< Web Novela de MARCOS SILVÉRIO >
No capítulo anterior...
Ao voltar da cidade Beija e seu escravo são atacados por um bando
Beija é espancada impiedosamente e fica desacordada na estrada
Chalaça avisa a Marquesa para se afastar de Moraes
O jovem Augusto é preso no quartel
Domitília e Moraes combinam de se afastar
Dois meses se passam
Ana Stanhouse procura Pedro, deixando-o intrigado
CAP. 215
PEDRO (curioso): Ana Stanhouse? Não me lembro de ter conhecido alguém com esse nome...
ANA: Se eu disser Ana Augusta Benfica, a monja portuguesa, isso te lembra alguma coisa?
Pedro pensa por alguns instantes, olha fixamente para a jovem senhora, anda de um lado para outro, pensa... Finalmente se lembra...
PEDRO: Nossa, mas eu era tão jovem... Um garoto na verdade. Não devia ter mais que quatorze anos...
ANA: Já que se lembrou, vamos direto ao assunto. Preciso da sua força e do seu prestígio. Meu filho Augusto está sendo perseguido no Exército. Ele é soldado, mas é um rapaz cheio de idéias liberais, abolicionistas e está sendo execrado por um oficial. Já esteve preso por duas vezes, acusado de incitar os colegas a se rebelarem contra os superiores. Preciso que tire o rapaz de lá antes que o pior aconteça.
PEDRO: Ana, entendo seus argumentos, mas o Exército é um terreno muito espinhoso. Qualquer atitude tem de ser muito bem pensada. Aquilo é um ninho de cobras. Hoje está do meu lado, mas ninguém sabe até quando.
ANA: Entenda o apelo de uma mãe desesperada. Vejo meu filho definhando naquela prisão. Precisa fazer alguma coisa. É o seu filho!
PEDRO: Meu filho?! Como assim? Estou ouvindo bem?
ANA: Sim, ouviu muito bem! Augusto é seu filho! Depois de grávida tive de abandonar a vida religiosa. Passei anos em Portugal, me casei com um inglês e depois da morte de meu pai voltei para o Brasil.
PEDRO: Meu Deus! Eu tenho um filho servindo ao Exército! Que coisa maravilhosa! (pausa) Fique tranquila. Tomarei todas as providências.
Beija passou os últimos dois meses de cama, banhada na água de sal para curar os ferimentos do chicote de rabo de tatu. Felizmente nenhuma cicatriz restou em seu corpo perfeito.
A chácara ficou fechada, sem festas, saraus ou mesmo felizardos para passar a noite. Somente Pedro frequentava a casa.
As investigações de nada adiantaram, até que um dia...
JOSUÉ (correndo, ofegante): Sinhá, o nêgo que bateu em nóis, Sinhá, ele tá lá na taverna! Eu lembro muito bem daquela cicatriz na cara do infeliz. É ele, Sinhá, eu tenho certeza!
BEIJA: Chame o delegado, corre! Nós estamos indo pra lá!
O delegado fecha o cerco na Taverna. Sem desconfiar de nada o negro com a dita cicatriz é preso e depois de muito castigo confessa que foi Domitília quem o pagou para surrar Beija.
Corta para o Tribunal.
Augusto é processado por insubordinação. Pedro assiste ao julgamento ao lado de Chalaça.
AUGUSTO: Não sei que crime pode haver em defender a liberdade! Sempre respeitei meus superiores e cumpri todas as ordens que me foram dadas. Que acusação recai sobre mim? Que ato de indisciplina cometi? Nenhum! Mas o maior dom de um homem é ser livre para pensar e compartilhar seus pensamentos. Não posso aceitar calado ser tolhido do meu direito mais básico. Autoridade é uma coisa, tirania é outra. Disciplina é uma coisa, coação é outra. Lealdade é uma coisa e subserviência é outra. Se não posso exercer meu direito à liberdade, é preferível morrer.
Os ministros se entreolham, admirados com as palavras do rapaz. Pedro sente-se orgulhoso do filho. Sorri para Chalaça.
PEDRO: Não sei por que, mas esse rapaz me enche de orgulho. É idealista, bravo, valente... Parece alguém que eu conheço... (e aos ouvidos do Marquês de Paranaguá) Absolvam este rapaz. Gostei dele (e sai)
Horas mais tarde na Fazenda Santa Cruz...
Pedro caminha na ponta dos pés, ouvindo gemidos que vêm do quarto do casal. Depara-se com Domitília e o tenente Moraes, completamente nus, fazendo sexo. Estado de Choque.
Continua...
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No capítulo anterior...
