26 de novembro de 2013

ENCONTRO DO SÉCULO - Cap 99 e 100


No capítulo anterior...
Motta confessa a Perdizes que Beija manchou sua honra
Chalaça, que chega ao local, se esconde e fica ouvindo a conversa
Motta prossegue, contando que Beija o humilhava perante estranhos
Na sua ausência recebia amantes em troca de dinheiro, ouro e jóias
O Ouvidor lamenta que tenha se tornado motivo de chacota
Perdizes pergunta por que motivo suportou tudo isso

CAP. 99

MOTTA: Paixão, meu amigo. Paixão. Beija sabe como envolver um homem até deixá-lo louco a ponto de perder a noção de tudo. De valores, de pudores, de senso de ridículo... Apaixonei-me de tal forma que a única coisa que queria era estar a seu lado e desfrutar de sua companhia. Algo que de tão forte, se tornou uma paixão doentia, incontrolável...
PERDIZES: Mas como é possível sentir prazer em companhia de uma pessoa que te causa tantos constrangimentos.
MOTTA: Beija é astuta. Eu não te disse? Sabia envolver, ser dócil e amável nas horas certas. Quando quer, pode ser a melhor companhia do mundo. É cínica, dissimulada, engenhosa, prudente como a serpente. Cada movimento dela é meticulosamente planejado, compreende?
PERDIZES: Em partes.
MOTTA: Quando me via nervoso, a ponto de cometer um desatino, lá vinha ela, doce e cheia de candura como um anjo de luz. Enchia-me de mimos, de agrados, de carinho e afeto. Quando estava completamente entregue em seus braços, aí destilava o seu veneno...
PERDIZES: Mas o que esta mulher tinha de tão especial que lhe cativava tanto?
MOTTA: Apesar de tudo devo admitir que Beija é um  poço de qualidades e virtudes. Mas talvez seu maior trunfo seja a habilidade na cama. Nunca em minha vida, e olha que tenho mais de cinqüenta anos, nunca tive uma mulher tão completa e habilidosa no sexo. Completamente despudorada e livre de complexos, Beija é capaz de levar um homem à loucura na cama... Ali, naquele corpo habitam Deus e o diabo... Os deuses da virtude e os diabos da luxúria.
PERDIZES: Mas em meio a tanta confusão, como conseguiu suportar isso por dois anos?
MOTTA: Nem eu sei... Talvez na esperança de que Beija tomasse juízo, caísse em si e percebesse que sua vingança contra mim não a levaria a nada... Que aquela tragédia do passado poderia ser superada construindo um novo futuro. Mas Beija se recusava a aceitar essa hipótese. Por isso, quando D. João VI me acenou com a possibilidade de retornar ao Rio de Janeiro, não pensei duas vezes, aceitei de pronto. Era a chance que tinha de romper com aquele ciclo vicioso de brigas e confusões. Precisava sair daquele inferno que se tornou a minha vida.
PERDIZES: Meu amigo, não sei nem o que lhe dizer...
MOTTA: Amava Beija acima de tudo. Seria capaz de qualquer coisa por ela. Mas por fim, percebi que meus esforços eram inúteis. Que não poderia remar contra aquela maré de ódio e desejo de vingança... Fui tragado pelas ondas...

Chalaça continua escondido, imóvel, ouvindo cada palavra da conversa com a máxima atenção. Vez ou outra um sorriso sarcástico brota no canto de sua boca, como se sentisse prazer na desgraça do outro, ou como se tivesse um bom plano em mente para tirar proveito das confissões que acabara de ouvir.

Continua...

< Web Novela de MARCOS SILVÉRIO>

No capítulo anterior...
Perdizes pergunta como Motta suportou o confuso relacionamento
O Ouvidor confessa que foi movido por uma paixão doentia
Ele detalha as artimanhas de Beija para mantê-lo apaixonado
Motta reconhece os muitos valores e virtudes da ex-amante
Também acredita que o maior trunfo dela seja a habilidade no sexo
Chalaça permanece imóvel, ouvindo cada detalhe da conversa

CAP. 100

Considerando ter ouvido o suficiente, Chalaça se retira, sorrateiramente, sem que seja percebido por Motta ou Perdizes.

QUINZE DIAS DEPOIS...

Pedro e Beija jantam. Mais tarde, na cama, tomam um vinho e conversam descontraidamente.

BEIJA: Você me daria o prazer da sua companhia amanhã? Quero que conheça a Chácara Cedro. Além do mais você é homem, pode me dar uns bons palpites na reforma que pretendo fazer lá.
PEDRO: Claro, meu amor. O que me pede que não faço? Meu dia será todo seu e que se danem os compromissos da coroa! Não estou nem aí para o reino e seus súditos! Quero apenas desfrutar de um dia em companhia da minha amada. O Reino que me perdoe...
BEIJA: Muito bom, meu Príncipe! Gostei da ousadia... (se beijam)
PEDRO: Em breve quero lhe apresentar à Corte. Só eu venho aqui. Você ainda não conhece a minha casa, a minha família. Vai adorar a Quinta da Boa Vista. Sei que aprecia plantas e lá tem espécimes raros, vindos do mundo inteiro. Os jardins são enormes, a perder de vista. Vista esta que é maravilhosa... Dá pra ver o Rio de Janeiro inteiro... O casarão é amplo, espaçoso, tem muitas obras de arte, esculturas, quadros, gravuras. Meu pai é apaixonado por livros. Temos uma biblioteca imensa... Posso garantir que nunca viu uma tão grande assim...
BEIJA: É um sonho, Pedro, conhecer o seu palácio. Se puder me proporcionar isso, serei eternamente grata.
PEDRO: Aliás, por falar em livros, como andam os seus estudos? Está se entendendo com o professor que lhe enviei?
BEIJA: Maravilhosamente bem. Mestre Serafim é um amor de pessoa. Tem uma paciência comigo... Já consigo escrever meu nome e arrisco até algumas palavras... Está sendo a experiência mais maravilhosa da minha vida. Não sei nem como lhe agradecer...
PEDRO: Não precisa agradecer. Quero apenas que aproveite a oportunidade. Quero também que me faça muito feliz, como já me faz desde o instante em que bati os olhos em ti...
BEIJA: Como é galante o meu Príncipe... (se beijam).
PEDRO: Dias atrás, no baile do Visconde de Perdizes, aquele que você não foi porque estava com enxaqueca, um amigo confidenciou-me que conheceu uma mulher que foi a desgraça da vida dele. Fiquei pensando: “pobre Motta, porque não teve a mesma sorte que eu, a sorte de conhecer Beija? É a mulher mais encantadora que o sol alumia”...

Beija fica estática.

Continua amanhã...

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