31 de dezembro de 2013

ENCONTRO DO SÉCULO - Cap 159 e 160

< Web Novela de MARCOS SILVÉRIO>

No capítulo anterior...
Beija revela tudo que o Ouvidor já lhe fez no passado
Veridiana ameaça agredi-la, mas as escravas defendem a patroa
Beija manda Veridiana confirmar o que disse com seu marido
No dia seguinte Beija envia flores para Veridiana
Mas embaixo das rosas há estrume de gado e ela fica furiosa
Motta proíbe a mulher de procurar sua ex-amante
Nasce Pedro Antonio, o filho de Beija

CAP. 159

Beija contempla o bebê por alguns instantes, enquanto as escravas, parteira e o médico observam a tudo emocionados, até que alguém rompe o instante de magia.

SEVERINA: A Sinhá vai mesmo colocar o nome do sinhô Antonio Sampaio no bebê?
BEIJA: Sim, vou. É uma homenagem a Antonio. O sonho dele era ter um filho homem.
SEVERINA: E D. Pedro, o que vai dizer se ficar sabendo disso?
BEIJA: Pedro nem sabe da existência de Antonio. Para ele é apenas um nome como outro qualquer. Além do mais, esse filho é meu. Já que Pedro não vai assumi-lo, não poderá dar nenhum palpite, nem mesmo em seu nome.

UM ANO DEPOIS...

Severina chega apressada aos fundos da casa, onde Beija brinca com a criança no balanço pendurado numa frondosa mangueira.

SEVERINA: Sinhá, corre aqui. D. Pedro está na sala e quer falar com a Sinhá.
BEIJA: Pedro? Mas o que ele pode querer aqui? (pensa alguns instantes) Tome, segure Pedrinho para que eu vá até lá. Mas não o deixe ver o menino, de jeito nenhum! Entendeu?
SEVERINA: Nhá sim.

Corta para a sala.

BEIJA: Pedro? Fiquei admirada quando Severina disse que estava à minha procura. O que quer aqui?
PEDRO: Eu precisava lhe ver. Não agüento mais viver longe de você, Beija. Não estou suportando mais a sua ausência.
BEIJA: Pedro, meu caro, nos separamos há quase um ano e meio e ainda não superou isso?
PEDRO: Infelizmente não. E acho que não vou superar nunca. Não tem um dia que não pense em você, que não sinta a sua falta e que não deseje estar a seu lado.
BEIJA: Mas você é um homem casado, tem sua esposa. Ela não lhe serve, não lhe faz companhia? Não satisfaz seus desejos de homem?
PEDRO: Ela tenta, mas a verdade é que não me satisfaz. Não há mulher tão boa na cama quanto você, Beija. Isso nenhum homem consegue esquecer. Mas não é só isso, tem a companhia, o carinho, o afeto... Não posso ter isso num casamento arranjado, contratado através de um documento...
BEIJA: Pedro, mas você há de concordar que não tenho nada a ver com isso. A escolha foi sua.
PEDRO: Você sabe que não. Foi imposição de meu pai. Já lhe disse isso uma dezena de vezes.
BEIJA: Eu sei, mas indiretamente a responsabilidade é sua. O que estou querendo dizer é que não há nada que eu possa fazer para resolver o seu problema.
PEDRO: Há sim, Beija, e você sabe muito bem o que é. Fique do meu lado. Nós éramos tão felizes, nos entendíamos tão bem na cama... Porque não podemos ficar juntos novamente? Eu sei que você me ama, por mais que se faça de indiferente. Sei que isso é apenas para se vingar de mim, mas no fundo você ainda me ama. Tenho certeza que foi muito feliz nos meus braços...
BEIJA: Sim, tudo isso é verdade. Mas sofri muito quando me abandonou. Nosso romance nunca terá um final feliz como os outros. E você sabe muito bem disso. Além do mais tenho outros planos.
PEDRO: Planos? Que planos?
BEIJA: Vou abrir a chácara ao público. Vou receber cavalheiros dispostos a pagar caro por lazer de alto nível. Minha fama de prostituta não se espalhou pela Corte? Pois bem, a partir de agora serei o que dizem que eu sou: uma prostituta.