Pedro não se lembra de quem possa ser aquela mulher
Ana lembra o passado e revela a Pedro que Augusto é seu filho
Beija descobre que Domitília mandou lhe surrar
Augusto faz um discurso veemente contra o regime
O Imperador determina que os ministros absolvam o rapaz
Pedro flagra Domitília e Moraes na cama fazendo sexo
CAP. 216
PEDRO: Mas o que está acontecendo aqui?
MORAES (apreensivo): Alteza? Não... Não é nada disso... Não é bem/
MORAES (apreensivo): Alteza? Não... Não é nada disso... Não é bem/
PEDRO (cortando): Cala a boca e suma daqui, seu borra-botas! Meu assunto é com essa vagabunda aí!
Moraes se enrola no lençol e sai apressando apanhando algumas peças de roupa. Ao passar por Pedro, este lhe desfere um soco na cara.
PEDRO: Fique esperto, patife! (Moraes foge desesperado)
DOMITÍLIA (de joelhos): Pedro, por Deus! Pense bem no que vai fazer! Eu sou mãe dos seus filhos...
PEDRO: Agora se lembra deles, não é mesmo, sua ordinária? Eu devia era lhe encher a boca de bala! Mas não se preocupe que não vou fazer isso não... Não quero meus filhos órfãos no mundo. Apesar de ser uma safada, você é mãe deles...
Irado, Pedro pega Domitília pelos cabelos e começa a esbofeteá-la com violência.
DOMITÍLIA: Pedro, por Deus, acredite! Só fiz isso para chamar a sua atenção. Há tempos que você só dá atenção a Beija, é só com ela que conversa. Acredite! Queria chamar a sua atenção para ver o quanto lhe amo! Por Deus! Pare!
PEDRO (sempre esbofeteando): Deixa de conversa fiada! Eu lhe conheço muito bem. Beija pelo menos deita com todos, mas faz tudo às claras, nunca me enganou! Não é como você que tenta me apunhalar pelas costas! Vagabunda! Ordinária! Me traindo debaixo do meu próprio teto! Você não vale nada mesmo!
Pedro bate até perder as forças. Domitília fica estirada no chão, toda descabelada, em prantos.
Corta para um matagal, nos fundos do quartel.
O jovem augusto é trazido algemado e colocado de frente para o tronco de uma frondosa árvore. O pelotão toma posição a alguns metros com armas em punho.
CAPITÃO: Vire de costas, soldado. Será menos doloroso para você.
AUGUSTO (altivo e orgulhoso): Não! Quero ficar de frente, que é para olhar bem no fundo dos olhos dos meus algozes.
CAPITÃO: Você é quem sabe.
A alguns metros dali Ana Stanhouse se debate, contida por um grupo de soldados.
ANA (gritando, desesperada): Pelo amor de Deus! Não façam isso! É o meu filho! Ele não fez nada! Parem com isso pelo amor de Deus!
CAPITÃO (ignorando): Pelotão! Preparar! Apontar! Fogo!
Uma saraivada de tiros e jovem Augusto cai morto, com o corpo crivado de balas. A mãe se desespera. Cena dramática.
Corta para o gabinete do Imperador, algumas horas depois.
Doze ministros se entreolham assustados, diante da convocação extraordinária. Pedro, mudo na sua cadeira, visivelmente abalado, aguardando que o último adentre o recinto.
PEDRO (dirigindo diretamente): Paranaguá, o que foi que eu disse aos seus ouvidos ontem antes de me retirar do julgamento daquele rapaz?
PARANAGUÁ (apreensivo): Que absolvêssemos o rapaz.
PEDRO: E isso não foi feito por quê?
PARANAGUÁ: O coletivo de ministros optou por condená-lo. Eu dei o seu recado, Alteza, mas não quiseram me ouvir.
PEDRO (dirigindo a todos): Vocês sabem o que fizeram, senhores Ministros? Vocês mataram o meu filho! (um ooooohh apreensivo ecoa pelo recinto) É isso mesmo! Aquele rapaz que vocês condenaram ao fuzilamento era meu filho!
Instantes. As lágrimas começam a descer pela sua face. Pedro se descontrola. Ele começa a dar socos e pontapés nos ministros, enquanto os distrata.
PEDRO: Malditos! Mil vezes malditos! Vocês desobedeceram as minhas ordens! Me tiraram o prazer de conviver com o meu filho! Eu odeio vocês! Estou todos demitidos! Desapareçam das minhas vistas antes que eu os enforque com as minhas próprias mãos! Malditos! Idiotas! Imprestáveis!
Continua amanhã às 21:00 horas...
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