21 de novembro de 2009

ENCONTRO DO SÉCULO - Cap 12

No capítulo anterior...

Beija aceita as condições do Ouvidor e se torna “esposa” dedicada

O casal vive dias de harmonia e o jantar de despedida é um sucesso

Padre Melo Franco comunica que já vendeu as terras de Beija

O Ouvidor parte com sua comitiva

Beija teme por seu futuro sem a proteção do Ouvidor


CAP. 12


Severina abraça a patroa e a consola.


SEVERINA: A Sinhá não tem o que temer. Hoje é uma mulher rica e todo mundo respeita o dinheiro, a posição social.

BEIJA: Tomara que você esteja certa, Severina, tomara. Motta também me disse a mesma coisa, mas tem horas que fico tão insegura...

SEVERINA: Eu estarei sempre do seu lado, Sinhá e não deixarei que ninguém lhe faça mal... E agora vamos, que precisamos arrumar nossa mudança também...


UMA SEMANA DEPOIS...


A mudança está toda acomodada nos carros de boi. Apenas alguns objetos de uso necessário ainda estão dispersos. Uma pequena fila de pessoas necessitadas se forma na porta do palacete. Beija e Severina comandam a distribuição das trouxas de roupa, de gêneros alimentícios e também de alguns objetos do palacete.


CLARA: Eu não tenho palavras para agradecer a Dona Beija. Nunca tive em toda a minha vida roupas tão belas quanto estas... Dona Beija é uma santa...

BEIJA: Não diga bobagens, dona Clara... O que Deus nos deu é para distribuir com OS irmãos...

SEU JOSÉ: Não sei o que seria da minha família se não fosse Dona Beija...

BEIJA: Agradeça a Deus, seu José, sou apenas um instrumento nas mãos dele...


Beija é extremamente caridosa e não abre mão de ajudar aos necessitados. Por isso toda esta comoção na despedida. Mas antes de partir, ainda faz questão de ir às escadarias da matriz, se despedir dos cegos, coxos e aleijados da Paróquia.


BEIJA (aproximando-se de um aleijado): Eu não poderia partir sem antes me despedir dos meus grandes amigos.

TIÃO: Quanta honra, Dona Beija, quanta honra...

BEIJA: Honra deve ser dada a Deus e à Sant’Anna, Tião. Reze muito para eles...


Mais adiante...


SEVERINA: A Sinhá não vai se despedir do Cego Jó?

BEIJA (olhando à volta): Ele não está por aqui... Onde se meteu?

SEVERINA (olhando ao longe): Lá está ele, Sinhá, lá na frente, embaixo da gameleira.

BEIJA: Vamos até lá...


Ao se aproximar, se surpreendem com a atitude do velho homem.


(com voz embargada): Eu num quiria vê a partida de Dona Beija... Nossa vida nunca mais será a mesma sem a Sinhá... E agora, quem vai dá esmola?

BEIJA (sem conseguir conter as lágrimas): Jô, lhe agradeço muito pela consideração. Que Deus o abençoe e envie outras almas bondosas para cuidar de vocês.


Beija deixa uma pequena fortuna com Padre Melo Franco e ordena que distribua entre os deficientes da paróquia, dividindo tudo em pequenas parcelas semanais.


Na madrugada seguinte a comitiva parte. Depois de cinco dias de viagem o comboio chega a uma encruzilhada.


MOISÉS: Sinhá, seguindo em frente vamo pra São Domingo dos Arachá. Pegando a estrada da esquerda vamo para o Rio de Janeiro. Pra onde a Sinhá qué ir?


É chegada a hora da decisão. Beija fita Severina, sem responder...


Continua segunda-feira...



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