
Para o antropólogo Néstor García Canclini, especialista em globalização e um dos principais teóricos da comunicação na América Latina, as redes de televisão tratam o telespectador adulto como uma criança de seis anos.
Canclini proferiu ontem em São Paulo a palestra "Redes Sociais, Internet e Cultura Digital", que abriu o cliclo de seminários "Produção, Distribuição e Consumo Cultural: A Indústria Cultural do Século 21", projeto do Ministério da Cultura realizado pela Escola da Cidade (faculdade de arquitetura e urbanismo).
Na palestra, o intelectual argentino radicado no México contou que nos anos 1980 os estudiosos de televisão afirmavam que o veículo tratava o público como alguém de 12 anos. Recentemente, Canclini foi convidado a participar de um programa de TV. Nos bastidores, foi advertido de que não falaria para um público acadêmico, como estava acostumado, e orientado a pensar que lidava com pessoas de seis anos.
Após a palestra, o blog de Daniel Castro perguntou a Canclini se ele concordava com a afirmação de que a televisão trata seu público como uma criança. "Por que não, se são eles [da televisão] que estão dizendo?", respondeu.
Canclini é autor de diversos livros, entre eles Culturas Híbridas - Estratégias para Entrar e Sair da Modernidade, uma análise da cultura na América Latina, e Consumidores e Cidadãos - Conflitos Multiculturais da Globalização, em que aponta mudanças provocadas pela televisão.
Na palestra de ontem, Canclini demonstrou preocupação com o alto índice de desemprego entre os jovens, o que os exclui do consumo cultural "localizado" (o realizado no cinema, teatro, livraria etc.). O desemprego e o trabalho informal e/ou ilegal, somados ao avanço da "cultura digital" (a cultura consumida na internet, como o download de vídeo e música), criaram, de acordo com Canclini, um cenário de "precariedade".
Para o professor, a globalização e a internet levaram as pessoas a passarem de um ambiente de "convivência" para um ambiente de "supervivência", referindo-se à troca dos encontros físicos, reais, pelas "amizades" nas redes sociais (Twitter, Facebook).
"Como ser criativo em uma sociedade precária?", questionou.
O ciclo "Produção, Distribuição e Consumo Cultural: A Indústria Cultural do Século 21" segue com mais seis palestras, sempre às quartas-feiras, a partir das 18h30, até 17 de novembro.
Fonte: R7/Blog do Daniel Castro.
Foto: Google.





Um comentário:
Adorei o texto!
Li muito Canclini em meu mestrado e não fico surpreso com a colocação de que, ao invés de 12 anos, a TV trata TODAS as pessoas como se tivessem 6.
Não que as crianças não sejam inteligentes, mas acredito que o sentido esteja relacionado com as possiblidades de abstração que são encontradas apenas alguns anos mais tarde...
http://felipedesouza-psicologo.blogspot.com/
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