas despesas e nos lucros e nós tínhamos uma agência que vendia o merchandising. Aqui a relação é totalmente diferente.
M&M – O Programa do Gugu tem menos merchandising do que o Domingo Legal. Isso é uma estratégia para dar mais destaque aos anunciantes?
Liberato – É uma estratégia da casa. Fazer menos, mas mais elaborado, a um valor da concorrência (no caso, do primeiro lugar). A casa está muito preocupada em não poluir o programa com 10, 15, 30 merchandisings que pagam um valor muito pequeno. Desde o começo eles me avisaram que queriam ter cinco, seis merchandisings. Na época do Natal, oito. Mas vamos cobrar bem por isso.
M&M – Como é o trabalho de licenciamento de seus produtos?
Liberato – Existe uma empresa autorizada a fazer isso, a GM, mas a Record Entretenimento agora é parceira. Tudo aquilo que havia sido licenciado até eu entrar aqui, está preservado. Daqui para frente, é em conjunto com a Record Entretenimento.
M&M – Você chegou a ter planos de montar uma rede de televisão. Desistiu da ideia?
Liberato – Com a força da internet, realmente abandonei essa ideia. Tem coisas que você deve insistir até determinado ponto. Mantenho uma emissora de televisão, uma concessão em Cuiabá, que está no ar. Tínhamos algumas retransmissoras que foram vendidas já há alguns anos. Esse plano de ter uma rede de televisão é um jogo para gente grande, muito grande, para gente com muito dinheiro. Prefiro me dedicar ao meu programa (risos).
M&M – Certa vez, você disse que falava com emergentes sociais e que conhecia muito bem essas pessoas, porque também era uma delas. Esse continua a ser o seu público?
Liberato – A última pesquisa dá todas as classes sociais, A,B,C,D e E, de uma forma eu não diria homogênea. Temos uma predominância de classe C e D, mas temos classe A. O que aconteceu foi que, com o governo Lula, muita gente que estava lá em baixo, nas classes D e E, ascendeu à classe C. E esse público da classe D e E, que sempre me deu muito suporte em termos de audiência, hoje é um grande consumidor. Com a estabilidade do real, essa gente pôde ter acesso a determinados produtos do supermercado que não tinha antes. Então, acho que estou falando com todos públicos – claro, um pouco menos na classe A, predominantemente na C e D – mas tenho classe B, que é o que move o Brasil. No topo da pirâmide está a classe A, depois vem a classe B, mas o topo é a classe C, D. Eu falo bem com esse público.
M&M – Como estão atualmente os seus negócios além dos programas de TV, a GGP e a Promoart?
Liberato – Fechei a produtora. A gente ia fazer dela (da GGP) uma central da televisão. No momento em que vendi as retransmissoras, a produtora deixou de ter sentido em existir. Continuo com a Promoart, que é simplesmente uma agência que cuida dos assuntos de Gugu. Há muitos anos que não empresaria outros artistas.
M&M – Qual o seu plano para o Programa do Gugu?
Liberato – Dedicação total. É Casas Bahia, dedicação total a você (risos)
Liberato – Com certeza. Nós acreditamos que a médio ou longo prazo isso possa acontecer. Ficamos outro dia 50 minutos acima da Globo, acima do Fantástico. Tudo são acertos. A gente tem de achar o caminho certo. E está havendo uma pulverização da audiência, que nos ajuda também. Porque quando você tem uma grande emissora monopolizando (a audiência) com índices altíssimos, como acontece com as novelas, por exemplo, é difícil encostar. O Fantástico tem gente muito competente e se recicla. Mas tem o desgaste de estar a 35 anos no ar com o mesmo formato. A gente pega uns momentos de deslize e tenta chegar lá.
M&M – Essa estratégia do horário pode ajudar rumo à liderança?
Liberato – Sou uma pessoa maleável em termos de horário. Acho que o programa que a gente faz dá certo às 20h, dá certo às 19h, no horário que eu tinha antes que era 18h30. É um programa que está preparado para esse horário. Se um dia eu precisar fazer programa como já fiz ao meio dia eu sei o que colocar. Ao meio dia é um público, às quatro horas é um outro público, por causa do futebol da Globo. A partir das seis é quando a família se reúne de novo. De manhã temos um público infantil. Ao meio-dia a dona de casa está com a TV ligada, mais ouvindo do que assistindo. Às quatro o homem toma conta da televisão, quando tem um jogo importante. E à noite a família está toda junta de novo.
M&M – O Programa do Gugu tem quadros de cunho assistencialista, que dão dinheiro, ajudam a reconstruir a casa…
Liberato – É uma tendência mundial. Você vê a Oprah (Oprah Winfrey, popular apresentadora de TV norte-americana). Hoje ela faz isso de forma perfeita. Não é à toa que ela é a mais importante, a mais bem paga e a maior do mundo. E depois nós temos na TV americana mesmo o Extreme Makeover (programa que promove total reformulação no visual do participante) e outros segmentos desse tipo.
M&M – A Oprah é uma referência para você?
Liberato – É. Acho que ela faz coisas maravilhosas nesse segmento. E não só isso. Outro dia ela entrevistou a Whitney Houston e foi uma entrevista fantástica, que ela conduziu com uma maestria extraordinária. Ela é uma referência, sim.
M&M – Como consumidor de mídia, o que você vê, do que gosta?
Liberato – Vejo muito tudo. TV aberta, cabo, internet então nem se fala. Agora tenho um blog no R7, nunca tinha feito blog, não tenho Twitter, não tenho Facebook ou Orkut. Mas essa oportunidade que o R7 me ofereceu de ter um blog está sendo para mim uma experiência extraordinária. E saber que o número de acessos é impressionante. No blog todo já temos 5,5 mil comentários, e estreamos há nove dias. Em termos de mídia, gosto de ver tudo, tiro idéias, a internet é uma ferramenta maravilhosa.
M&M – Na TV aberta tem alguma coisa em especial que você goste?
Liberato – Eu gosto de tudo. Tenho uma certa dificuldade em ver novela, porque ela tem um tempo. Gosto muito de ver os noticiários. Mas acho que eles vão ter problemas futuramente, porque a internet está tomando conta dessa parte. Você vê determinado assunto na televisão, mas depois tem de entrar na internet para se aprofundar. O noticiário vai ter de ser muito rápido no futuro. Por isso a Record está certa em lançar o R7.
M&M – E por que essa recusa em participar das redes sociais?
Liberato – Ainda estou aprendendo a colocar foto no meu blog (risos).
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