14 de novembro de 2009

ENCONTRO DO SÉCULO - Cap. 6

No capítulo anterior...

- Severina tenta explicar ao patrão a ausência de Beija

- A patroa aparece a tempo de se explicar

- Beija acredita no amor de Antonio Sampaio e cogita voltar para Araxá

- Motta conversa com substituto. Falam de Beija na Corte. Ela os surpreende


CAP. 6


BEIJA: Senhores, permita-me interrompê-los, mas o jantar está servido...

MOTTA: Obrigado, Beija, já estamos a caminho.

BEIJA (percebendo o constrangimento deles): Espero não ter atrapalhado a conversa...

MARTINS: Imagine, Dona Beija, falávamos de política, de rotina... Coisas absolutamente sem importância...

BEIJA: Mas política é muito importante. É um de meus assuntos prediletos... Pena que a oportunidade não nos permita...

MARTINS: Realmente, é uma pena. Mas espero ter outras oportunidades para conhecer o que pensa Dona Beija... Soube até que a senhora alterou o mapa das Minas Gerais...

BEIJA: O povo diz isso, mas Motta poderá lhe explicar melhor...

MOTTA (se desvencilhando): Em outra oportunidade, certamente...

BEIJA (retirando-se): Cavalheiros, não se demorem...


Beija encosta a porta e volta para o salão, para orientar os escravos no serviço de mesa. Sua passagem desperta a atenção de duas senhoras, esposas de funcionários da Ouvidoria.


CATARINA (em tom baixo): Você acha mesmo que o Ouvidor vai levar Beija para a Corte?

DIVINA: É o que estão dizendo na Ouvidoria... Não se fala em outra coisa...

CATARINA: Mas e o Príncipe? Todos dizem que não pode ver um rabo de saia... Quando ver Beija...

DIVINA: Bobagem, Catarina... Beija só é o que é aqui, porque é a “Moça do Ouvidor”. Lá será apenas mais uma... Uma entre tantas fregas da Corte...

CATARINA (temerosa): Cuidado, mulher, veja o que fala...

DIVINA: E não é essa a verdade? Beija não passa de uma frega, uma quenga, rapariga... Com a diferença que é sustentada por um homem importante e vive num palacete. Não precisa enfrentar a dureza da Rua da Lama, mas no fundo são todas a mesma coisa...

CATARINA: Será que o Ouvidor vai sustentá-la na Corte também?

DIVINA: Ao que tudo indica, sim... Só não sei como, porque o Ouvidor já confidenciou ao meu marido que a esposa dele é uma fera! Dizem que tem ciúmes até da sombra do marido...


Motta caminha para a cabeceira da mesa, de braços dados com Beija. Todos percebem e voltam suas atenções para eles.


MOTTA: Senhoras, senhores, boa noite. Nosso muito obrigado por terem aceitado nosso convite. Depois de tantos anos vivendo neste arraial, vendo este salão lotado, posso concluir que fiz grandes e verdadeiros amigos. Mas, como tudo que é bom dura pouco, é com certo pesar que tenho de lhes comunicar o que a maioria já sabe: este é um jantar de despedida. Dom João VI exige minha presença na Corte e em alguns dias terei de partir.

DIVINA (interrompendo, com certo ar de veneno): Ouvidor desculpe interromper, mas e Dona Beija, também irá para a Corte?

MOTTA (incisivo): Não, dona Divina. Beija não irá para a Corte. Eu sigo sozinho e Dona Beija volta para São Domingos dos Arachás.


Beija arregala os olhos e sequer pode acreditar no que acabara de ouvir.


Continua segunda-feira...



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