Continua...

< Web Novela de MARCOS SILVÉRIO>

No capítulo anterior...
Nasce Pedro Antonio, o filho de Beija
Um ano se passa
Apaixonado, Pedro não resiste e procura Beija
Ela o recebe com indiferença
Pedro propõe que reatem o relacionamento
Beija avisa que vai abrir a chácara para receber amantes

CAP. 160

PEDRO: Beija, você enlouqueceu de vez? Em outras palavras, vai transformar esta chácara num bordel?
BEIJA: Exatamente. Porém um bordel refinado, para pessoas de bom poder aquisitivo e que estejam dispostas a gastar.
PEDRO: Não posso acreditar nisso que estou ouvindo...
BEIJA: Pois acredite. Em breves dias saberá da inauguração do estabelecimento.
PEDRO: Mas, Beija, você é conhecida na Corte, tem uma legião de admiradores. Se quiser pode se casar com qualquer um desses barões ou viscondes por aí. Muitos deles dariam suas fortunas por você. Não seria mais prático arrumar um casamento do que se meter nesta vida de aventuras de que está falando?
BEIJA: O casamento não foi feito pra mim, Pedro. Todas as vezes que tentei ser correta, ser uma mulher normal, como todas as outras, fui rechaçada. Parece que o destino conspira contra mim. Desisti de remar contra a maré. Se o destino me quer como uma cortesã, é isso que serei a partir de agora. Se o povo adora falar de mim, pelo menos agora terá motivos.

Sem palavras, o Príncipe anda de um lado para outro da sala.

PEDRO: Beija, não cometa esse desatino. Você tem um filho dentro de casa, uma criança que vai crescer e não pode crescer num ambiente desses.
BEIJA: Fique tranqüilo, Pedro. Se sua preocupação é esta, meu filho será criado longe de tudo isso. Minha casa na cidade será uma residência de respeito. Nenhum ato, ou nada que comprometa a educação do meu filho acontecerá ali. Para isso tenho a chácara, onde os clientes serão recebidos com toda liberdade. Com algumas regras, é claro.
PEDRO: E eu, como fico nessa história?
BEIJA: Você ficará quietinho no seu palácio cuidando da sua esposa e dos negócios do reino.
PEDRO: Beija, não faça isso. Morro de ciúmes de você...
BEIJA: Precisa superar. Nossas vidas seguiram caminhos diferentes. Quando vai compreender isso?
PEDRO: Não adianta falar, não é? Tem a cabeça dura feito a pedra do Pão de Açúcar. No fundo acho que faz isso só mesmo para se vingar de mim. Já lhe disse uma dezena de vezes que só me casei por imposição de meu pai. Não amo Leopoldina e acho muito difícil vir a amar algum dia... É a você que amo, Beija...
BEIJA: Me ama, mas se casou com a outra. Bela demonstração de amor essa, Pedro. Entenda uma coisa: você fez sua escolha e seguiu seu caminho. Agora me deixe seguir o meu em paz!
PEDRO: Eu desisto! Como é cabeça dura essa mulher! Desisto!

Semanas depois...

Uma luxuosa festa marca a inauguração da Chácara Cedro. Ali estão dezenas de títulos de nobreza. Homens da mais alta sociedade carioca, do governo, da música, das letras e da política, todos ávidos de curiosidade, na maior expectativa por qualquer detalhe. Criou-se um mistério tão grande que esta inauguração se tornou o evento do ano. Dentre os antigos conhecidos estão o Visconde de Perdizes e João Carneiro de Mendonça.

Beija desce as escadas com um lindo vestido azul turquesa, da mesma cor de seus olhos. Um “ooooohhhhhh” ecoa pelo salão. Cavalheiros pasmos de admiração.

BEIJA: Boa noite, cavalheiros. Como é do conhecimento de todos, foram chamados aqui para a inauguração da Chácara Cedro, casa esta que será um marco na história do Rio de Janeiro...

Continua amanhã às 21:00 horas...

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