< Web Novela de MARCOS SILVERIO>
No capítulo anterior...
Pedro se diverte na companhia de mulatas numa taverna
Moisés e Josué assistem a tudo admirados
Os escravos contam a Severina o que presenciaram
Severina resolve revelar tudo para a patroa
CAP. 113
BEIJA (admirada): O que está me dizendo, Severina? Pedro anda me traindo?
SEVERINA: É isso mesmo, Sinhá. Anda passando noitadas nas tavernas da cidade, no desfrute com as fregas*.
BEIJA: Não é possível! E quem lhe contou isso?
SEVERINA: Moisés e Josué já se esbarraram com Sua Alteza nesses lugares...
BEIJA: Mas Pedro, em ambientes freqüentados por negros e escravos?
SEVERINA: É desses lugares que o Príncipe gosta, Sinhá.
BEIJA: Meu Deus! Um homem tão requintado e fino? Não é possível...
SEVERINA:
Ontem mesmo, depois que a Sinhá o mandou embora, ele foi para a Taverna
do Juvenal. Moisés e Josué viram e me contaram. E esta não foi a
primeira vez, já houve outras...
BEIJA: Mas vocês tinham de ter me dito isso antes... Assim teria argumentos ontem...
SEVERINA: Pensei muito antes de contar isso. Não queria fazer nada que prejudicasse a minha Sinhá.
BEIJA: Obrigado pela lealdade, Severina.
SEVERINA: E agora, o que a Sinhá pretende fazer?
BEIJA:
Por enquanto nada. Saberei usar essa informação na hora certa. Os
homens são infiéis desde que o mundo é mundo, Severina. E se você quiser
conviver com eles, tem de saber lidar com isso.
SEVERINA: E quanto a Moisés e Josué?
BEIJA: Diga a eles para continuarem de olho, mas sem levantar suspeitas.
Beija
fica pensativa enquanto Severina faz longas tranças em seus cabelos. Em
seguida, graças à habilidade da serviçal, se transformam num coque,
arrematado por bela tiara de turmalinas azuis, como os lindos olhos da
patroa.
Mais tarde, na cozinha...
BEIJA:
Severina, diga a Moisés que prepare a charrete. Vamos dar uma volta
pela cidade. Quero rezar e dar umas esmolas na Igreja de Santo Antonio
dos Pobres. Faz tempo que não visito Padre Estevão.
SEVERINA: Nhá sim.
Na saída do templo, Beija distribui moedas aos pedintes, cumprimenta os deficientes, em companhia do vigário.
PADRE: Muito generoso de sua parte vir dar esmolas na nossa igreja.
BEIJA: Deus me deu muito, Padre. Tento doar um pouquinho a estes infelizes.
PADRE: Que o Senhor a abençoe, minha filha.
A certa distância o Ouvidor Motta a tudo observa, estático.
Beija o percebe. Seus olhares se cruzam por longos instantes.
Continua...
_____
* Frega: o mesmo que prostituta. A palavra era muito usada nos sertões das Minas Gerais à época.
< Web Novela de MARCOS SILVÉRIO>
No capítulo anterior...
Severina revela à patroa que Pedro a trai com prostitutas
Beija admira que o Príncipe freqüente lugares tão populares
Beija admira que o Príncipe freqüente lugares tão populares
A escrava pergunta o que pretende fazer
Ela diz que guardará a informação para usar na hora certa
Beija vai à igreja e se defronta com o Ouvidor Motta.
CAP. 114
Depois
de alguns instantes, Motta dá um passo, na intenção de ir ao seu
encontro, mas Beija desvia o olhar, vira de costas e caminha para a
charrete. Motta desiste.
Moisés toca para a Rua da Alfândega.
SEVERINA: Porque a Sinhá não quis falar com o Dr. Motta?
BEIJA:
Aqui não é o lugar adequado. Certamente Motta vai me encher de
perguntas, vai se alterar e não quero passar por um constrangimento
desses no meio da rua. Se bem o conheço, deve estar furioso comigo...
Motta não suporta ser contrariado.
SEVERINA: Mas do jeito que saímos, dá a impressão que a Sinhá está fugindo dele.
BEIJA: Não tenho o hábito de fugir de nada, Severina. Só adiamos este encontro para um lugar e ocasião mais propícios...
Nos estábulos da Quinta da Boa Vista, Pedro escova um cavalo, sob olhar admirado do soldado.
Chalaça se aproxima. Pedro entrega a escova ao soldado.
PEDRO: Toma, faça direito agora. Já lhe ensinei.
O Príncipe acompanha o amigo.
CHALAÇA: Percebi que chegou tarde esta noite... Algum problema?
PEDRO: Tive uma discussão com Beija, e acabei dispensado. Resolvi dar umas voltas na Taverna do Juvenal...
CHALAÇA: Taverna do Juvenal? Sei... Negras... Mulatas... Sexo...
PEDRO: É, precisava me aliviar. E você sabe muito bem que nada melhor para relaxar um homem do que uma boa noitada de sexo.
CHALAÇA: Posso saber o motivo da discussão?
PEDRO: Encontrei Beija abraçada com aquele amiguinho dela, o João Carneiro de Mendonça...
CHALAÇA: Sabes muito bem que mulher não tem amigo...
PEDRO:
Também penso assim, mas depois acabou me convencendo... Beija conhece o
sujeitinho desde a infância nas Minas Gerais. Parece que são amigos
mesmo. Mas sei que ele arrasta correntes por ela... Concordou em me
perdoar, desde que peça desculpas ao camarada.
CHALAÇA (irritado): Pedir desculpas? Era só que faltava. Não te disse? Beija mal te conhece e já quer mandar em você... Abra o olho, Pedro...
Corta para o sobrado da Rua do Ouvidor. Bate à porta. Severina atende.
OUVIDOR MOTTA: Dona Beija está?
Continua amanhã...
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