23 de novembro de 2009

ENCONTRO DO SÉCULO - Cap 13

No capítulo anterior...

- Severina tenta encorajar a patroa

- Beija se despede dos pobres e necessitados da Paróquia

- Numa encruzilhada a comitiva para e Beija terá de decidir: Rio de Janeiro ou Araxá?


CAP. 13


MOISÉS: E intão, Sinhá, pra onde vamo?

BEIJA (respira fundo): Para São Domingos dos Arachás, Moisés. Foi lá que cresci, e é lá que vou reconstruir minha vida. Padre Melo Franco tinha razão: na Corte, sem a proteção de Motta, seria apenas mais uma. (confiante) Em Araxá será diferente...

SEVERINA: Que bom que a Sinhá tenha tomado essa decisão.

BEIJA: Mas não pense que foi fácil... Eu tinha muitos planos para a Corte.

SEVERINA: Quem sabe um dia? A minha Sinhá pode tudo!

BEIJA (interrompendo): Toca, Moisés, antes que eu mude de idéia.


O escravo ordena aos carreiros que sigam em frente. Beija fixa seu olhar na estrada que conduz ao Rio de Janeiro e seu pensamento parece viajar longe... Severina percebe e abraça a patroa, apesar dos solavancos da carroça.


Poucos dias depois a comitiva se aproxima de Araxá. Do alto do morro do Lava-Pés já é possível avistar alguns telhados, ainda bem distantes...


BEIJA (empolgada): Ai que saudades do Araxá... Como é bom rever este lugar! (para Moisés) Quero que pare no riacho para tomarmos um bom banho e vestirmos roupas limpas. (para Severina) E você fará um belo penteado no meu cabelo. Não quero chegar ao arraial toda descabelada...

SEVERINA: Como é bom ver a Sinhá animada assim...

BEIJA: Como me disse Padre Melo, a vida continua. Seja o que for que nos aconteça, não podemos nos entregar.


Conforme o previsto, os carros e muares param nas margens do Ribeirão do Lava-Pés. Beija ordena que os homens sigam para uma área afastada rio abaixo e ali tomem seu banho.


BEIJA: E só voltem quando eu ordenar!


Severina ajuda a patroa a tirar o vestido e as anáguas. Beija se submerge, nua, e vem à tona, mostrando todo o esplendor de sua beleza aos 17 anos de idade. Severina ensaboa sua ama, que se delicia com o banho.


SEVERINA: A Sinhá parece um pato nessa água...

BEIJA: Uma das coisas que mais sentia falta em Paracatu era das águas do Araxá. Não sei explicar, mas essas águas têm algo de milagroso... Sentia falta das águas do Barreiro, da lama...

SEVERINA: Agora a Sinhá terá tudo isso de volta.

BEIJA: Por mim ficaria nessa água o dia todo. Mas é melhor nos apressarmos, todos estão impacientes para chegarmos logo.


Uma hora e meia hora se passou e quando Severina ajuda Beija a se vestir, um estranho se aproxima, à cavalo.


SEVERINA: Sinhá, vem vindo alguém aí...


Continua amanhã...



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